dezembro 01, 2021

QUANDO A BREGUICE É ESTRUTURAL – SEGUNDA PARTE


 

Tomamos emprestado o termo “estrutural”, ou seja, aquilo que é imanente a uma estrutura, para falar da breguice do nosso excelentíssimo e breguíssimo presidente da república, se é que ele merece esse título. A caneta bic com que assina os documentos da presidência é um desses símbolos mais do que bregas desse ex-capitão, mitológico por suas asneiras.

Agora, falemos de outras breguices. Por exemplo, as camisas de times de futebol com que ele frequentemente se apresenta em suas lives. Um torcedor vestir a camisa de seu clube é normal. Indica seu amor ou sua preferência por um determinado grupo de jogadores. Torcer, nesse caso, e mostrar a todos por qual clube se torce não ocasiona nenhum problema, a não ser que o cidadão faça isso no meio da torcida adversária. No entanto, uma autoridade que se preza, principalmente um político que ocupa um alto cargo, não pode se apresentar para comunicados oficiais ou oficiosos para a Nação vestido com camisetas mal ajambradas de clube de futebol. Isso é de um mau gosto que vai muito além do respeito às convenções do cargo, principalmente quando esse cargo é o da presidência da república. E é brega, muito, muito brega.

Aliás, usar lives de redes sociais para comentar assuntos da presidência, como se isso fosse o suprassumo da modernidade, também é muito, muito brega, quando se trata do mais alto cargo da Nação. Um presidente da república tem a seu dispor inúmeros meios de comunicação, meios oficiais e até mesmo oficiosos, mas perder tempo para se sentar diante de uma mesa e, com um intérprete de libras meio perdido ao lado, para falar bobagens e comentar assuntos que não dizem respeito à presidência e que, em geral, não interessam não povo, a não ser a seu reduzido redil eleitoral, é brega, muito brega.

E por falar em redil, lembramos o famigerado “cercadinho” onde ficam as duas dúzias de aduladores do presidente, quando, toda manhã, a eles se dirige o tal indivíduo, vestido com seus ternos que parecem comprados em alguma feira livre de alguma cidade satélite de Brasília – o que é brega, muito brega. Pois é através desses aduladores que mugem por ali, no tal cercadinho, que a breguíssima excelência passa os recados que brotam de sua “inteligência privilegiada”, para dizer, por exemplo, que “tem que tomar cloroquina contra a covid”, ou que “não vai tomar vacina” e que “a vachina ninguém sabe se funciona”, ou ainda ofender estados com quem o Brasil mantém negócios de milhões de dólares, ou falar outras bobagens que nem dezenas de páginas seriam suficientes para registrar. Tudo isso é brega, muito brega, além de ser estúpido. Quando se tem à disposição uma mídia interessada em tudo quanto diz um presidente da república, falar essas asneiras para as duas dúzias de seguidores num “cercadinho” ao lado do palácio é uma das mais estúpidas breguices que ele comete. Aliás, brigar com repórteres e jornalistas e não responder a questionamentos desse ou daquele órgão da mídia, porque fazem algum tipo de crítica ou de oposição a sua excelência, é também algo muito, muito brega, além de ser antirrepublicano, além de ser antidemocrático.

Também são breguices incomensuráveis:

  •        fazer turismo na Europa, a pretexto de participar de alguma reunião de líderes mundiais, já que não é recebido por nenhum chefe de estado;
  •        receber homenagem de uma cidade do interior da Itália, só porque seus antepassados de lá saíram há dezenas e dezenas de anos;
  •        hospedar-se em hotéis de Dubai que cobram diárias astronômicas, para conversar com sheiks do petróleo que estão cagando e andando para ele;
  •        promover “motociatas” com seguidores, pelas capitais e cidades do país e, pior, todos eles sem nenhuma proteção de máscaras contra a covid;
  •        permitir que a primeira-dama compareça a uma festa no palácio vestida de branca de neve (?);
  •        não se vacinar contra o vírus da covid e, pior, mostrar ao mundo e a todos os líderes que não o fez, contrariando todas as recomendações médicas do mundo inteiro;
  •        fazer propaganda, até diante das emas do jardim do palácio, de remédios não recomendados contra a covid, e pior: que produzem efeitos colaterais perigosos, sendo que alguns só servem mesmo para matar carrapato de gado;
  •        tentar interferir nas investigações da Polícia Federal, para proteger seus filhos das falcatruas que eles cometeram;
  •        divulgar ou permitir que seus seguidores divulguem notícias falsas nas redes sociais;
  •        ter como guru um astrólogo decadente, que se passa por filósofo, e que acredita até mesmo que a terra é plana;
  •        falar um monte de palavrões impublicáveis durante reuniões ministeriais;

  •        etc. etc. etc.

