setembro 26, 2009

MARINA SILVA: GRANDE DAMA PARA UM PARTIDO SEM EIRA NEM BEIRA

Há já alguns anos, li algures uma entrevista de Marina Silva. Encantei-me com a história de vida da senadora; emocionei-me com suas palavras lúcidas e claras; impressionei-me com sua coerência. Enfim, fique fã de carteirinha de dona Marina Silva. Queria-a candidata à presidência (à época, Lula ainda não havia se lançado candidato, afinal vitorioso, no pleito seguinte).

Os anos passaram. Não fizeram diminuir minha admiração pela senadora e, depois, Ministra do governo Lula. Mesmo com altos e baixos no Ministério do Meio Ambiente, manteve sempre a postura de estadista, que ela é. Entrou no governo porque tinha competência para tal e saiu do governo porque quis, porque achou que se fechara um ciclo de vida, de trajetória. Coerente, muito coerente.

Bem, pensei muito antes de escrever o que se segue. Levei algum tempo matutando. Pensando na coerência de Marina Silva. Que ainda admiro. Mas...

Sair do Partido dos Trabalhadores, apesar de todo o destaque que a mídia deu, por motivos óbvios (afinal, tudo o que espicaça o PT é motivo de grandes manchetes) pode ainda ser considerado um sinal de coerência. Não saiu atirando, saiu porque viu diminuído seu espaço, talvez. Saiu porque precisava de novos ares políticos, de iniciar uma nova trajetória política. Todos têm o direito a mudar um pouco de ares. Isso não é incoerência. Mas...

Agora o Partido Verde, o PV. Não tenho antipatia pelos fundadores e participantes do Partido Verde. Até admiro sua coragem, seu denodo e... sua ingenuidade.

Porque aí é que está o nó da questão: o Partido Verde é uma agremiação ingênua, não no sentido político do termo, mas no sentido filosófico da idéia de um partido político de defesa do meio ambiente.

Explico: ser “verde”, ou seja, ser ecologista não é uma posição exatamente político-partidária. É, sim, uma posição política no sentido mais nobre do termo, de posicionamento na polis, hoje na República, na sociedade. E não depende da cor partidária de quem quer que seja. Há ecologistas, ou seja, defensores do meio-ambiente, da sustentabilidade, do progresso sem poluição, em todos os partidos. Basta procurá-los.

O movimento ecológico, principalmente diante da urgência da salvação do planeta, transcende cor partidária. Deve estar, e está, em muitos partidos que têm idéias políticas completamente divergentes na maioria dos assuntos de cidadania, mas que podem, e devem, acolher cidadãos com preocupação ambiental.

A existência de um partido verde, como a ser o único a erguer a bandeira ecológica, é, em minha opinião (modesta, muito modesta, aliás), um grande equívoco filosófico, portanto.

Já disse algures, e repito aqui: o cidadão pode ser nazista ou comunista e, ao mesmo tempo, ter preocupações ambientais. Salvar o planeta ou defender a natureza como condição de melhoria de vida para o homem pode ser (e deveria ser) a preocupação da maioria dos cidadãos, independentemente de sua cor partidária, filosófica, religiosa ou futebolística.

A ecologia precisa de um movimento sério. Apartidário. Acima de quaisquer querelas políticas. Só assim pode enfrentar os selvagens que destroem e matam a natureza em prol de seus lucros, apenas de seus lucros, numa visão imediatista e suicida. Contra eles é que deve lutar o movimento ecológico, e não se envolver em disputas político-ideológicas que não cabem (e não devem caber) na mente dos verdadeiros ambientalistas.

Por isso, dona Marina Silva, apesar de admirá-la tanto, de achar que a senhora tem uma postura acima de qualquer suspeita na defesa de interesses realmente fundamentais da raça humana, apesar de ser uma lutadora em termos de propostas para a melhoria de condições de vida do homem, acho que deixar o PT, buscar novos ares foi uma ação corajosa, mas filiar-se ao PV é de um equívoco lamentável.


Porque a senhora, dona Marina Silva, é muito, mas muito maior que o PV, um partido sem eira nem beira. Sem futuro. Ao contrário do movimento ecológico, de que a senhora, por sua trajetória de vida, por sua coerência, é um símbolo em nosso País.

setembro 23, 2009

A ABERTURA DO JOGO: É PRECISO MAIS RESPONSABILIDE!

Parece inevitável que o Congresso Nacional acabe por aprovar a abertura da jogatina no Brasil. A pressão é muito forte e há, além de argumentos, muitos interesses, de grupos muito poderosos, de gente que já está há muito tempo no negócio da exploração dos incautos.

