abril 21, 2009

TEXTOS SÃO NAVIOS

Nós somos cais, trapiches, embarcadouros. Os textos – contos, livros, poemas, falas, dicionários... – são navios. Partem dos cais em busca de outras terras, de outros trapiches, de outros cais. Sempre.

Depois de partirem, não temos mais como controlá-los. Navegam em mares calmos ou revoltos, enfrentam procelas, às vezes naufragam e voltam às ondas, mas seguem impolutos em busca de seus destinos.

Mesmo quando esse destino se faz de ilhas misteriosas, envoltas em brumas, nossos navios não desistem: arrebentam-se nos abrolhos e não batem nunca em retirada.

Transportam esses navios nunca fantasmas, sempre o nosso mais íntimo intuito de oferecer aos outros aquilo que nos arrebenta por dentro, quando não conseguimos enfurná-los em cascos e velas.

Mortais e estúpidos, não percebemos que esses navios não se perdem nunca. Ficam por aí, a assombrar, mesmo que não encontrem algum cais que os receba, porque são fruto de nossa mais lídima luta por marcar nossa existência. Mesmo que o vento os leve a regiões ignotas, só fato de terem zarpado já faz deles, dos navios que saem de nossos cais, um marco, um ponto que seja no horizonte azul.


Povoam nossos sonhos todos os atos de comunicação. Alcançamo-los quando menos esperamos, ao lançar nossas redes, através de sinais que nossas sinapses cerebrais captam, sem nos darmos conta. Assim, de repente, mesmo quando dormimos, sonhamos e repovoamos os mares, fazemo-los cúmplices de nosso destino de buscar sempre o outro.

Sim, são navios os nossos textos. Atiremo-los aos mares e aguardemos, com a íntima certeza (senão não lhes confiaríamos nossos segredos) de que há neles marinheiros prontos a lutar por não deixar que sigam vazios à procura de seus portos, de suas ilhas, de seus cais ou de seus continentes.

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