Como se pode ver, a breguice desse governo não tem paralelo na história. Nenhum outro presidente se mostrou tão estúpido, tão despreparado para governar. Por isso, o país está mergulhado num poço profundo, do qual só conseguiremos sair a médio prazo, depois de um ou dois anos de um novo governo que não seja tão estúpido e irresponsável quanto este. O que eu temo é que ele, para tentar se reeleger – o que não conseguirá! – quebre ainda mais o país, tornando-o ingovernável por décadas.

novembro 28, 2021

QUANDO A BREGUICE É ESTRUTURAL

  


Dizemos que algo é estrutural, quando está arraigada numa estrutura, numa sociedade, por exemplo. Mas, posso tomar esprestado esse termo para dizer que há coisas que estão estruturalmente arraigadas num indivíduo. A breguice, por exemplo. Que é irmã gêmea da estupidez, da falta de cultura, de conhecimentos mínimos de ciências e de humanidades; da falta de respeito para com a sociedade em que vive.

Vamos dar nome ao boi, ou melhor, à besta: estou falando do atual presidente da república desse pobre (em todos os sentidos) país cujo povo, ainda mais pobre (agora no sentido de miserabilidade), o elegeu: Jair Messias Bolsonaro.

Sua breguice estrutural começa com o fato de que, como militar expulso do exército, por insubordinação, continuou militar por mais de trinta anos. O exército chutou sua bunda suja, mas ele não o tirou de dentro de si, numa espécie de fervor e amor que têm os prisioneiros que enlouquecem por seus carcereiros ou por seus torturadores (aliás, ele parece adorar torturadores e déspotas). Depois, como político, elegeu-se deputado e, por quase trinta anos, frequentou o fundão mais profundo do centrão do Congresso, onde nunca se notabilizou por sequer uma lei aprovada, um discurso elogiado. Ali, enriqueceu através da mais nobre e brega atividade congressual, juntamente com seus filhos: a famosa “rachadinha”, ou seja, surrupiando parte dos salários de seus funcionários de gabinete. Um crime que deixa poucos rastros, já que os contratados raramente denunciam, porque temem perder a esmola que lhes sobra ou temem o poder do parlamentar, já que a corda sempre arrebenta pelo lado mais fraco. Suas mais destacadas atuações parlamentares consistiram em afirmar para uma colega que não a estupraria porque era muito feia e por levar uma cusparada na cara, de outro deputado a quem ofendera, por ser homossexual. Suas posições ideológicas, aliás, não passam dessa breguice estúpida de preconceitos, homofobia, misoginia e defesa do uso de armas por todos os cidadãos, além de uma religiosidade ainda mais brega e absurda, já que “ama” o estado de Israel, mas se diz cristão, num fundamentalismo que nem ele mesmo sabe que tem, ou sequer saiba o que seja.

Inaugurou seu governo, assinando medidas, leis, decretos etc. com uma caneta bic. E pior: fazendo questão de mostrar que usava tal tipo de instrumento de escrita, como se isso fosse o suprassumo de um “populismo” carunchado que ele também não sabe bem o que é. Nada mais brega! Por mais que os atos cerimoniais do poder sejam muitas vezes de uma grande breguice, há no entanto algo de simbólico nesses atos. Pode-se, por exemplo, tecer mil críticas à chamada lei áurea, que libertou os escravizados sem lhes dar qualquer tipo de proteção ou de perspectiva de vida, mas imaginem a princesa Isabel assinando essa lei com uma caneta que não fosse de ouro. Não seria a lei áurea! Portanto, quando o idiota que está no exercício da presidência assina atos de governo com uma caneta vagabunda, ele está indicando claramente que seu governo é um governo vagabundo e brega, que não tem respeito pelo próprio cargo, assim como não tem respeito pelo povo que ele governa. E foi isso que ele sinalizou desde o início: que seria um governo brega, que seria um governo vagabundo.

Depois de mais de 600 mil mortos pela pandemia, sem que esse governo vagabundo tivesse feito o seu dever de agir com competência, para comprar vacinas, de incentivar o povo a se vacinar, de assumir a liderança no combate à covid-19, não resta mais nenhuma dúvida sobre o quanto de estupidez asinina cabe na cabeça de tal indivíduo. Aquilo que começou como um ato de breguice estrutural se transformou em atos não só de incompetência, mas também de genocídio, já que se pode imputar a esse canalha a morte de centenas de milhares de brasileiros, vidas que poderiam ter sido poupadas, se medidas preventivas tivessem sido tomadas a seu tempo e de maneira vigorosa.

