julho 23, 2019

LAS BRUJAS – 2ª PARTE





Enquanto o mulo se traveste de palhaço no picadeiro da mídia, o grupo las brujas, encastelado em algum escritório da Av. Paulista ou em Wall Street, puxa os cordões e determina medidas de destruição do país, comendo pelas beiradas, com nomeações de apaniguados em cargos chave, com a edição de portarias e mudanças na composição de determinados conselhos, com decretos que passam desapercebidos, mas que têm força para mudar aos poucos os rumos do país. 

Eu chamo esse escritório de las brujas (baseado no ditado paradoxal “no creo en las brujas, mas que las hay, las hay”), porque as pessoas não acreditam muito nisso, acham que é teoria da conspiração. Mas o fio da meada está no escritório do Steve Bannon, amiguinho do futuro embaixador em Washington, por acaso filho do mulo, que é o representante da direita internacional para a América do Sul. O posto nos Estados Unidos lhe garantirá acesso a informações privilegiadas, para abastecer o desmonte das democracias ainda resistentes aqui nesse pobre Sur. 

A força dessa direita, que começou a se articular a partir da coleta e processamento de bilhões de dados, que lhes permitem analisar tendências e identificar grupos e pessoas susceptíveis de adotar suas opiniões, já provou seu poder com a eleição fraudulenta do Trump e com o brexit inglês (no começo da campanha, a opinião pública era claramente contra a saída da Inglaterra do Mercado Comum Europeu, mas eles conseguiram alterar o resultado, através, principalmente, da divulgação de fake news – veneno que conhecemos bem). Agora acabam de emplacar o novo primeiro ministro da Inglaterra, aliado do Trump e filhote da direita mundial hidrófoba. 

Essa direita internacional está preocupadíssima com o avanço da China, com a Coreia do Norte e com o Irã. Mas, como são países poderosos ou que têm aliados poderosos, precisam estabelecer políticas de bloqueio econômico ou de tarifas às suas exportações, para tentarem sufocá-los. Na América do Sul, o alvo é a Venezuela, com seu petróleo. Por isso, o Brasil se torna uma espécie de cereja do bolo conservador, com o atual governo. 

Sim, é uma mistureba muito grande, mas é isso mesmo, tudo é uma trama que se interliga e só faz sentido quando se pensa em termos globais. O mulo é só um títere nas entranhas e nas tramas dessa gente. O grupo las brujas deve ser constituído de meia dúzia de cérebros pensantes e computadores possantes (sim, a direita tem muita inteligência e também inteligentsia) que lhes fornecem bilhões de dados e informações que os ajudam a tomar as decisões e manipular o governo do mulo, que não tem inteligência nem capacidade de estabelecer essas estratégias, mas faz exatamente o que o grupo las brujas manda: encena-se uma pantomima com os palhaços todos no picadeiro da política, o mulo à frente, dando coices que chamam a atenção, enquanto o caldeirão das bruxas cozinha nos bastidores, em fogo brando, a entrega do País ao mercado internacional, com todas as suas riquezas presentes e futuras, além do seu alinhamento incondicional à política dos Estados Unidos.




(Ilustração: Francisco de Goya - Le Sabbat)


julho 18, 2019

LAS BRUJAS






O emburrecimento de um povo é a estrada por onde marcha triunfalmente o despotismo, por onde caminha o fascismo. Esse emburrecimento teve a etapa do amortecimento dos sentidos, aquele momento em que se implantou a ideia de que “pior não fica”, ou “tentar o novo para ver no que dá”. Deu nisto: um governo que parece ter um plano de “comer pelas beiradas” a paciência do povo, de impor uma pauta ultraconservadora, através da nomeação sutil - apesar dos protestos, na maioria tímidos - de “gente de confiança”, ou seja, o pessoal que está realmente implantando medidas coercitivas, entreguistas e politicamente de acordo com o “pensamento estupidamente cristão” do mandatário. 

O que todos conseguimos apreender com muita clareza é que há forças reacionárias poderosas que estão por trás desse plano maléfico de transformar um país num quintal dos Estados Unidos, sendo as mais predadoras delas as grandes empresas multinacionais. Sabemos que o “grande irmão do norte” e seu presidente topetudo tem interesses políticos e econômicos; sabemos que há empresas multinacionais interessadas em nossas riquezas atuais e futuras. Tudo isso nós sabemos, mas são entidades difusas, citáveis, mas não exatamente passíveis de serem apontadas na rua, por exemplo, ou ter seu retrato nos jornais, com exceção do topetudo estadunidense, mas esse nós sabemos que é transitório, pode ser trocado daqui a dois anos. No entanto, seja que for o presidente lá os interesses deles aqui continuarão os mesmos. 

Estou falando especificamente do gato cujo rabo mal se consegue vislumbrar: estou falando do grupo de pessoas que planejam, em algum obscuro escritório da Avenida Paulista ou em Wall Street, as táticas de guerrilha que esse governo – estúpido como é – não teria capacidade de articular. 

É caso de dizer: no creo em las brujas, mas que las hay, las hay. Deve haver um staff comandado pelas tais forças superiores, para traçar os rumos, as medidas, indicar as pessoas a serem nomeadas, para redigir ou sugerir decretos, portarias etc. aos ministros e ao pessoal do segundo escalão. Vou denominar esse staff de “las brujas”, por falta de termo melhor e para dar a ele esse tom, não exatamente conspiratório, mas misterioso. 

Las brujas são o grupo que de fato manipulam o boneco articulado chamado Jair Bolsonaro, que tem intenções e maldades, mas é tosco demais para articular sutilezas, como soltar fake news, por ele próprio ou por um dos seus filhotes; desviar a atenção da imprensa e do público, com crítica, por exemplo, às taxas cobradas aos turistas ricos de Fernando de Noronha; articular uma embaixada para o filho 03 nos Estados Unidos, enquanto se nomeiam pessoas determinadas para cargos de aparente pouca importância, como diretores de reservas naturais ou áreas de proteção de interesse dos agricultores ou os outros títeres do ministério tomam medidas de desmonte do ensino público ou da saúde, etc. etc. etc. 

Deve ter saído de las brujas a tal reforma da previdência que destrói o sistema previdenciário baseado na tríplice contribuição – assalariados (1/3), patronato (1/3) e orçamento federal (1/3) – para despejar em cima apenas do povo a responsabilidade por sua aposentadoria, transformando esse povo em escravo do trabalho, para gáudio dos empregadores, e levando a que uma parcela significativa dos assalariados – aqueles que tenham renda acima da média – a buscar na previdência privada algum ganho suplementar, para a felicidade das instituições financeiras. 

E muitas outras medidas semelhantes virão por aí; nenhuma, absolutamente nenhuma, para a melhoria da situação do trabalhador, para amenizar a situação de miséria do povo. Se não acenou com nada até agora, não espere que isso aconteça. Toda e qualquer medida que esse governo – ou desgoverno, se preferir – tomar terá por objetivo beneficiar parcelas específicas da população, como o ensino familiar, ou outros grupos de interesse, como beneficiar o agronegócio ou agradar os evangélicos que o apoiam. 

Não está em curso uma conspiração, está em curso um processo claro de emburrecimento do povo, para que ele não perceba os caminhos traçados por las brujas, para que esse governo atinja seus objetivos obscuros de totalitarismo e de sujeição do País a desígnios torpes, muito torpes. 

Enquanto o presidente fake fala bobagens por aí, provocando riso e escárnio do mundo, por suas ideias toscas, como transferir a embaixada de Israel para Jerusalém, ou bater continência para a bandeira dos Estados Unidos, ou brincar com os líderes do Mercosul, com provocações infelizes, o grupo de las brujas deve estar manipulando o poder real, tomando medidas extremas de entreguismo contrárias ao povo, articulando formas de desmontar o Estado social e deixar para a inciativa privada (nunca um termo foi mais preciso para indicar a canalhice: privada) a administração de setores fundamentais para o bem estar social, sem falar na futura total privatização da Petrobrás. 

