maio 31, 2023

LULA, VENEZUELA E O MARCO TEMPORAL



Lula assobiou para os malucos poderem dançar. E eles não só dançaram, mas sapatearam, sambaram, boleraram, tangaram, funkearam. Gastaram saliva, gastaram texto, gastaram os dentes e ficaram roucos de tanto ranço. Estou falando, é claro, da mídia, da oposição, dos influencers e todos os que caíram de pau no Lula, porque ele estendeu tapete vermelho e defendeu o presidente Maduro, da Venezuela.

Concordo: Maduro não é flor que se cheire, em termos de democracia. Assim como muitos outros chefes de estado do mundo (nem vou perder tempo citando-os, por ser inútil). Mas, existem aqueles que despertam mais o ódio das direitas hidrófobas que pululam nos parlamentos (principalmente no parlamento tupiniquim) e na mídia internacional. Maduro é um deles. Afinal, está sentada a Venezuela sobre reservas de petróleo. E não é preciso dizer mais.

Também concordo em que Lula exagerou nos salamaleques a Maduro. O Brasil não tem nada a ver com os problemas internos de nenhum país, claro. Por isso, não pode e não deve discriminar nenhum governo, nenhum governante. Principalmente, porque há negócios e interesses que estão acima de qualquer viés ideológico. Então, bastava receber bem o Maduro e tudo estaria bem, pelo menos as críticas seriam menores. Mas, sim, Lula exagerou.

Abro parênteses. Concordo com praticamente tudo quanto disse Lula. A Venezuela é discriminada e seu povo tem sofrido por causa de destemperos e coisas estúpidas de seu líder. Essa história de punir todo um povo por atos de seus governantes, sob o comando dos Estados Unidos já deu. O mundo não é mais o quintal deles. E de ninguém. Há meios menos cruéis de dizer a um povo que ele pode se libertar de suas lideranças despóticas. Sem intervenções, sem imposições. Como já dizia um líder estadunidense: “Não se pode enganar todo o povo todo o tempo”.

Abro parênteses de novo para dizer que, neste mundo globalizado por fake news e por empresas e indivíduos inescrupulosos e manipuladores, está cada dia mais difícil um povo escolher seu destino livremente. Mentes e vontades têm sido abduzidas por essas máquinas universais a soldo de grupos de ideologias perigosas, principalmente de neonazifascistas.

Voltemos a Lula e a Maduro, para deixá-los por aqui. Antes, duas coisinhas a mais. Primeira, o escorregão do presidente pode lhe trazer um ou outro dissabor político e diplomático, mas não passará disso. Não atinge a ninguém mais. Logo será esquecido e o mundo voltará a girar. Segundo, enquanto os malucos dançavam e sapateavam sobre esse fato, a boiada nazifascista bolsonarista arreganhava as porteiras da Câmara, para aprovar, isso sim, uma medida que tem o potencial de uma bomba atômica a cair sobre as cabeças de nossos povos originários e sobre toda a política ambientalista que o Brasil precisa desenvolver, para se tornar, de novo, uma nação respeitada no mundo.

Estou falando do tal “marco temporal” que 283 insanos e vingativos deputados aprovaram, na manobra absurda do presidente da Câmara, Arthur Lira. Absurda por dois motivos: queriam os “nobres deputados” que o Supremo Tribunal Federal tirasse da pauta a votação da mesma matéria que lá tramita, num ato de tentativa da chantagem mais deslavada de um poder da República contra outro e queria, ou melhor, quer o senhor presidente da Câmara “mandar um recado” ao Executivo, de que o governo precisa “pagar a fatura” de possíveis, prováveis e futuros apoios a matérias de seu interesse, numa clara – aí, sim – chantagem de um poder da República contra outro.

Abro novos parênteses, para dizer que temos péssimas lembranças de presidentes da Câmara que extrapolaram seus poderes e se tornaram verdadeiros gângsteres da política. Há um deles, inclusive, que está preso, por crimes não só políticos. E o atual está pretendendo ser um novo Nero, a pôr fogo no governo e no país, já que a “lira”ele vem tocando há tempos...

Voltando ao que interessa: estamos diante não de uma Câmara de Deputados, mas de uma quadrilha de chantagistas, formada principalmente pelos deputados do chamado “centrão” bolsonarista que, além de toda essa chantagem absurda, ainda querem se vingar nos povos originários, nos nossos indígenas, pela derrota que seu candidato sofreu nas urnas. E querem perpetuar, com a aprovação desse fatídico “marco temporal” o genocídio dos povos indígenas iniciado pelo governo anterior, além da destruição de nossas matas e rios, com a abertura para garimpeiros, madeireiros e criadores de gado das fronteiras das terras demarcadas das populações originárias. Um verdadeiro ato de estupidez paquidérmica (que me perdoem os elefantes) que ajudará o Brasil a se manter nas trevas do negacionismo, nas garras de ideologias fascistas e na desconfiança dos demais países de que não somos mesmo um país sério.