E estamos falando apenas de um dos muitos aspectos absurdos de seu desgoverno, a saúde pública. Ainda há que se falar em: desmonte da educação, leniência para com o desmatamento e para com as atividades de garimpo, desprezo à pesquisa científica, descontrole da venda de armas, aumento das tachas de homicídio, feminicídio e de chacinas pelas polícias militares, falta de medidas para melhoria do saneamento básico das cidades, polícia externa subserviente a interesses escusos etc. etc. etc. Enfim, a lista de problemas causados por ser escroto e estúpido é longa. O fundo do poço tem um alçapão e por ele estamos despencando num abismo, do qual será complicado e demorado sair.

novembro 22, 2021

COLABORACIONISTAS

O TEXTO ABAIXO REFLETE O QUE EU PENSO, POR ISSO AÍ ESTÁ PARA A DEGUSTAÇÃO DOS LEITORES DESTE BLOG, ASSIM COMO UMA FORMA DE MANTÊ-LO VIVO NA INTERNET, MUITO ALÉM DAS REDES SOCIAIS, NO CASO, DO FACEBOOK, DE ONDE O RETIREI.



Ao final da Segunda Guerra, com o avanço das tropas aliadas, Paris foi libertada. Explosão de alegria, comemoração e, como seria mais do que previsível, com muitos «acertos de contas» com os franceses que colaboraram com o exército de ocupação. E não foram poucos. Sob argumentos diversos muitos franceses seguiram suas vidas quase que normalmente apesar de toda a destruição civilizacional que os nazistas impunham. Não foram poucas as fracesas que, alegremente, namoraram soldados alemães e se deitaram com oficiais nazistas. Muitos comerciantes enriqueceram como fornecedores dos inimigos, muitos funcionários públicos, principalmente no judiciário, progrediram em suas carreiras por fazer o que deles esperavam os fascistas.

Libertos do fascismo alemão milhares de «colabôs» foram expostos à execração pública, e vários deles foram forçados a humilhantes desfiles pelas ruas em centenas de cidades francesas, cabeças raspadas, mulambentos.

Viveremos algo semelhante no Brasil quanto terminar a ocupação bolsonarista dos espaços públicos e institucionais?

Pensando sobre isso hoje topei com o texto do Márcio Sotelo Felippe sobre as similitudes entre a França ocupada pelos nazistas e o Brasil ocupado pela burrice, pela crueldade e pelo mau-caratismo bolsonarista.



Colaboracionistas


"Em um artigo publicado em 1944, A república do silêncio, Sartre escreveu que os franceses nunca foram tão livres quanto no tempo da ocupação alemã. Um chocante e brilhante paradoxo que só a grande Filosofia, como exercício de pensar fora do senso comum, é capaz de produzir. Por que os franceses eram livres se todos os direitos haviam sido aniquilados pelos alemães e não havia qualquer liberdade de expressão? Como se podia ser livre sob a cerrada opressão do invasor que fiscalizava os gestos mais triviais do cotidiano? Porque, dizia Sartre, cada gesto era um compromisso. A resistência significava uma escolha e, pois, um exercício de liberdade. Significava não renunciar à construção de sua própria existência quando os invasores queriam moldá-la, reduzindo-a a objeto passivo e sem forma.

Em linguagem retórica e poética Rosa de Luxemburgo disse algo semelhante: quem não se movimenta não percebe as correntes que o aprisionam.

Sartre era existencialista: a existência precede a essência. Isto significa que não há algo anterior à existência que impeça um ser humano de tomar livremente as decisões que construirão o seu futuro. Isto dá ao humano a plena imputabilidade pelos seus atos. O que ele faz da sua existência é culpa ou mérito exclusivamente seu. O que ela é hoje resulta de decisões que tomou no passado, e o que será resultará das decisões que toma no presente.

A experiência francesa durante a ocupação alemã guarda certa similitude com o Brasil de hoje. Na França parte da sociedade (muito maior do que os franceses gostam de admitir) foi complacente ou colaborou com o invasor que massacrava seu povo e aniquilava os mais elementares direitos dos franceses. Hoje, parte da sociedade brasileira assiste inerte, é complacente, apoia ou apoiou usurpadores que vão reduzindo a pó o pouco de direitos e garantias de um povo já miserável.

Na França colaborava-se por ser fascista ou filofascista. Por egoísmo social. Por ressentimento. Por ódio de classe. Para pequenas vinganças privadas, para atingir um inimigo pessoal. Colaborava-se por ausência de qualquer sentimento de solidariedade social. A colaboração com o invasor desvelava a mais baixa extração moral. Quanto a nós, tomo como paradigma uma cena do cotidiano que presenciei dia desses. Duas mulheres ao meu lado conversavam. Uma disse que seu filho de 13 anos era fã do Bolsonaro. A outra, algo espantada, faz uma crítica sutil, perguntando se ela não conversava com o filho sobre política. A resposta: “acho bonito que meu filho seja politizado nessa idade”. Com isto, quis dizer que não importava de que modo seu filho estava precocemente se politizando.