E a única liderança que tem voz, que pode ter um discurso que monopolize a oposição, porque tem autoridade, porque tem alcance internacional e, portanto, pode incomodar e até mesmo reverter essa situação, está, por artes e artimanhas de las brujas, cujo braço jurídico canalha é a operação lava jato e seus juízes veniais, aprisionado num cubículo da Polícia Federal em Curitiba. Todas as demais lideranças ou foram cooptadas ou foram dizimadas por processos espúrios ou não obtêm eco em seus protestos, porque a grande mídia os ignora de forma olimpicamente criminosa. Então, se não cremos nas bruxas, aceitemos que elas existem. Porque seu poder de destruição parece inconteste.



(Ilustração: Francisco de Goya - flying witches)



junho 05, 2019

O COISO E AS LEIS: IGNORÂNCIA PAQUIDÉRMICA





Uma lei só "pega", ou seja, é realmente cumprida, quando há punição, alguma forma de punição, ao seu descumprimento. Infelizmente é assim. O ser humano não se "conscientiza" apenas com campanhas educativas. Claro, estou exagerando. Ou melhor, estou falando possivelmente de uma parte dos seres humanos. Os que são renitentes, os que descumprem leis e regulamentos, ou por ignorância (e dê a esse termo o sentido mais amplo possível) ou por “vocação”, por desafio à sociedade. Acho entendem o que eu quero dizer, sem precisar me estender muito. 

Alguns exemplos. 

Há uma postura municipal de São Paulo que proíbe bares e estabelecimentos comerciais de jogarem à rua água servida. Quando se lava um bar, um açougue etc., a água usada não pode ser despejada na calçada ou na sarjeta. Pergunto: alguém já viu algum dono de estabelecimento comercial cumprir essa lei? Ninguém fiscaliza, ninguém pune, ninguém cumpre. (Abro um parêntese: quando minha filha transformou a garagem de minha casa numa brigaderia, o Universo do Brigadeiro, fiz questão de que os pedreiros nivelassem o piso de tal forma, que toda a água de lavagem fosse para o esgoto, através de ralo interno, e não para a rua. Não é uma jactância minha, mas apenas consciência de que não podia e não devia incomodar o meu vizinho de baixo, para onde fatalmente escorreria a água servida da lavagem diária do estabelecimento). 

Cinto de segurança. Desde que os veículos começaram a sair de fábrica com esse equipamento, todas as pessoas sabiam que ele era importante para salvar vidas, em caso de acidente. No entanto, seu uso só se popularizou quando o Código de Trânsito Brasileiro estabeleceu sua obrigatoriedade e multas a quem não o usasse. Assim mesmo, ainda se encontram recalcitrantes, e seu uso no banco traseiro – também obrigatório – é quase nulo. 

Mais um exemplo do trânsito, porque, afinal, será de leis de trânsito que vou tratar neste artigo. Quando o Congresso aprovou o Código de Trânsito Brasileiro, havia um artigo que vetava às motocicletas o trânsito entre os automóveis. Em nome da mobilidade desses veículos, o senhor presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, vetou esse artigo. Consequência: morre pelo menos um motociclista por dia na cidade de São Paulo, por causa da tal “mobilidade”, pela pressa dos chamados motoboys, que “costuram” e trânsito e provocam inúmeros acidentes. Um pequeno artigo que poderia salvar milhares de vida. Mas, uma irresponsabilidade de um presidente tornou a vida nas grandes cidades brasileiras uma espécie de sucursal do inferno. 

O lado punitivo de uma lei não existe apenas para arrecadar multas, como no caso das leis de trânsito, mas principalmente para salvar vidas. Para assegurar que o tal “cidadão de bem” não cometa imprudências e mate e morra, apenas para ganhar às vezes alguns minutos no caminho de casa, por exemplo. Mesmo com todas as punições pecuniárias – que doem bastante no bolso – há muitos que se “especializam” no acúmulo de multas, daí a contagem de pontos e a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação, quando um determinado número de pontos é atingido. E mais: quantas vezes esse mesmo “cidadão ordeiro” não comete infrações de trânsito, apenas porque não há ninguém vendo, fiscalizando, não há um radar que fotografe seu excesso de velocidade? 

Portanto, não é apenas uma grande burrice uma lei que afrouxe mecanismos de controle de infrações de trânsito, é de uma irresponsabilidade criminosa. Eliminar exame toxicológico para motoristas profissionais, dobrar o número de pontos para perda da CNH, transformar multa por não usar cadeirinhas de bebês e crianças menores em simples advertência, eliminar radares móveis da estradas, tudo isso é dar permissão aos renitentes, aos recalcitrantes, aos imbecis – que os há por aí a rodo – para matar e morrer. Ou mutilar. Ou não pensar – e a imbecilidade pode chegar a esse ponto – que uma criança solta dentro de um carro, o seu filho ou filha, o seu neto ou neta etc. pode não sofrer traumas terríveis e até morrer por uma simples batida de carro, até mesmo em baixa velocidade. 

Enfim, o projeto de lei do “capitão”, entregue pessoalmente ao Congresso por ele, ontem, 4 de junho de 2019, é um crime de lesa-humanidade, o que comprova a estupidez de um homem que não sabe o que está fazendo na presidência. E mais: comprova que ele realmente não tem nenhuma sensibilidade, nenhuma empatia para com o outro. É um ser absolutamente insensível. Que está destruindo o País com suas medidas absurdas. Que não pode continuar na presidência!


maio 20, 2019

NÃO É SÓ IDEOLOGIA, É INCOMPETÊNCIA!




O atual desgoverno desse famigerado ex-capitão baseia-se em fatos absolutamente previsíveis, desde que ele, em promessa demagógica de campanha, disse que governaria “sem conchavos”, explicitando que a busca por governabilidade – marca de nossa democracia, desde a Constituição de 1988 – através de alianças partidárias não seria jamais tolerada. 

Optou, pois, pela frágil base de sustentação política do PSL, das bancadas ideológicas dos evangélicos, do agronegócio e dos defensores das armas, a chamada “bancada da bíblia, do boi e da bala”, que têm interesses diferentes e, às vezes, divergentes. Além do apoio circunstancial e pontual de bancadas do espectro da direita, principalmente do PSDB. 

Cumpriu, ainda, a promessa de não atender a pedidos de políticos para nomeação de ministros e de assessores de primeiro e segundo escalões, esses últimos os cargos que realmente tocam o governo, porque são cargos executivos e dependem de pessoal não só politicamente preparado, mas também de nível técnico. São esses os assessores que fazem a ponte com governadores, deputados estaduais, prefeitos e até vereadores, levando suas demandas ao conhecimento dos ministros e sugerindo liberação de verbas para obras de importância administrativa e política nos estados e municípios. Nenhum governo consegue sucesso, se não tiver gente gabaritada nesses quesitos, pois a máquina administrativa não funciona sem essa gestão. 

E é aí, principalmente, que emperra a administração desse infeliz desgoverno. Além de todas as mazelas de um ministério incompetente politica e administrativamente, com panelinhas que vão de evangélicos a olavistas; além da falta de plano de governo e de consistentes políticas para o país; além da entrega da administração da economia a um indivíduo que não é economista, no sentido tradicional do termo, ou seja, não é um pensador ou profundo conhecedor de teorias políticas e, portanto, com um determinado ideário a ser colocado em prática, pois é apenas um especulador financeiro, que pode até conhecer o mercado em termos negociais, mas não em termos globais, filosóficos e ideológicos; além da própria incompetência política e administrativa do próprio “presidente”, que chega a achar que o país é ingovernável; além disso tudo, a escolha do segundo e terceiro escalões deve ter sido orientada para aspectos bastante negativos. Vamos a eles. 

Claro que estou especulando, mas com margem bastante alta de acerto, em virtude da observação dos fatos que vêm acontecendo: paralisia da máquina administrativa, resoluções contraditórias, decisões que são tomadas e repetidamente anuladas, demissões de funcionários, exonerações de pessoal qualificado por questões ideológicas (principalmente os que apoiaram partidos de oposição ao partido do “presidente”) e, principalmente, desabastecimento de insumos básicos para a população, como, por exemplo, medicamentos. 