Não sou totalmente contra a abertura de cassinos e a regulamentação dos jogos de azar. Há pontos positivos. E não adianta muito ficarmos com argumentos moralistas contra a compulsão humana de buscar um entretenimento tão estranho quanto o prazer dos indivíduos de arriscar todo o seu dinheiro em cartas, roletas, máquinas e não sei mais quantas outras formas de ilusão.

No entanto, há que se fazerem as coisas de forma a que não se transforme o País num imenso cassino. Porque, se há aqueles que apreciam, há também os que são “doentes compulsivos” pelos jogos de azar. E esses precisam de algum tipo de proteção do Estado. Mas, há mais: além dos compulsivos, há os milhares, talvez milhões, de cidadãos que, num momento de desespero, se iludem com o ganho fácil e se enterram definitivamente no canto da sereia de um possível ganho fácil e momentâneo, sem terem as mínimas condições para enfrentar um endividamento que pode levá-los e à família à falência total.

Por isso, mesmo não sendo um especialista na questão, mas um cidadão preocupado não só com a saúde emocional das pessoas e dos jovens que podem ser atraídos para a jogatina, mas também com a possibilidade de que nossas cidades se deteriorem com a abertura indiscriminada de casas de jogos (a distância de quinhentos metros de escolas nem sempre é bem fiscalizada, além de insuficiente), proponho a nossos Congressistas que lutem por uma idéia bastante simples, mas que pode ser eficaz:

Que somente municípios com mais de duzentos mil habitantes possam ter casas de jogos. E, principalmente, que só possam ser abertas tais casas fora dos limites urbanos dessas cidades, com o compromisso de que, se a cidade estender seus limites, as casas de jogos também se mudem sempre para mais longe.

Eu acredito que, com isso, não teríamos de conviver com a proximidade e a atratividade dessas casas de jogos. Não veríamos o ambiente urbano se degradar com a construção ou adaptação de grandes imóveis que atraem movimentação excessiva de pessoas e, consequentemente, provocam congestionamentos, barulho e poluição.

Enfim, além de todos os demais cuidados na regulamentação, que não deixem os nossos Congressistas, diante da inevitabilidade dos cassinos, que nossas cidades se degradem ainda mais, com a proliferação indiscriminada de casas de jogos.

setembro 11, 2009

UM CRIME CONTRA SÃO PAULO. MAIS UM!

A cidade de São Paulo sempre foi governada por cabeças de engenheiro, mesmo quando seus prefeitos não tivessem tal formação. Desde as primeiras décadas do século passado e, principalmente, nas gestões de Prestes Maia e Faria Lima, o primeiro projetando e o segundo, executando, que um plano de grandes obras transformou a cidade na megalópole que é hoje.

Os acertos foram muitos. Os erros, também.

E um dos principais equívocos e crimes urbanistas foi a retificação dos rios, principalmente o Tietê, que cruzava a ainda pequena São Paulo em meandros magníficos, no começo do século passado. As águas calmas passaram a correr mais apressadas, na velocidade do crescimento da cidade. E as chuvas, também apressadas, iniciaram um longo ciclo de enchentes que se agravaram ainda mais com a ocupação criminosa das margens do rio, ao se construírem as famosas avenidas marginais que o acompanham desde Guarulhos até o outro lado, já na Cidade Universitária. Ocupação criminosa porque várzeas são inundáveis, no movimento natural do rio que sobe e desce, conforme o ciclo da chuva se cumpre.

O segundo crime foi a projeção e construção das grandes avenidas de fundo de vale, onde outros rios, outros córregos e riachos corriam, sufocando as águas, transformando-as em filetes embutidos e revoltados debaixo do asfalto. Outras soluções, mais inteligentes e mais ecologicamente corretas podiam ter sido buscadas, tanto para as avenidas marginais quanto para as de fundo de vale, quando a cidade ainda era bem menor do que é agora.

O terceiro grande crime cometido contra as águas que corriam livres na Piratininga dos velhos tempos foi a total canalização de todos os córregos e riachos, exigência de ocupações desordenadas de suas margens por populações ansiosas por moradias e mal orientadas pelo poder público ou enganadas por grileiros irresponsáveis, muitos deles políticos ou grandes empresários da construção civil.

O quarto grande crime ambiental foi a pavimentação sem critério de toda e qualquer rua e avenida, sem a preocupação de deixar espaços de terra para a absorção da água da chuva. Exemplo seguido de forma cabal por quase todos os construtores de casas, prédios, galpões, fábricas etc. A cultura do cimento prevaleceu e ainda prevalece na mente de todo paulistano que constrói, compra ou aluga uma casa ou um apartamento: pouco espaço de terra, para absorção das águas pluviais.