Pode-se razoavelmente supor que ela, mulher, ignore que Bolsonaro disse que há mulheres que merecem ser estupradas? Que saudou, diante de todo país, em rede nacional de televisão, o mais célebre torturador da ditadura militar? Que declarou que prefere o filho morto se ele for homossexual? Como ignorar isso tudo é altamente improvável, porque seria supor que tal mulher vive em uma bolha impenetrável em plena era das redes sociais, podemos concluir, com Sartre, que escolheu o sórdido para si e para seu filho. O que resultará dessa escolha não poderá ser imputado a Deus, ao destino, aos fatos da natureza ou a qualquer fórmula vaga e estúpida do tipo “a vida é assim”, mas a ela mesma e a seus pares brancos de classe média que tem atitudes semelhantes.

Do mesmo modo como a parcela colaboracionista da sociedade francesa escolheu a opressão do invasor estrangeiro, parcela da sociedade brasileira escolheu o retrocesso, o obscurantismo e a selvageria.

Foi em massa às ruas em nome do combate à corrupção apoiando um processo político liderado por notórios corruptos.

Regozija-se com o câncer e com o AVC do adversário politico, demonstrando completa ausência de qualquer traço de fraternidade e respeito ao próximo.

Suas agruras e dificuldades econômicas e sociais transformam-se em ódio justamente contra os excluídos e em apoio às ricas oligarquias que controlam a vida política do país (das quais julgam-se espelhos), a fórmula clássica do fascismo.

Permanece indiferente, omissa ou dá franco apoio ao aniquilamento de direitos, ao fim, na prática, da aposentadoria para milhões de brasileiros, à eliminação dos direitos trabalhistas, à entrega do patrimônio nacional a grandes empresas estrangeiras.

Seu ódio transforma em esgoto as redes sociais.

Não há como prever o que acontecerá a esta sociedade. Uma convulsão social poderá desalojar os usurpadores do poder, ou poderemos seguir para o cadafalso como povo. A História sempre é prenhe de surpresas. O que é certo, no entanto, tomando a frase de Sartre, é que somente poderão dizer no futuro que foram livres, no Brasil pós-golpe de 2016, os que agora estão se comprometendo e resistindo. É uma trágica liberdade de tempos sombrios, mas se nos foi dado viver neste tempo, que vivamos com a dignidade que somente os seres livres podem ostentar.

Hoje são livres os que resistem.""

Por Marcio Sotelo Felippe (pós-graduado em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo. Procurador do Estado, exerceu o cargo de Procurador-Geral do Estado de 1995 a 2000. Membro da Comissão da Verdade da OAB Federal.)

https://www.facebook.com/search/top?q=carlos%20emilio%20faraco

outubro 14, 2021

VOCÊ RECONHECE ESSE NEGRO?




Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que visa a dar mais segurança jurídica ao reconhecimento de suspeitos de algum crime por foto ou, mesmo, por comparação do suspeito com outras pessoas.

Não posso julgar se o projeto é bom ou ruim, porque, muitas vezes, as boas intenções de uma lei esbarram na péssima redação dessa lei, deixando verdadeiras armadilhas jurídicas de que se aproveitam os advogados, para condenar ou absolver seus clientes.

No entanto, é importante que se dê menos peso ao reconhecimento facial por meio de fotos ou de apresentação de suspeitos para comparação, principalmente quando se está diante de indivíduos pretos ou pardos.

Isso, não só por causa da dificuldade inerente a esse reconhecimento, mas principalmente porque muitas pessoas “brancas” não têm olhos para ver corretamente as feições negras. O racismo histórico de nossa sociedade invisibilizou a população negra. O branco não olha realmente para o negro, apenas percebe sua cor, por isso não sabe reconhecer seus traços. Os olhos “brancos” não distinguem sutilezas nem mesmo de coloração da pele: há pretos mais pretos e pretos mais claros, uma vasta paleta de cores.

Também os traços de rostos negros revelam milhares e milhares de detalhes diferentes, assim como todos os humanos, mas os humanos brancos apenas veem “o negro”, não o indivíduo de cor negra, um ser humano como outro qualquer, reconhecível por suas características idiossincráticas. Para o humano “branco”, o humano negro é só uma massa uniforme e indistinguível de caracteres, como se todos fossem quase uma única pessoa, como se todo negro fosse igual ao outro.