E isso tudo acontece porque, quase certamente, os cargos de segundo e terceiro escalões e os funcionários exonerados por questões ideológicas estão sendo substituídos por quatro grupos de apoiadores do “governo”, quatro grupos de ideologias diferentes e, às vezes, opostas: 

1. Os “olavistas”, seguidores de um imbecil que é tido como guru do “presidente”, a quem ele próprio já deu mostras de subserviência, a quem ele próprio vive agradecendo por tê-lo “ajudado” na campanha. Representam esse grupo os ministros da educação e de relações exteriores, principalmente. 

2. Os “evangélicos”, a quem o “presidente” tem dado mostras também de profundo agradecimento por sua eleição, além de apoiar suas ideologias canhestras e absurdas. Representa esse grupo, principalmente, a famigerada Damares. 

3. Os militares, que têm tido em seu governo um destaque todo especial, cuja origem está na sua devoção absurda às Forças Armadas, não se sabe se por interesse, fraqueza política ou falta de visão, já que, ex-integrante do exército, dele foi expulso há quase trinta anos e não se tem notícia de que, durante o seu obscuro mandato parlamentar, tenha mantido relações assim tão próximas com integrantes da farda. Nem preciso citar o atual chefe da casa civil como um dos representantes dessa casta no “governo”. 

4. Os apaniguados e protegidos de sua prole. Os três “filhotes”, o vereador, o deputado e o senador, têm demonstrado um apetite voraz em termos de orientação, de palpites e de integração ao “governo” do pai, o que, com certeza, deve ter levado a que muitos nomeados de segundo e terceiro escalões saiam das indicações desses “meninos levados”. 

Há, claro, outros grupos de interesse, mas são minoritários e a todos eles, com certeza, o “presidente” tem buscado atender, para compor seu quadro administrativo distante de políticos e de pessoas de “ideologias suspeitas”. 

O que há de mal nisso? Não haveria nada de mal, se tivéssemos certeza de que são pessoas competentes, conhecedoras da máquina administrativa, experientes e, principalmente, detentoras de expertises específicas para os cargos que se lhes destinam. No entanto, isso, absolutamente, não acontece. Têm todos esses grupelhos que giram em torno do presidente algo em comum, algo extremamente pernicioso, além da ideologia: a falta de experiência. 

O que se vê é um pessoal totalmente despreparado, sem capacidade administrativa de qualquer espécie, que não conhece os meandros da máquina administrativa, não tem conhecimento técnico para elaborar editais de concorrência com normas que não sejam ideológicas e, estabelecidos os parceiros, não sabe negociar com fornecedores e, muito menos, reconhecer quais são os melhores parceiros, para com eles assinar contratos, estabelecer regras justas e manter a máquina funcionando. 

Um pessoal que não conhece leis, não conhece a constituição e leva ao “presidente” decretos, normas etc. mal redigidas e com claras lacunas e inconstitucionalidade e ilegalidades, o que o obriga, muitas vezes, a voltar atrás em inúmeras decisões. 

Enfim, muito além da burrice ideológica do próprio “presidente” e de seus principais assessores, paira sobre o país a noção clara de que ele não sabe governar, não tem condições para isso e, pior, não tem apetite para  exercer de fato o cargo que lhe foi confiado por alguns milhões de aloprados, num momento muito peculiar de nossa política. Não há outra saída para o imbróglio em que nos metemos: esse “governo” não pode continuar. 

O que virá depois dele, só o tempo poderá nos dizer, e temos de nos preparar se não para o pior, pelo menos, para dias muito difíceis.


maio 04, 2019

NÃO É MAIS QUESTÃO DE ESQUERDA OU DIREITA





Há fatores que levam um país à derrocada, a uma situação de penúria tal, que são necessários muitos e muitos anos para recuperar, às vezes até décadas ou séculos. Podem ser fenômenos naturais como terremotos, explosões vulcânicas, grandes enchentes, estiagens prolongadas etc. Ou podem ser fenômenos ocasionados pelo homem, como guerras intestinas, invasões e conflitos prolongados e até mesmo políticas equivocadas de governantes ineptos. 

Estamos vivendo hoje, no Brasil, um país que tem poucos cataclismos naturais, em comparação com outras nações, um momento de grande impacto para o futuro do povo, como nação civilizada. Vivemos o início de um governo tão inepto, que ele vale por terremotos devastadores, por invasões prolongadas e guerras intestinas que sagram as forças e a economia do povo. Sua capacidade de demolição do Estado está-se revelando de tal ordem e de forma tão sub-reptícia - motivo pelo qual constatamos a apatia da população diante dos descalabros ainda a poucos evidentes – que, em poucos meses, não mais teremos como reverter as situações criadas. 

O comprometimento do futuro assenta-se sobre a destruição lenta, gradual e constante de instituições democráticas e necessárias ao desenvolvimento do país, como a propalada reforma da previdência - vendida como solução única da salvação das finanças públicas, num processo de demonização do sistema de aposentadoria que tem, sim, distorções, mas não devidas às aposentadorias das classes populares. Em vez de corrigir distorções, propõe-se destruir o sistema. E o povo, ignorante das reais intenções desse desgoverno, a tudo assiste, inerte, como se o dedo de um poder superior tivesse paralisado suas forças. 

O mesmo acontece em relação a setores fundamentais para o sucesso e o progresso de qualquer povo que se queira civilizado: a demolição de suas instituições educacionais, de ensino e de pesquisa, ao lado da demonização da função dos professores e de todos aqueles que se dedicam às chamadas ciências humanas. Um país sem pensadores, sem planejadores, sem filósofos, sem educadores, sem pesquisa científica, sem futuro é o que emerge das medidas de corte visceral de verbas públicas para esses setores. É a morte da esperança de um país desenvolvido. 

E mais: diante de taxas de desemprego crescentes, não há um só vislumbre de políticas que visem a diminuir – por pouco que fosse – a aflição do povo na busca não só de um primeiro emprego, mas de qualquer emprego. Não há, por parte desse desgoverno, qualquer política voltada a resolver os grandes desafios de produção, de exportação, de destravamento dos negócios, para criação de empregos. Nenhuma empatia mostra o tal capitão – que tem mais o instinto de capitão-do-mato a caçar escravos – para com a população carente. Ainda não demoliu o sistema de amparo aos mais pobres, os programas sociais, porque ainda não teve tempo para isso. 

Quanto à saúde, o descalabro começou antes mesmo da posse: as críticas aos médicos cubanos, o que levou à sua retirada, assinalou bem o que viria e o que está acontecendo. Nenhuma medida, nenhuma proposta para melhoria das condições de saúde do povo. Os programas existentes continuam por obra e graça de sua inércia, ou seja, ainda funcionam – às vezes precariamente – porque há leis que asseguram seu funcionamento. 

A índole assassina desse capitão ressoa no aumento da criminalidade, no aumento do feminicídio e do preconceito, num processo de demonização dos grupos minoritários, reflexo de políticas equivocadas, de declarações homofóbicas e absurdas por parte não só do “presidente”, mas também de seus assessores mais próximos e, principalmente, dos seus três filhos, que parecem compor uma espécie de tríade informal do pensamento oficial. Não nos esqueçamos, ainda, de que há uma longa tradição dessa famiglia no trato com milícias e milicianos acantonados no Estado do Rio de Janeiro, responsáveis por crimes bárbaros e pela exploração das comunidades mais carentes. E mais ainda: a distensão da lei de porte de armas, o que levaria a uma corrida armamentista por parte de uma parcela da sociedade, com resultados imprevisíveis quanto ao aumento da violência doméstica, dos acidentes e dos assassinatos. E, se ainda é pouco, não nos esqueçamos de sua promessa aos fazendeiros e latifundiários de propor uma lei que permita que eles matem – isso mesmo, matem! – invasores de suas terras, sem que sejam punidos. 