Ou pior, vai pensar o mundo que somos um país que não sabe escolher seus representantes nos diversos parlamentos, porque é permanentemente enganado por espertalhões, falsos religiosos, falsos juízes e quem sabe mais que tipo de gente estúpida e mal-intencionada em que insistimos em votar.

E não sabemos, mesmo.

Prova está aí, nesse Congresso recheado de neonazifascistas, de racistas, de genocidas, de preconceituosos, de falsos defensores da democracia, de juízes, religiosos, de empresários e defensores do agronegócio que se comportam como gado na defesa de interesses inconfessáveis e antipatrióticos.

maio 21, 2023

A CPI DO MST

 



Uma comissão parlamentar de inquérito quase sempre dá palanque e visibilidade a seus componentes: a mídia divulga e comenta em boletins diários os principais depoimentos, os embates, as contradições das testemunhas etc. Também pode virar, muitas vezes, um circo mambembe de atuações toscas de parlamentares despreparados, de testemunhas circenses e grotescas, desgastando esse importante instrumento de vigilância que a Câmara e o Senado usam para fiscalizar, denunciar e até, muito raramente, para punir malfeitos.

O MST, Movimento dos Sem Terra, todos sabemos, tem uma trajetória de luta pela reforma agrária e pela defesa da agricultura familiar. Invade terras? Sim, e todos estamos carecas de saber que invadem, sim, terras. E muitas vezes, invadem grandes propriedades ou latifúndios que eles consideram improdutivos. Isso incomoda o agronegócio e os grandes fazendeiros? Sem dúvida alguma. E eles odeiam o MST. Cometem exageros? Com certeza, dentre as inúmeras vezes que eles invadiram “propriedades” (sejam improdutivas ou do agronegócio, ou de grandes corporações), houve, sim, alguns exageros, cometidos irrefletidamente ou não por membros do MST. São condenáveis esses exageros? Muitas vezes, sim. Embora a luta ideológica – de que não vamos falar neste breve artigo – possa justificar tais exageros, principalmente porque o outro lado também comete muitos exageros, e até mesmo crimes. Mas deixemos de lado, por enquanto, esse aspecto da luta agrária brasileira, luta que vem de há muitas e muitas décadas.

O que nos importa, por enquanto, é tecer algumas considerações sobre a CPI já instalada e que pretende investigar as atividades do MST.

Na minha modesta opinião, eu creio estaremos diante de um palco iluminado para o show dos deputados da bancada ruralista e da direita hidrófoba que existem hoje no Congresso. E será um show de horrores.

Explico: o objetivo deles é demonizar o MST. Ou tentar, pelo menos. E tudo quanto vão “descobrir” ou “denunciar” do MST todos nós já sabemos. Então, a mídia vai ampliar as denúncias, vai dar voz a essa malta hidrófoba que vai se esgrimir contra as testemunhas favoráveis ao MST – se houver - e vai dar o seu próprio show de sempre, ao lado da direita, porque também a mídia – comprometida sempre, por seus patrões, com os valores da direita – já deve estar afiando os dentes para cravar no pescoço dos “bandidos” do Movimento dos Sem Terra.

Não haverá nada de novo, portanto. E quando o show não tiver mais nada a mostrar ao público e à mídia, o relator – escolhido a dedo para isso – irá apresentar suas conclusões óbvias de condenação, de vários pedidos de indiciamento e até de prisão dos membros do MST.

E depois? E depois, nada.

Porque conclusões de CPIs são apenas conclusões de CPIs. Algumas até se transformam em lentos processos na justiça, ou pedidos de investigação pela Polícia Federal ou por outro órgão fiscalizatório, mas... na maioria dos casos (vide a CPI da covid-19, que relatou crimes graves!) nada acontece. Tudo cai no esquecimento, porque outra CPI ou outros assuntos vão ocupar a vida dos senhores parlamentares e alimentar a mídia, cuja boca é sempre voraz por novidades e cuja memória tem o tempo do acontecimento.

Então, meus amigos, relaxemos e deixemos que se abram as cortinas do espetáculo, para criticar e, principalmente, para aplaudir ou demonizar aqueles com os quais concordemos ou discordemos, nas redes sociais, nos desenhos dos cartunistas, nas piadas de sempre, nos comentários divertidos ou rancorosos. E vida que segue.