É claro que essa minha opinião de que o “branco” não sabe reconhecer sutilezas das feições negras é uma generalização, para efeito de desenvolver um raciocínio de que há ainda muito a se fazer em termos de combate ao racismo em nossa sociedade e, portanto, não quero dizer com isso que todo branco seja racista ou que todos os brancos não tenham “olhos de ver” e reconhecer os pretos e pardos.

Feito esse esclarecimento, concluo dizendo ser de grande importância um projeto que realmente dê mais segurança ao processo de arrolar provas de um crime. E, principalmente, que as autoridades policiais e jurídicas passem a ver com muita desconfiança e com extremo cuidado os testemunhos baseados em reconhecimento facial, principalmente de suspeitos de cor negra. Nossas prisões estão abarrotadas de pessoas pretas inocentes reconhecidas mal e porcamente por testemunhas brancas, cujos olhos, obscurecidos pelo maldito racismo, não conseguem perceber diferenças e características absurdamente diferentes de uma pessoa para outra, quando se trata de pretensos suspeitos pretos ou, até mesmo, pardos.

outubro 03, 2021

NÃO LHES BASTA SER ANTICOMUNISTAS: SÃO TAMBÉM FASCISTAS

 



Os comunistas da década de 30 do século passado protagonizaram a oposição mais feroz ao estado novo de Getúlio Vargas, conforme escrevi no texto anterior - A CONSTRUÇÃO DE UMA MENTIRA: O COMUNISMO NO BRASIL – replicando aqui as escaramuças entre eles e o fascismo que ocorriam na Europa.

Portanto, os fascistas tinham todo o motivo do mundo para odiar os comunistas e vice-versa.

Passados todos esses anos, sabemos que nunca houve regime comunista no Brasil; que a famosa revolta vermelha de 1935 não passou de um traque, devidamente sufocado pelas tropas fascistas de Vargas; que nunca houve e não há qualquer possibilidade de o Brasil se tornar comunista; que essa desculpa esfarrapada – usada também pelos generais carniceiros do golpe de 1964 – já devia estar devidamente sepultada como uma das grandes mentiras das tantas que se contam sobre nossa história.

No entanto, ressuscitam o “perigo vermelho”, com bobagens como “o Brasil nunca será comunista”, “vá para Cuba”, “aqui não é a Venezuela” etc., num verdadeiro atentado aos fatos, à realidade, à História (com H maiúsculo), que esses idiotas não conhecem e tripudiam sobre ela, já que são todos ignorantes que usam sua insipiência como os homens das cavernas deviam usar seus porretes para abater a caça.

Quem são eles?

São os seguidores do atual presidente da república, os trogloditas de hoje a ressuscitar slogans de ontem, para extravasar seu ódio ao povo, como se fossem todos eles “nobres” brancos e pertencentes às altas elites econômicas, e não pobres idiotizados por um “mito” analfabeto, grosseiro, assassino e genocida.

Na sua “santa” ignorância, não contentes de ressuscitar o anticomunismo, flertam abertamente com o fascismo, defendendo bandeiras (não as chamo nem de ideias) muito semelhantes às defendidas por Mussolini e Hitler:

· um estado miliciano, com o povo armado até os dentes: os seguidos decretos do inominável que, até mesmo contrariando leis existentes, tentam facilitar a venda de armas, ironizando os que preferem comprar feijão/comida a comprar armas; a repetição de gestos com as mãos imitando armas, para se identificarem;

· a destruição da cultura e das tradições: o ódio do atual governo a tudo que se refira à cultura e à educação, colocando no comando dessas duas áreas indivíduos totalmente despreparados para os cargos, mas que se alinham com os preceitos de manter o povo na ignorância;

· o racismo estrutural, para manter invisível a população negra, de preferência em guetos, nas periferias e nas favelas, longe das escolas e faculdades e o índio, visto como ameaça a seus interesses econômicos, o que os leva a defender grileiros, madeireiros e garimpeiros que destroem a floresta e o meio ambiente, sem respeitar as terras indígenas;

· a defesa da família tradicional, com toda a carga de ódio a homossexuais e a qualquer desvio do que eles definem como moral, uma moral que tem origem na estupidez de religiões fundamentalistas que se dizem fiscais do corpo alheio, enquanto enchem seus cofres com a exploração da fé do povo;

· a misoginia, que coloca a mulher como dependente e até escrava do homem, seu senhor e dono, o que incentiva o aumento dos crimes de feminicídio;

· o nacionalismo fanático, com o culto a símbolos como a bandeira e as cores nacionais, para ocultar seu entreguismo tosco e sua obediência cega a um falso líder que nada tem para lhes oferecer, senão palavras vazias de ódio, de incompetência e de destruição das políticas voltadas para recuperação do Estado e para a melhoria das condições sociais da população;