Não nos estendamos mais na relação de medidas e propostas absurdas desse governo, que a lista é bastante longa para tão pouco tempo. Falemos de medidas necessárias e urgentes para defesa do País contra essa máfia engravatada que assaltou o planalto central. 

Não se trata mais de esquerda ou direita. O Brasil sobreviveu – a trancos e barrancos, é verdade – aos quase quinhentos anos de governos da direita. O Brasil prosperou – mesmo que não tanto quanto gostaríamos – durante os doze anos de governos da esquerda, também meio aos trancos e barrancos, às vezes aos trancos, porque os barrancos da direita foram sempre uma barreira quase intransponível. O Brasil sobreviveu, sobrevive e sobreviverá, portanto, a muitas ideologias, a muitos desgovernos, a muitos governantes equivocados ou realmente mal-intencionados, mas não sobreviverá ao desmonte que essa gang está disposta a levar adiante enquanto estiver no poder. 

Portanto, para finalizar, repito: não é mais questão de esquerda ou de direita, é uma questão de sobrevivência do povo e do País como nação minimamente civilizada, realmente inserida no concerto dos povos desenvolvidos, com uma população minimamente assistida e, pelo menos, com possibilidade de diminuir o imenso fosso social que separa pobres e ricos, um país com menos desigualdade social. Ou seja: é preciso lutar contra o desmonte dessa possibilidade. Mais claramente: OU TIRAMOS ESSA GANGUE QUE PRETENSAMENTE NOS GOVERNA, ANTES QUE A MILITARIZAÇÃO DA MÁQUINA ADMINISTRATIVA ATINJA UM GRAU QUE INVIABILIZARÁ QUALQUER OPOSIÇÃO, OU NÃO TEREMOS NENHUM FUTURO.

abril 12, 2019

JEAN WYLLYS: DO BIG BROTHER AO AUTO-EXÍLIO





A entrevista do ex-deputado Jean Wyllys ao Pedro Bial, levada ao ar nesta madrugada de 10 de abril de 2019 foi, além de comovente, um momento para lembrar um fato que nos passa despercebido na história recente do Brasil: o processo de idiotização da população brasileira. 


Em 2005, o ex-deputado participava do reality da Globo e foi escolhido para o paredão na primeira votação entre seus pares, por um número expressivo de votos. Não teve dúvidas e escancarou o motivo: preconceito, homofobia, por ser gay. 


O Brasil começava, nesse ano, um ciclo virtuoso de crescimento, de bem-estar social, de mudanças de mentalidade, de perspectiva de melhorias em todos os setores. O povo começava a perceber que podia, sim, confiar no presidente que elegera e que dera início a uma série de medidas de proteção social. Havia confiança. As mazelas tradicionais – pobreza, preconceito racial, homofobia, sexismo etc. – começavam a ser discutidas de forma racional e incisiva. Não se resolviam ainda, mas andava a caminho uma política de tolerância que prometia frutos de médio e longo prazos. 


O povo que assistia ao BBB solidarizou-se com a luta da militância LGBT e não só salvou Jean Wyllys da eliminação, como levou-o a ganhar o prêmio máximo do programa. Começava aí a trajetória de sucesso de um garoto miserável que lutara a vida toda contra a pobreza e o preconceito: na política, eleito deputado, recebeu prêmios por sua atuação, por sua militância e, ao mesmo tempo, começou a incomodar as forças conservadoras que o levaram a renunciar ao terceiro mandato, por ameaças de morte vindas até de autoridades. 


O que mudou nesses 13 ou 14 anos, para o país se tornar um poço de ódio, preconceito, racismo e homofobia? 


Nessa década meia, observemos um fenômeno: o crescimento exponencial das igrejas evangélicas, comandadas por indivíduos inescrupulosos e fundamentalistas que, ao lado da exploração da fé do povo através dos dízimos cobrados, obtiveram fortunas e poder. 


Caíram como um bando de gafanhotos famintos sobre a população mais desassistida intelectualmente, aproveitando-se do enfraquecimento da Igreja Católica, enfraquecimento esse ocasionado não só por escândalos, mas também porque a ICAR deixou um pouco de lado a evangelização, que era o seu forte até os anos setenta, mais ou menos. Abriu um flanco pelo qual entraram os tais “pastores”, com a bíblia na mão, prometendo curas milagrosas, prometendo o paraíso e, mais importante, condenando de forma peremptória e feroz tudo aquilo que achavam que era pecado. Cura gay, exorcismos, acolhimento caloroso aos fiéis, orações coletivas, pregações insólitas, truques de curas, controle do corpo dos fiéis, através de proibições e ameaças de fogo eterno, enfim, tudo quanto em termos de discurso amedronta e toca o mais íntimo das pessoas foi usado para arrebanhar multidões, engordar os cofres das igrejas, enriquecer os tais pastores que, mais uma vez numa jogada de marketing certeira, puderam avançar sobre a mídia e comprar várias emissoras de televisão e construir templos faraônicos, num círculo - vicioso para o povo e virtuoso para eles - de dinheiro, controle da mídia e poder. 


Inculcaram na população, com a força da palavra de deus, da bíblia e de todos os artefatos fundamentalistas, conceitos ultrapassados e preconceitos que estavam quase adormecidos, os quais ressurgiram com a fúria dos que temem a contaminação do pecado ao simples contato com o pecador. E o pecado pode ser a homossexualidade tanto quanto a promiscuidade. A velha máxima de repetir mentiras até que se tornem verdades. A velha máxima de controlar os corpos para controlar as mentes. Sexo? Só com a bênção de deus e para procriação. Mulher? Só dona de casa e sob o tacão do marido. Política? É podre, é suja, a não ser que se elejam os homens de deus, ou seja, os próprios pastores. E a bancada evangélica de 2019 é, historicamente, a maior de todos os tempos. Inaugurou-se e impôs-se o atraso. Recuamos não aos tempos bíblicos, mas aos tempos cinza que permitem o controle de um povo que, de repente, descobre ou redescobre – de uma maneira torta – que só há esperança na palavra de deus, na salvação eterna etc. 


Não foi essa força avassaladora de extremismo e de obscurantismo a única responsável pela situação de total estupidificação do povo, mas foi sem dúvida uma força poderosa para que isso acontecesse, para que se elegesse uma besta fundamentalista desconhecida para a presidência do país. 


Com tudo isso, Jean Wyllys, um deputado que ia para um terceiro mandato de sucesso, que, se não tinha a unanimidade da opinião pública, tinha o seu respeito, viu-se de repente no meio de um turbilhão de ameaças físicas e ameaças de morte e, sentindo que não teria condições de exercer com dignidade a função para a qual foi eleito, acabou por renunciar e exilar-se na Europa. Porque, se ficasse, sem dúvida, teria o mesmo destino de sua amiga pessoal e colega de partido, a vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada a mando de uma “poderosa família de políticos do Rio de Janeiro”.



abril 05, 2019

ESTOU COM MUITO DÓ DOS HUMORISTAS BRASILEIROS


(James Guentner)


A profissão de humorista, no Brasil, passa por uma séria (sem trocadilho) crise. Estou com muito dó deles. Bate-lhes à porta o desemprego; bate-lhes à porta o desprestígio; bate-lhes à porta o não ter mais como fazer graça; bate-lhes à porta o fato de que há um fato irreversível: quem vai pagar para ouvir uma piada, nos dias de hoje? 

Os programas humorísticos da televisão vão perder os patrocinadores; os teatros vão-se esvaziar; os humoristas, coitados, passarão a ser vistos, todos eles, como amadores, incompetentes, por não mais conseguirem fazer rir ao povo. 

Lembro os antigos programas e seus grandes nomes: Chico Anysio, Jô Soares, Costinha, Agildo Ribeiro, Manuel de Nóbrega, Juca Chaves, Grande Otelo, Oscarito, etc. etc. etc.; aí estão tantos outros das novas gerações: Tatá Wernek, Marcelo Adnet, Eduardo Sterblish, Fabio Porchat, Rafinha Bastos, Gregório Duvivier, Bruno Mazzeo, etc. etc. etc. – todos eles agora e por algum tempo (é o que se espera) relegados à condição de expectadores inertes de uma realidade totalmente surrealista, a de que não têm mais graça! 