O quinto grande crime foi o assassinato frio e permanente da cobertura vegetal. Árvore, durante muito tempo, foi sinônimo, em São Paulo, de inimigo que deve ser combatido. E as que sobraram se viram sufocadas com calçadas que não deixam sequer um centímetro de solo em torno de seus troncos. A poda e o corte de árvores, hoje, ainda continuam, mas esse crime já tem a oposição da sociedade que sempre reclama e esperneia contra os que o cometem. No entanto, basta caminhar por qualquer rua e observar as calçadas que ainda se percebe o descaso para com as grandes árvores que teimosamente subsistem apesar do cimento a comer-lhes as raízes e até o tronco.

O sexto grande crime foi o não investimento em coleta e tratamento de esgoto e de produtos e efluentes das grandes indústrias. Tudo vem sendo jogado nos rios, há tanto tempo, sem nenhum critério, transformando-os em esgotos a céu aberto, em águas mortas, que, agora, a despoluição dessas águas custará à sociedade um preço exorbitante. O Tietê e o Pinheiros, por exemplo, são rios mortos, quase sólidos, quando podiam ser motivo de orgulho e lazer para a população. E são objeto, também, de grandes obras de alargamento e aprofundamento de suas calhas, para obter maior vazão e tentar evitar as cheias, obras que gastam bilhões e geram receitas para empreiteiras e, mais uma vez, comissão para políticos.

Há muitos outros crimes que se cometeram contra a cidade, por prefeitos de cabeça gorda de engenheiros cuja única preocupação era construir grandes obras das quais obtivessem gordas comissões, para si e para seus apaniguados. O famoso elevado Costa e Silva, o minhocão, é um desses exemplos de obra condenada e absurda, por sufocar uma avenida e poluir a paisagem com seu cimento escuro como a consciência de quem o projetou e construiu.

Assim, cada prefeito que entra quer construir mais obras. E obras contra enchentes são as que mais recebem verbas e o aplauso dos cidadãos mal informados, porque parecem definitivas na resolução de um problema que não tem, atualmente, solução nenhuma de curto prazo. E inventam coisas tão absurdas como, mais recentemente, os piscinões que têm o objetivo de reter as águas da chuva e depois dar-lhes vazão, para evitar enchentes. Custam muito caros esses piscinões e, depois de prontos, resolvem, sim, por algum tempo o problema das enchentes localizadas. Mas trazem tantos outros problemas, como os de saúde pública, por se tornarem depósitos de lixo, de lama e viveiro de ratos e ratazanas, exalando mau cheiro e doenças, nas épocas das cheias. Além disso, as águas que o enchem durante as chuvas trazem também um grande volume de terra que decanta e se deposita no fundo, tornando sua limpeza e manutenção caríssimas. Mais ganhos para empreiteiras e políticos com suas comissões.

Agora, neste exato momento, mais um grande crime se comete contra a cidade, sob os auspícios do Governo do Estado, a complacência da Prefeitura e a inércia da população, do Ministério Público e dos órgãos de proteção ambiental: a transformação dos canteiros centrais das marginais do Tietê em novas pistas para trânsito de veículo.

Gastam-se um bilhão e tanto de reais numa obra absurda, que derruba milhares de árvores, que impermeabiliza o solo que serviria para minimizar as cheias, com a absorção da água das chuvas, para transformar em pista de engarrafamento de trânsito mais larga, mais gorda, porque não se resolverá o problema de congestionamentos, já que todo o trânsito das marginais desemboca em ruas de pequena vazão, o pouco que havia de verde nas marginais do rio morto pela poluição.

E não adianta o senhor governador vir a público, de forma irada, como sói acontecer sempre que é criticado, para falar de compensações ambientais: podem-se plantar milhões de árvores no lugar das que dali foram arrancadas, que o crime continua o mesmo e a natureza vai fazer o paulistano sofrer com mais enchentes nas famosas marginais, enchentes que provocarão ainda mais amplos congestionamentos, com mais gente tendo prejuízos, já que mais veículos estarão trafegando pelas marginais. E serão bilhões jogados fora. Dinheiro que poderia ser investido no que todos falam, mas ninguém resolve: no famigerado e primo pobre de todas as administrações, o transporte público.

Também o senhor prefeito não lhe traz nenhum mérito vir a público culpar administrações anteriores pelas enchentes, cada vez que uma chuva mais forte atormenta os paulistanos. Se há erros de praticamente cem anos, o senhor prefeito está dando sua forte contribuição para todos os desmandos que se fizeram e ainda se fazem nesta cidade, ao ignorar qualquer medida de bom senso que possa dar um pouco de esperança a essa gente que, se também tem culpa, por seu descaso para com a cidade, mas é quem, em última análise, paga a conta e ainda sofre.

Até quando veremos esse festival de gastos inúteis, de medidas absurdas, de obras faraônicas e sem propósito, que só servem ao bolso e à vaidade de governantes burros, inescrupulosos e manipuladores?

Pobre São Paulo. E tão rica!