· o negacionismo, que é a excrescência maior de sua estupidez, a fazer campanhas contra a ciência; a defender a “terra plana” (muitos nazistas acreditavam na teoria da “terra oca”); a fazer campanhas contra a vacinação, o que pode levar nosso país a ressuscitar doenças endêmicas que pareciam erradicadas; a não acreditar nos alertas dos cientistas sobre o aquecimento global;

· o totalitarismo, com a defesa de ideias antidemocráticas, principalmente dos ditadores assassinos do regime militar: além de algum manual do exército, o atual presidente parece que leu (se é que leu!) apenas mais um livro em toda a sua vida: a biografia de um dos mais tenebrosos torturadores da época da ditadura de 64; e seus seguidores vivem defendendo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal e a prisão de seus membros;

· divulgação de mentiras através das mídias sociais, utilizando a velha e desgastada máxima nazista de que uma “mentira mil vezes repetida torna-se verdade”, contribuindo ainda mais para o estado de ignorância do povo etc. etc.

Enfim, não lhes basta ser anticomunistas: precisam tentar impor e divulgar sua estupidez asinina através da defesa de bandeiras e ideais fascistas, como se todo o povo fosse ignorante como eles. Para isso, pregam o ódio, a dissenção e até a morte dos opositores, tal como fazia o estado novo getulista, que perseguiu, prendeu e matou muitos cidadãos, modelo copiado e levado ao extremo pelos ditadores militares de 1964.

Confundem direito de opinião, assegurada constitucionalmente, com o direito de propagar ideias que podem levar milhares de pessoas a evitar a vacinação contra a covid-19, a não se tratar e a confiar em drogas condenadas pela comunidade científica internacional, contribuindo para o aumento exponencial das mortes, durante a pandemia que assola o mundo e, especialmente, o Brasil, por incompetência desse governo negacionista que eles defendem.

Que a História não se repita numa trágica farsa de consequências inimagináveis e que os verdadeiros cidadãos deste País possam dar a esses facínoras, o mais rápido possível, uma resposta à altura, na defesa do Estado de Direito e de todas as Liberdades duramente conquistadas a partir da Constituição de 1998.


setembro 30, 2021

A CONSTRUÇÃO DE UMA MENTIRA: O COMUNISMO NO BRASIL

 


Sempre me incomodou essa estúpida ideia que o imbecil do atual presidente e seus seguidores divulgam com a boca cheia: de que ele livrou o Brasil do comunismo. E parece que o comunismo é o inimigo a ser combatido, como se estivessem os seguidores dessa ideologia política de armas em punho a aguardar atrás de cada árvore, de cada porta, de cada morro, para tomar de assalto o poder e matar todo mundo.

Fui em busca dos motivos por que se incutiu na mente das pessoas esse medo pânico de algo que não existe e nunca existiu. Uma pesquisa quase inglória, já que nem sabia bem por onde começar a procurar. Então, quase por acaso, encontrei o trabalho de dissertação de Felipe Menezes Pinto - O VERMELHO E O NEGRO: Intolerância, Construção da Identidade Nacional e Práticas Educativas durante o Estado Novo (1937 – 1945), de 2011, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, tendo como orientadora a Professora Dra. Regina Helena Alves da Silva.

Nesse trabalho, o autor disseca a ideologia implantada por Getúlio Vargas nas escolas do País, tendo como principais eixos a educação moral e cívica, como o culto a valores e símbolos nacionais, principalmente o culto à bandeira nacional; a invisibilização da população negra, considerada como indesejável, num racismo sutil e deliberadamente construído para levar ao “embranquecimento” da nação e, por último, a intolerância aos vermelhos, considerados como inimigos do povo e do Brasil.

Percebe-se claramente um propósito nesses três eixos que eram desenvolvidos através dos livros e das instruções pedagógicas do Ministério da Educação: formar uma geração extremadamente nacionalista, anticomunista e racista. Não é necessário dizer que os objetivos foram obtidos com bastante sucesso: e somos nós os filhos, netos e bisnetos dessa geração. Fomos todos nós que aqui vivemos hoje criados de forma direta ou indireta por avós e pais nacionalistas (de um nacionalismo utópico e exacerbado, que acredita que o “gigante adormecido” precisa ser acordado, para a felicidade de todos – mote que aparece até hoje em manifestações fascistas – o que foi bastante explorado pela ditadura militar, a partir de 1964), racistas (de um racismo estrutural, cujos males ainda sentem na pele os negros e pardos, relegados quase sempre às favelas – as modernas senzalas - e à marginalização social, escolar e econômica) e anticomunistas.