Puxa vida! Nem mais uma piada profissional! Nem mesmo aquelas politicamente incorretas? Nem piada de português, nem racista, nem misógina, nem homofóbica. Até piada de papagaio perdeu a graça. Nada, nada mais que eles digam tem o condão de fazer povo gargalhar, ou dar uma risada, ou um riso sem graça. Sem graça? Sim estão todos sem graça! De repente, ficaram mudos nossos humoristas, embasbacados pelo que anda por aí... 

E o que anda por aí, que embasbacou nossos humoristas? O que está acontecendo que humilhou os mais hábeis piadistas? Que fez o público olhar para eles com cara de ué, e dizer: que é isso, caras? Atualizem-se. Vocês são agora meros bobos da corte sem corte, e até ficaram mais bobos do que bobos da corte, porque suas diatribes piadísticas encontraram concorrentes de peso, embora amadores. 

Sim, meus amigos, surgiu uma nova trupe de humoristas amadores, mas com uma força tremenda de fazer rir, com um repertório absurdo de piadas, com uma capacidade de renovação diária de chistes e gozações, com, enfim, aplomb impossível de ser alcançado por quem passou a vida toda fazendo rir e agora perde o bonde da história, perde a graça, perde as plumas. 

E essa trupe fantástica se instalou no centro do País, com todos os holofotes, com toda a mídia a espalhar e multiplicar para todos, diariamente, seus chistes, suas piadas, seus ditos engraçados, para a gargalhada geral do povo, com um repertorio realmente impressionante, diretamente do Palácio do Planalto, desde o dia primeiro de janeiro do ano da graça (do riso e do escárnio) e da desgraça (dos humoristas e... ai!... de todos nós) de 2019. 

Chorem todos os humoristas, que perdem e perderão seus empregos. Chorem agora, que o povo... bem, o povo vai chorar, sim, mas vai demorar um pouco. Por enquanto, o povo gargalha e ri, como o palhaço triste de um velho soneto.




(P.S.: quem deve estar rolando de rir é o FHC, que passou a faixa de pior presidente da história para o coiso).



março 26, 2019

ADEUS ÀS ÁGUAS DE MARÇO



(Benedito Calixto - inundação da várzea do Carmo, 1892)


Já amainam as temíveis águas de março. E São Paulo sofreu e sobreviveu, mais uma vez, à suas fúrias. Fúrias conhecidas desde tempos imemoriais, desde que, no século XVI, da recém-fundada vila de Piratininga, o padre Anchieta descreve numa carta, uma grande tempestade que, durante duas horas, castigou a vila, arrasou choupanas, provocou inundações. Se pularmos no tempo, pensando que as fúrias continuaram a açoitar a cidade, vamos encontrar um quadro famoso de Benedito Calixto, de 1892, cujo título é “a grande inundação da várzea do Carmo”. E o século XX teve inúmeros casos de “a maior inundação”, basta buscar nos arquivos da imprensa ou mesmo no famoso google. 

Com as águas do verão, fechadas agora pelas fúrias de março, centenas, talvez milhares de árvores caíram, vítimas, algumas, de raios, e a maior parte, vítimas da própria chuva. Também um fenômeno que se tem repetido insistentemente. E reclama a população da falta de “manutenção”, ou seja, de poda, das pobres árvores. E é sobre essas árvores – vítimas tanto quanto nós, seres humanos, não só das fúrias das águas, mas principalmente vítimas do nosso descaso para com elas que eu quero escrever. E descaso, aqui, não tem, absolutamente, nada a ver com podas muitas vezes radicais e assassinas, realizadas em prol de uma pretensa segurança ou da rede pública de fios ou de carros e casas próximos a elas. 

Árvores são seres vivos. E, mais do que seres vivos, são seres garantidores de vida, de melhoria do ar que respiramos; garantidores da qualidade de vida que desejamos; garantidores de nosso bem-estar, ao amenizar os efeitos de temperaturas excessivas, decorrentes da poluição causada pelo ser humano. E como seres vivos devem ser tratadas, as árvores. Devem ser cuidadas para que tenham um desenvolvimento sadio e cresçam e envelheçam sem pragas e com segurança. No entanto, não é exatamente isso o que vemos. O departamento de parques e jardins da prefeitura de São Paulo permite que as árvores plantadas em nossas ruas e avenidas sejam extremamente maltratadas. Isso quando os próprios funcionários não as podam de forma radical e sem critério, expondo seus troncos às intempéries e ao sol escaldante. 

O mais grave: permitem que cimentem ao redor de seus troncos de tal forma que praticamente nenhuma água penetre no solo para alimentar suas raízes. Eu acredito firmemente que essa seja uma das principais razões para a grande quantidade de quedas de árvores na cidade de São Paulo. Uma árvore de grande porte, sufocada pelo cimento ao redor de seu tronco, verá suas raízes diminuírem e secarem no interior do solo, ou não se desenvolverem de forma profunda e adequada à sustentação do tronco, dos galhos e das folhas, na superfície, o que, certamente, irá provocar sua queda, quando a água da chuva encharca seus galhos e folhas e os ventos fortes que acompanham as tempestades encontram uma estrutura frágil, que facilmente desaba sobre casas e carros, provocando prejuízos e a ira de uma população que não percebe ser ela mesma a causa de suas tragédias. 



Podem observar: a maioria das árvores que caem nas ruas e avenidas estavam sufocadas pelo calçamento ao redor de seus troncos. É claro que há outras razões para quedas de árvores durante uma tempestade, mas acredito ser esse um dos motivos principais, algo que poderia ter solução de médio e longo prazo com medidas razoavelmente simples: basta que se alarguem, nas calçadas, o espaço descoberto, sem cimento, sem calçamento, em torno das árvores, para que elas possam receber água em suas raízes que, fortalecendo-se, consigam, na maioria dos casos, sustentar a copa exterior. 

E preciso dizer mais uma coisa importante aos concidadãos dessa megalópole: cuidem das árvores, como cuidam de suas vidas, de suas calçadas, de suas casas. Folhas de árvore no chão não é sujeira, é coisa que uma vassoura e um saquinho de supermercado resolve. Sujeira é cocô de cachorro nas calçadas, quando os donos nãos os recolhem; sujeira é os bares despejaram nas calçadas e nas ruas a água servida da lavagem diária de seus estabelecimentos (e isso é proibido por lei!); sujeira é a ainda absurda existência de estabelecimentos comerciais que não têm ligação de esgoto e soltarem seus dejetos imundos em plena rua, misturados à água da chuva, para disfarçar (e, acreditem, isso ainda existe, sim!); sujeira é jogarem ao chão o lixo de seu consumo diário e constante, desde palitos de picolé até sacos de supermercado e garrafas pet. 

Concluindo: árvores não sujam ruas, árvores bem cuidadas não caem à toa, árvores ajudam-nos a respirar melhor, árvores melhoram o clima. Cuidemos de nossas árvores, plantemo-las por toda a cidade, sem medo, deixemos um pouco de solo descoberto em nossos quintais e até mesmo em condomínios, não impermeabilizemos totalmente nossas ruas, deixemos espaço sem cimento ao redor das árvores nas calçadas, que a natureza devolverá o nosso cuidado com uma bem melhor qualidade de vida. E quando dermos adeus às águas de março dos próximos anos, possamos fazê-lo sem precisar contabilizar tantos prejuízos.

março 19, 2019

O NOVO COLONIALISMO






O colonialismo tradicional, praticado até meados do século XX, implicava domínio do território colonizado, com um governo títere estabelecido ou um governante devidamente empossado, com toda a estrutura burocrática, preocupação com defesa, diplomacia etc. Isso dava muito trabalho, embora tenha sido sempre uma empresa extremamente lucrativa, para o país dominador, claro. Mas, o tempo passa e tudo se sofistica. Tudo se torna mais simples. Ou menos trabalhoso. Então, inventa-se uma nova forma de colonialismo, inaugurada pelos Estados Unidos, já que os países europeus têm outras preocupações lá deles. 