O anticomunismo tem seu nascedouro nos anos 20 do século passado, após a revolução russa, cujo sentido e objetivos nunca foram bem compreendidos pelo Ocidente, principalmente quando a Rússia se transformou, sob o domínio de Stálin, de um país medieval em uma nação poderosa, embora à custa de muitas vidas e, infelizmente, também da atroz perseguição desse líder a seus opositores. A sombra de Stalin e, por extensão, do comunismo, assombrou a Europa e os Estados Unidos, por razões que não nos cabe discutir aqui, principalmente razões políticas e econômicas. A chamada “guerra fria”, estabelecida entre as duas potências que emergiram da segunda grande guerra – Estados Unidos e União Soviética – só fez agravar o medo ocidental do comunismo, visto como ameaça a todos, embora só ameace mesmo o capitalismo e os capitalistas, ciosos de seus negócios e temerosos de perder suas vastas propriedades.

No Brasil, criou-se o mito da “intentona” comunista, um golpe que parece sair das sombras de um poderio que os comunistas nunca tiveram. O interessante é que a Aliança Nacional Libertadora, fundada em 1935 por Luís Carlos Prestes, tinha por principal intenção refletir no Brasil o que acontecia na Europa, os embates violentos entre comunistas e fascistas, ou seja, tentar derrubar – sim, derrubar! – o governo fascista de Getúlio Vargas. Pretendiam, nessa empreitada, contar com o apoio dos operários, mas isolados em Natal e Recife, foram derrotados e isso serviu de pretexto para a decretação do Estado Novo, principalmente com a divulgação de um falso Plano Cohen e sua ambição de tornar o Brasil um país comunista.

Portanto, o anticomunismo brasileiro nasce de um imenso engano – a força dos comunistas –, de uma falsidade histórica (uma fake News) – o plano Cohen – e de uma verdade – a luta contra o fascismo. Se o fascismo getulista se revelou uma nuvem negra que passou e se foi, embalado por interesses políticos e econômicos e pela estratégia de atração dos Estados Unidos, ao afundar navios brasileiros na nossa costa e atribuir essa ação à Alemanha (um fato que não se comprovou totalmente, mas que faz parte do mística da adesão de Vargas às forças aliadas), o anticomunismo permaneceu, implantado desde os primeiros anos do governo de Getúlio, através de um processo educacional bastante eficiente.

Para se ter ideia do que foi esse processo de implantação da mentalidade anticomunista em nossos jovens, veja esse texto de uma obra publicada em 1938: “No Brasil, em qualquer recanto desta grande e hospitaleira terra, terá de predominar o nosso sangue; terá de imperar a nossa língua portuguesa-brasileira, ainda que, para isso, tenhamos que amordaçar algumas bocas; terá de prevalecer a nossa história, nem que tenhamos de fuzilar todos os bolchevistas do mundo [...]” (TABORDA, Radagasio. Crestomatia cívica: uma só pátria, uma só bandeira!. 1. ed. Porto Alegre: Globo, 1938. Acervo Memória Infantil da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa), conforme a tese do professor Felipe Menezes Pinto, citada acima.

E assim, todo material didático destinado às nossas escolas estava eivado de citações diretas ou indiretas que incentivavam o medo e o ódio ao comunismo. Isso durante todo o chamado “estado novo” e, com certeza, de forma mais sutil após esse período, mas sempre a pregação do anticomunismo permaneceu mesmo durante os breves períodos democráticos e foi incrementado às mentes das crianças e dos jovens a partir do golpe de 1964. Aliás, a desculpa, mais uma vez esfarrapada para a ditadura militar, foi o velho refrão do “perigo vermelho”, já que essa ideia estava implantada na cabeça de todos e devidamente cultivada pelas nossas instituições, como a igreja, as associações comerciais e agrícolas, a escola, a imprensa etc.

A palavra “intentona” tem o sentido de “tentativa tresloucada, projeto insensato”, além da própria sonoridade soturna, o que a tornou uma espécie de “bicho papão” para o populacho, que mal conhece o seu significado. Dado à insurreição comunista de 35, um movimento que teve repercussão a repercussão que interessava aos donos do poder, essa palavra serviu de mote para amedrontar a população e até hoje a maioria da população acha que o Brasil ou foi comunista em algum momento ou esteve à beira de sê-lo. Tornou-se, portanto, um meme, uma mentira repetida como se verdade fosse; um fantasma a assombrar as mentes dos idiotas bolsonaristas de hoje, a servir de pretexto para bobagens e falsidades históricas de quem não conhece os fatos e não se interessa por conhecê-los.

Portanto, repito: nunca houve ameaça comunista no Brasil nem qualquer possibilidade de que isso acontecesse. E mais: comunismo não é exatamente aquilo que as pessoas mal-informadas pensam que é: só quem tem medo de uma doutrina que prega o fim da desigualdade social, que deseja emprego e uma vida melhor para o povo são as oligarquias que não querem largar o osso da sua condição de senhores de escravos (todos nós que não fazemos parte das elites econômicas) e donos das riquezas do Brasil.

Somos, a nossa geração, filhos, netos e bisnetos de um engodo construído pelo chamado “estado novo” fascista de Getúlio Vargas, cujo governo tem contradições históricas de defesa do fascismo, num nacionalismo doentio e absurdo, e de aliado das forças estadunidenses na segunda grande guerra até ao alinhamento à política econômica dessa nação após a guerra. E esse alinhamento automático ao grande “irmão” do norte tem sido a tônica de nossos governos, com honrosas exceções, desde a década de 30 do século passado, transformado muitas vezes em total subserviência.

Esse nosso anticomunismo é, portanto, absurdo, estúpido, sem qualquer base histórica e, pior, profundamente injusto para com nós mesmos, um antolho em olhos de burros, já que nos impede de perceber a importância política de apoiarmos partidos de esquerda que possam levar nosso país a suplantar a desigualdade e a miséria, através de políticas sociais e educacionais libertadoras, partidos que tenham ideais patrióticos sadios e não uma política entreguista, como vêm pregando e estabelecendo com muita competência os falsos nacionalistas de hoje.

março 11, 2021

BOLSONARO É O COCÔ DOS CAVALOS DOS BANDIDOS

 



O excremento mal cheiroso da famigerada operação lava jato, que destruiu o país e nos deixou de herança o fétido governo desse nojento, acaba de ser jogado na sentina da história.

Agora temos a certeza do que sempre afirmamos: os degenerados de curitiba tinham uma só ideia na cabeça: destruir o PT, impedir Lula de concorrer à presidência.

Para isso, fizeram alianças espúrias com o "grande irmão do norte", inventaram provas, corromperam testemunhas, trouxeram ideologias jurídicas alheias ao nosso sistema de direito, manipularam sentenças e destruíram a Petrobrás.

Se todos os juízes fossem honestos e isentos, não havia necessidade de instâncias várias, para tantos recursos. No entanto, a operação lava jato reuniu numa só quadrilha juízes, promotores, advogados não só da primeira instância, mas também da segunda. Todos ideologizados no único objetivo de destruir o PT, prender o Lula e deixar um rastro de merda que culminou com a eleição desse indivíduo que é a condensação de todas as ideologias de poder baseado na eliminação de todo e qualquer pensamento crítico, de qualquer outra ideologia que não comungue com seus objetivos torpes de tornar o Brasil uma nação "cristã" no pior sentido do conservadorismo e do moralismo, para se perpetuarem no poder e, assim, rapinarem melhor os cofres públicos, jogando o país nas trevas do negacionismo e da estupidez.

Bolsonaro e seus asseclas estão destruindo a educação, a saúde, o meio ambiente, a cultura, a ciência, a indústria e qualquer possibilidade de desenvolvimento do país. Não há uma só medida tomada por esse desgoverno que tenha por objetivo sanar as diferenças sociais, tirar o Brasil do atoleiro do subdesenvolvimento e retomar o crescimento.

Qualquer um que seja pró-desenvolvimento, que pense em melhorar as condições do povo, que sonhe com um país melhor é taxado de "comunista", de "progressista", como se isso fosse um crime. E o gado aplaude.

Das mais de 250 mil mortes por covid-19 ocorridas aqui, metade poderia ter sido evitada se esse degenerado não tivesse sido tão estupidamente negacionista, se tivesse tomado medidas imediatas de enfrentamento da pandemia, se tivesse feito acordos com as farmacêuticas que desenvolviam vacinas (como muitos países o fizeram), se tivesse apoiado governadores e prefeitos nas medidas de distanciamento social, se não tivesse destruído o programa mais médicos (os cubanos teriam tido um papel importante na orientação das populações carentes nas medidas de prevenção), se não tivesse se aferrado a divulgar notícias falsas e a defender medicamentos que não funcionam, se, enfim, tivesse liderado com responsabilidade a luta contra o corona vírus.

Por tudo isso, Bolsonaro, esse imbecil, canalha, prepotente, ignorante e estúpido presidente saído da cloaca do lavajatismo, é, sim, o ASSASSINO DE MILHARES DE BRASILEIROS, por sua incúria, estupidez e incompetência.

BOLSONARO É O COCÔ DOS CAVALOS DOS BANDIDOS DA LAVA JATO.