Nada de ocupação territorial etc. etc. etc. Basta colocar um governo títere, que ama os Estados Unidos, depois, é claro, de dar um jeito de convencer o povo a votar no imbecil que eles querem. O que não é muito difícil, com as fake news, com uma série de “preparações” devidamente combinadas com juízes corruptos e complacentes ou coniventes e que também “amam os Estados Unidos”, porque foram formados lá, e têm todas as ferramentas do direito deles, contrariando princípios jurídicos milenares, provindos do Direito Romano. 

Empossado o imbecil escolhido, coloca-se no seu pescoço a coleira, com alguns agrados típicos para domesticar cães que adoram receber biscoitinhos do dono, em troca da fidelidade total. O imbecil viaja aos Estados Unidos com toda a pompa e circunstância, é recebido na Casa Branca, visita a CIA, abana o rabo para o presidente deles, que também é um imbecil, mas é um imbecil esperto e tinhoso. Então, o imbecil que diz que “ama os Estados Unidos” abre as portas do país para o capital, para o povo, para tudo que é estadunidense, em falsos acordos em que só um país tem deveres e o outro tem todos os direitos. 

O cachorrinho amestrado daqui e seus filhotes fofinhos acham que abrir as fronteiras para os “americanos”, que não mais precisarão de visto para entrar no país, vai atrair turistas, vai atrair dólares. E que seremos felizes e enriqueceremos enfiando a mão no bolso dos gringos idiotas, que vão pagar para levar bala perdida no Rio de Janeiro, subir morro de favela, comprar fitinha do Senhor do Bonfim, na Bahia, comer baião de dois no Recife etc. etc. etc. 

Então, que venham os “americanos”! 

E eles virão, sim. Não as famílias endinheiradas do Texas, ou o branquelos de Wall Street, com suas valises cheias de projetos ou de negócios ou mesmo com a intenção de se bronzear em nossas praias, como sonha a família de cãezinhos amestrados do palácio da Alvorada, mas virá gente do mais alto gabarito das múltiplas máfias de traficantes de drogas, de armas, de carne humana. E virão todos os bandidos endinheirados para fazer – como já fizeram nos tempos de antanho em Cuba – “grandes negócios” e negociatas, transformando o nosso país num grande quintal de suas sacanagens, devidamente protegidos pela extensão de nosso território, de nossas praias desertas e paradisíacas, de nosso interior de grandes extensões vazias ou quase vazias de população. E mais: sem serem incomodados pelas nossas polícias, que mal conseguem correr atrás de nossos próprios bandidos. 

É claro que os branquelos de Wall Street não virão em carne, osso e valises cheias de dinheiro, mas mandarão seus prebostes ou os contratarão por aqui mesmo (que os haverá, às dúzias – entreguistas e canalhas são como formiga), para comprarem nossas terras, nossas florestas, nossas indústrias e ganharem muito, muito dinheiro, à custa da mão de obra de um país empobrecido pelas políticas econômicas de um idiota que se diz economista, mas é só mais um especulador canalha e entreguista do mercado de capitais; pelas políticas sociais de um cretino que cumpre bem o papel de tirar direitos trabalhistas do povo, de reformar a previdência para obrigar o povo a trabalhar até morrer; pela pregação evangélica de pastores estrategicamente colocados em postos chaves do governo para impor ao povo a ideologia do cristianismo mais torpe, aquela que prega a humildade, a pobreza e a ignorância como a única forma de entrar no tal reino de deus. 

É este, pois, o novo colonialismo. Ao qual o Brasil dá as boas-vindas, com o povo amordaçado, espezinhado, empobrecido, sem perspectiva, a não ser esperar as migalhas do dono lá de cima.




março 15, 2019

UM NOVO DESATINO




(Thomas Bühler: narrenschiff - a nau dos insensatos)


Ler “A História da Loucura na Era Clássica”, de Foucault, neste momento, talvez seja uma das chaves para entendermos certas insanidades da nossa “era moderna”, desse nosso louco século XXI. Mas, como o livro é um mar imenso de elucubrações e investigações filosóficas, creio que poucos se aventuram a singrá-lo. Então, vou apenas me basear em algumas de suas informações e investigações, para tentar desvendar um pouco do ser humano atual, que se diz tão “avançado”, mas cujas ideias e filosofia de vida mais se aproxima da idade média do que até mesmo dos séculos XVII e XVIII abordados por Foucault. 

Somos a era da tecnologia, mas não uma era iluminada em termos de visão de mundo, pelo menos não em termos globais. Com sete bilhões – e aumentando – a população desse nosso planeta perdido está mais envolta em trevas de demônios e superstições do que sonha nossa mais improvável filosofia. Há poucos luminares, filósofos, artistas, poetas, escritores, políticos (esses, então, pouquíssimos!) que tenham uma visão de mundo em consonância com toda a tecnologia e todas as descobertas e teorias científicas de que dispomos. A maioria absoluta da população está mergulhada num deísmo fundamentalista ou, se não chega a ser fundamentalista, é um deísmo supersticioso de crenças absurdas, que envolvem desde práticas primitivas de liturgias e cultos até a crença popularizada pela mídia de grande circulação em horóscopos e magos que preveem o tempo ou curandeiros que prometem a cura de unha encrava ao câncer, ou então, a promessas absurdas de líderes religiosos que pretendem expulsar o demônio dos corpos doentes e promover milagres devidamente encenados para arrancar dinheiro dos mais pobres, não só de espírito, mas também de grana, para enriquecer à custa do empobrecimento dos que neles acreditam; aiatolás embrutecidos pela guerra santa, a cometer crimes terríveis, assombrando o mundo com atentados e exércitos medievais de recuperação de crenças fundamentalistas de ódio a tudo quanto não esteja de acordo com seu pensamento retrógrado e assassino. A lista de insanidades – chamemo-las assim – alonga-se e não é de nosso interesse ir até ao seu final. Todos os que tiverem chegado até aqui, neste texto, sabem muito bem do que estou falando. 

O ser humano esqueceu muito rapidamente o mal das ideologias políticas extremadas, sejam as da esquerda (principalmente o stalinismo) sejam as da direita (colonialismo, capitalismo, nazismo, fascismo). Ou melhor dizendo, esqueceu muito mais rapidamente o mal das ideologias da direita e vem sistematicamente ressuscitando todas elas, reciclando-as e tornando-as o novo avatar para o futuro da humanidade. O colonialismo deixou de ser o de conquista territorial, para transformar-se no colonialismo cultural ou político, através do domínio dos meios de comunicação ou através de imposição da superioridade armamentista do “leão do norte”, os Estados Unidos da América, com sua sede insaciável por commodities que lhe satisfaçam o apetite consumista, à custa da destruição literal de países nos quais intervêm com o uso de bombas e armas poderosas ou através da intrusão em suas políticas, derrubando sistematicamente os governos que não lhe sejam favoráveis, na América Latina ou em qualquer parte do mundo que lhes interesse. O capitalismo, por sua vez, evoluiu para o chamado neoliberalismo e para os impérios corporativos mundiais, em que grandes, imensas empresas dominam o mercado de vários países ao mesmo tempo, com ganhos trilionários, à custa de mão de obra barata, às vezes até mesmo da mais deslavada situação de escravidão de populações inteiras, da exploração de insumos de forma predadora, sem qualquer respeito ao meio-ambiente, contribuindo, assim, em grande parte, para a deterioração da vida terrestre, através da poluição e do aquecimento do planeta. Já o nazifascismo ganhou inúmeras fauces, todas elas terríveis, e é sobre elas que nos deteremos um pouco mais, para tentar entender certas atitudes quase incompreensíveis, principalmente de jovens assassinos seriais. 

As ideologias nazifascistas divulgadas pelas redes sociais, pela internet profunda, pelos sites de doutrinação, enfim, divulgas através da rede mundial de computadores, apresentam filosofias afirmativas de grande apelo popular, seja por pregarem de forma clara ou sutil o ódio, seja por elevar a autoestima de pessoas que estejam em situação de fragilidade psicológica ou mental, por estarem passando por alguma situação difícil ou por serem muito jovens e ainda não terem desenvolvido uma visão de mundo menos tóxica, para usar um termo de fácil compreensão atual. 

Essas ideologias atraem tais mentes porque abrem perspectivas de fortalecimento do ego, da ideia de que “eu posso”, de que “eu sou um super-homem”, de que “os que me desprezam podem ser destruídos”: num jogo de ficção, destruímos nossos inimigos em nossas mentes, o que nos leva a uma catarse aliviadora de nossas frustrações e de nossos ódios, mas na “vida real” dos sítios de ódio, a destruição do inimigo transforma-se em algo físico, ou com possibilidades de sua destruição física, daí o culto às armas. E as armas que, na ficção, são simbólicas, aparecem aqui como êmbolos concretos de atração, pela sua beleza destrutiva, seu design de objeto de luxo, seu poder de alcance e, principalmente, pela possibilidade de aquisição, seja através de sites clandestinos ou de informações privilegiadas que levem ao traficante mais próximo. 

Então, chegamos ou tentamos chegar à mente do adolescente e do jovem de hoje: se ele não tiver tido uma formação sólida em termos de valores saudáveis, não importa, aí, a ideologia ou a religião; se não tiver uma família que o ampare e proteja, e não apenas o critique e puna por suas idiossincrasias e por suas dúvidas e erros próprios da idade; se ele não tiver o respeito de sua tribo, ou seja, de colegas de escola e amigos, de pessoas que também tenham valores saudáveis; se ele não tiver uma perspectiva de futuro, através de uma visão de esperança e de vida; enfim, se sua mente estiver conturbada por imensas dúvidas e descrenças, por sonhos absurdos de megalomania, ou seja, por aquilo que Foucault chama de desatino, que era uma espécie de loucura da era clássica, mas que parece permanecer na mente humana até nossos dias, os sites nazifascistas que apregoam a força do indivíduo sobre o coletivo, o ódio a todos aqueles que lhe fazem mal ou sejam obstáculos – reais ou imaginários – à realização do seu ego, do seu individualismo exacerbado pelas crenças fundamentalistas, seja de origem deísta ou meramente de culto à violência, ao poder individual, exercem sobre esse jovem um poder de atração incoercível e impossível de podermos medir até onde pode levar o fanatismo que se impregna na sua mente e na sua weltanshauung, e até mesmo desencadear mecanismos de ódio que o levem a agir e sua ação à destruição de inimigos reais ou inventados, ao massacre indiscriminado de outros seres humanos, simplesmente num ato de vingança não exatamente contra aqueles que estão sendo atingidos, mas contra toda a humanidade. Tudo isso apimentado, se assim podemos dizer, por uma certeza de que serão, se morrerem, considerados heróis por seus pares, exaltados os seus feitos pela mídia, mesmo aquela que os condenam, além de esperarem, muitas vezes, recompensas absurdas numa outra vida. 

Temos, portanto, em pleno século XXI, um novo tipo de desatino, de quase loucura, que não está catalogada em nossos manuais de psicologia e psiquiatria, que é o desatino ideológico, a loucura ideológica, provocada numa mente fragilizada por um discurso altamente atrativo de ódio e de superação, apesar de as duas palavras parecerem paradoxais. Porque, na verdade, são esses tempos em que vivemos tempos paradoxais. Convivemos com a mais alta tecnologia, que nos permite curar doenças que há dois séculos matavam em poucos dias ou eram incuráveis, que nos permite perscrutar os mais remotos recônditos do universo, que nos permite viajar através da Terra com velocidades impensáveis, que nos permite que nos comuniquemos uns com os outros instantaneamente, mesmo que estejamos a centenas de milhares de quilômetros distantes, que nos permite unir vozes e compartilhar nossas emoções, nossas ideias e nossa vida com milhares ou milhões de outras pessoas, e, ao mesmo tempo, estamos cada vez mais isolados em nosso próprio ser, em nosso próprio mundo individual, curtindo e remoendo nossa própria bile, para despejar para os outros não o nosso lado melhor de seres humanos, mas as nossas idiossincrasias, nossos preconceitos, nosso racismo, nossos ódios a tudo quanto é diferente e, o que é pior, tudo isso se espalha por todos cantos, aumentando e retroalimentando, num círculo vicioso, nossa visão de mundo deturpada e tóxica (abuso do termo), ao parecermos conectados com milhares de outros seres que pensam exatamente como nós, numa espécie de fermento onde borbulham as larvas do ressentimento e do desatino. E só parecemos conectados, porque, na verdade, nas redes sociais de que participamos, nas quais compartilhamos tudo o que nos vem à cabeça, há um imenso abismo de solidão, de profunda e amarga solidão a nos soterrar e embrutecer.

março 13, 2019

UMA RAJADA DE BALAS E UMA FACADA ELEGERAM UM ASSASSINO PRESIDENTE




A execução de Marielle foi um crime quase perfeito. Nessa época de milhares de câmeras espalhadas por aí, só mesmo um dedo-duro para indicar à polícia os autores do crime. E essa delação, como disse o delegado que prendeu os assassinos, entregou o nome deles o que permitiu o levantamento de provas, através de um trabalho minucioso de investigação. Que o tal delegado não pôde deixar de cumprir, porque estava pressionado pela opinião pública nacional e internacional e pela polícia federal. Já tentara, esse mesmo delegado, dar uma pista falsa à imprensa, pressionando presos que tinham ligações com grilagem e milícias, mas que nada tinham contra a vereadora, cuja atuação não os atingia. Foi só uma ópera bufa, para distrair as atenções, não deu certo. Agora, porém, ele sabe: sabe que os assassinos têm fortes ligações com uma “família poderosa de políticos do Rio de Janeiro”, mas tem que se calar sobre que família é essa. 

Mas, por que morreu Marielle? 

Os fatos são lógicos: ela seria candidata ao senado, concorrendo com o filhinho da tal “família poderosa”. E poderia incomodar muito o tal filhinho, cuja intenção também era o senado (e ele foi eleito!). Marielle não era um nome conhecido nacionalmente, mas tinha o respeito de muita gente no Rio, pelo seu trabalho, pela sua seriedade, pela sua inteligência. Era uma liderança que se firmava. Basta ver que seus votos eram difusos, por toda a cidade, em todas as classes sociais, o que indicava um processo de construção de uma possível candidata muito forte ao senado. Então, era preciso livrar-se dela. Teve a “família poderosa de políticos” o motivo e os meios: eliminar a concorrência e um vizinho assassino profissional, quase um familiar, com histórico de ocorrências exitosas e com um igual ideário político de direita. Que agiu com o máximo de profissionalismo. E como profissional, deve ter sido muito bem pago, apesar da ideologia. Que só foi preso porque houve uma delação e, a partir do nome dos suspeitos, a polícia pôde rastrear tudo o que fizeram para planejar e executar o crime. 

O senado estava garantido. Era necessário garantir a presidência. 

Então, a facada. Que tirou o candidato das ruas e jogou-o na mídia, sem precisar fazer mais nada, sem precisar fazer campanha, sem precisar comparecer a qualquer debate. Um golpe de mestre perpetrado por um idiota contratado que trocaria uns dois anos de prisão por um resto de vida confortável e sem problemas. Uma facada ocorrida no meio de 30 a 40 seguranças, no meio de uma multidão, quando o candidato, que sempre usava colete a prova de balas, não o estava usando naquele momento. Uma facada sem sangue. Dada por um individuo que, se quisesse realmente matar o candidato, usaria sem dúvida uma arma de fogo, fácil de ser adquirida e com chances muito mais claras de êxito. Bem, já escrevi muito sobre os furos do tal atentado e suas incoerências, para repeti-las aqui. 

Dois atentados. O primeiro, realizado por assassinos frios, com meses de preparação, com resultado exitoso. A morte de uma mulher que poderia incomodar um futuro candidato. Uma mulher cuja morte, naquele momento, com certeza na cabeça dos mandantes, não iria provocar mais do que uma investigação sem resultado. O que não esperavam: a repercussão de sua morte. Menosprezaram o fato de que ela havia, embora de forma incipiente, reunido em torno de si muitas simpatias. E isso fez toda a diferença para a repercussão como crime político de alcance internacional. O segundo, falseado e falsificado, para dar ao candidato a possibilidade de fuga ao debate, em que sua incapacidade intelectual ficaria clara, sua “tosquice” militar saltaria aos olhos de todos e o “mito” gritado por seus fanáticos seguidores se esvairia em deboche e, quase com certeza, numa grande derrota eleitoral. 

Tudo isso dentro de um cenário político de grandes incertezas e de grande polarização, preparado com muito cuidado pela direita desde a instalação da operação lava jato, pela tal “república de Curitiba”, tendo à frente um juiz venial e disposto a levar adiante um projeto que devolvesse à direita o poder, na visão deles, “usurpado” pelo Partido dos Trabalhadores. É claro que o juizeco, àquela altura, não tivesse qualquer ligação com a “família poderosa de políticos do Rio de Janeiro”, e sim com a alta cúpula de partidos de direita (PSDB et caterva) e de grandes capitalistas (bancos, indústria, agronegócio etc.). Sua formação ou deformação ocorrida nas universidades dos Estados Unidos, voltada para novos princípios jurídicos que contrariam toda a nossa tradição de jurisprudência, permitiu que ele condenasse sem provas o líder maior da esquerda, aquele que seria a pedra no sapato do golpe. E o golpe veio. E vieram as manifestações. E vieram os apoios da mídia. E vieram as fake news. E, no embrulho, a “família poderosa de políticos do Rio de Janeiro”, a quem o juizeco passou a servir como um cão atrelado pela coleira a comer na mão do dono, agora como ministro de um governo eleito através de mentiras, de golpes, de assassinatos. 

A conclusão parece óbvia: o governo brasileiro está nas mãos não só de um incompetente e tresloucado presidente, que não sabe se o que disse de manhã é verdade à tarde, mas nas mãos de um possível e provável assassino.

fevereiro 13, 2019

AS FORÇAS DEMOCRÁTICAS TÊM UMA MISSÃO: TIRAR DO PODER ESSA QUADRILHA








Gostaria de que uma fada madrinha me desse neste momento o condão da síntese, para conseguir dizer tudo aquilo que eu penso no momento de maneira direta, simples, em poucas palavras. Como isso é impossível, aí vai mais um textão, com todas as diatribes que me atribulam. Paciência. 

Não é mais possível ter qualquer tipo de condescendência para com a quadrilha que hoje governa o País. Fruto de um golpe gestado e nascido em gabinetes de Washington e Londres, para colocar no poder um títere de direita, através de fake news, mentiras afirmadas e reafirmadas pelos candidatos e repercutidas na mídia e até mesmo através de um falso atentado em Juiz de Fora, essa quadrilha ultrapassa todos os limites do razoável, com sua estupidez paquidermicamente impermeável. 

Todos os dias, uma notícia ruim, todos os dias uma medida que só tem por interesse a possibilidade de a quadrilha melhor assaltar os cofres públicos e manter-se no poder; todos os dias, uma fala estúpida de um dos tais ministros que constituem o pior ministério já reunido em toda a história do Brasil; todo dia, alguém diz o que não devia, ou melhor, diz o que realmente é esse governo: uma alcateia de lobos ignorantes a uivar para a lua estadunidense e a fazer tudo o que seu dono manda. Ninguém se salva, nesse governo que tem por líder um sujeito estúpido, grosseiro, sem princípios, totalmente alheio aos problemas do país, que ele mal conhece, emparedado num discurso torpe de moralismo e messianismo (sem nenhum trocadilho com o nome da besta-fera), que não sabe o que diz e não sabe o que fazer, sem consultar seus auxiliares tão corruptos e ignorantes quanto ele. 

Nunca, na história deste país, tivemos um desgoverno tão degradante e tão degradado em tão pouco tempo. Não há a mínima possibilidade de que qualquer medida que esse governicho tome dê resultado, porque ele não governa pensando no povo, nem no povo que o elegeu. Está literalmente se lixando para os pobres e os menos favorecidos pela sorte. Tem ódio da minorias, principalmente de negros e índios, por preconceito racial e por achar que não é responsabilidade sua proteger a quem esse governo não fez mal, ou seja, não entende a dívida histórica que a nação tem para com essas populações, porque não conhece História, nada entende de Sociologia e tem horror à Filosofia e a qualquer conhecimento, principalmente de Humanidades. Tem ódio às minorias LGBT etc., porque está eivado de princípios deístas obscurantistas de uma bíblia mal lida e mal digerida por seus próceres evangélicos, eleitores e hoje até mesmo ministros de seu governo. 

Para esses cretinos que se instauraram no poder, inaugura-se a era do “apagadismo”. Ao contrário do iluminismo e do cientificismo, ambos movimentos históricos que tiveram momentos de fulgor e de trevas, por não conseguirem evitar o fator humano de usar conceitos sejam eles corretos ou equivocados tanto para o bem quanto para o mal, de acordo com ideologias estúpidas e não comprovadas, o apagadismo tem como objetivo apagar tudo o que foi feito, não importa se programas sociais bem sucedidos, não importa se medidas de proteção às minorias, não importa se estejam dando certo ou errado, é preciso apagar tudo o que foi feito pelos outros, principalmente pelo Partido dos Trabalhadores, a cujos dirigentes e princípios os idiotas do momento dedicam um especial ódio, sem nem saber direito que princípios e que políticas adotadas tiveram repercussão positiva não só para a sociedade brasileira, mas o apoio e o aplauso internacionais. A esquerda, para esses próceres do apagadismo, só engendrou monstros e ditadores, que impõem sua ideologia ao povo, escravizando-o. Não percebem que esse processo de desconstrução das ideologias, contra as quais eles vivem pregando, coloca-os frente ao paradoxo de condenar as ideologias para impor sua própria ideologia neofascista e neopentecostal, com a pregação de princípios anticientíficos e obscurantistas, baseados em crendices ou em crenças há séculos abandonadas pela ciência, estimulando teorias estúpidas, como a da terra plana ou de uma conspiração comunista internacional. 

O desplante do golpe chegou ao absurdo de condenar sem provas, através de juízes comprados e devidamente alocados em postos chaves, um ex-presidente, porque temem sua palavra, temem sua capacidade de liderança e, principalmente, temem seu poder de galvanizar os eleitores e retomar o poder. Então, é preciso mantê-lo preso, até morrer, de preferência. Então, para que Lula seja libertado, só há um caminho: destituir do poder a canalha golpista, corrupta, obscurantista e recolocar o país nos trilhos da democracia plena, sem influência de organismos internacionais de direita a distribuir fake news em redes sociais e a disseminar mentiras pelos meios de comunicação de massa. Esse será um trabalho hercúleo, da união das forças democráticas do país, para não só destituir do poder a quadrilha, como refazer todo um percurso de educação popular para a verdade, para a aceitação de que a democracia e a liberdade são bens inalienáveis, que não podem ser trocados por leis que dão licença à polícia de executar suspeitos, por reformas que só irão beneficiar os mais ricos, por medidas que entregam as riquezas da nação à sanha do mercado internacional, com a desculpa de que é preciso salvar a economia do país. Salva-se a economia, enterra-se o povo. 

Combater não apenas a era do apagadismo, inaugurada pelos imbecis de plantão em Brasília, mas também lutar com todas as forças legais e disponíveis para tirar do governo, o mais rápido possível, essa quadrilha, antes que seja tarde demais. É uma missão difícil para as forças democráticas, mas não impossível. E, acima de tudo, urgentemente necessária.