maio 31, 2011

GESTÃO EM CHOQUE



Durante todas as campanhas do PSDB/DEM, o bordão inevitável: o Brasil precisa de um choque de gestão.


Nunca entendi exatamente o que isso queria dizer, mas me parece que os demotucanos pretendiam, com a frase, dizer que são ótimos gestores, ou seja, sabem administrar. Acho que é isso, mas cada vez tenho menos certeza de que seja isso mesmo.


Veja-se o caso de São Paulo. Há dezesseis anos sofre o Estado o tal choque de gestão, com as administrações demotucanas que se sucedem. A tucanalha tomou conta do governo e, com a ajuda de bicadas precisas da mídia paulistana (que também tem bico grande e língua comprida) tem-se mantido no poder. Até a Prefeitura da capital eles conseguiram arrastar para debaixo de suas asas.


Estado. Bem, as duas únicas grandes obras desses dezesseis anos, executadas pela tucanalha, foram justamente na capital: o Rodoanel e o metrô.


O Rodoanel é uma rodovia circular que pretende contornar a cidade de São Paulo, interligando todas as rodovias que chegam à cidade, com o objetivo de desafogar o tráfego de caminhões, principalmente, que passam por dentro da capital para acessar outras rodovias.


É uma obra importantíssima e extraordinária: já tem pouco mais de 80 quilômetros e está sendo construída há 16 anos! Pela gestão da tucanalha.


Metropolitano da cidade de São Paulo: uma obra que se iniciou há mais de 30 anos. Durante a gestão da tucanalha, muito foi prometido, pouco foi realizado: houve até a queda de um túnel, matando várias pessoas e quase engolindo um bairro inteiro. No mais, só promessa.


Se alguém souber de alguma outra grande obra da tucanalha nesses dezesseis anos, favor apontar, já que os aspectos básicos exigidos pela população, como saúde, educação, saneamento etc., está tudo, absolutamente tudo uma droga ou só na promessa.


Cidade de São Paulo. Há nove anos no poder, conseguiram os demotucanos (o atual prefeito, eleito pelo DEM, praticamente abandonou a administração para fundar um novo partido) deixar a cidade num total e absoluto caos: na educação, na saúde, no transporte público... O único projeto de sucesso do inefável prefeito foi a lei Cidade Limpa, que aboliu todos os cartazes de lojas comerciais e de propaganda. Mas, ironicamente, a cidade, em termos de limpeza pública, está um lixo.


Toda semana, a mídia de bico grande e língua comprida da capital anuncia que o inefável prefeito está lançando mais um megaprojeto: ou é um grande parque na Zona Sul, com um imenso túnel por baixo, ou é um novo e imenso centro de convenções na Zona Norte. Tudo para ganhar manchetes de jornal e comentários por vários dias da mídia. Está tudo no papel, no entanto, porque nada, absolutamente nada acontece.


Agora, a Copa do Mundo. Tanto o tucano de carteirinha do palácio dos Bandeirantes quanto o inefável ex-demotucano da prefeitura não moveram uma só palha para preparar a cidade para a Copa do Mundo. E a chamada iniciativa privada – os grandes empresários do Estado que era chamado locomotiva do Brasil – parece que também tomaram chá de pena de tucano e ficaram apáticos, catatônicos, perdidos, de tal forma que é possível que nós, paulistanos, se quisermos assistir a algum jogo ao vivo teremos de viajar para Brasília, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte.


É esse o choque de gestão da administração demotucana no Estado de São Paulo. Na verdade, é muito mais uma gestão em choque com todos os princípios da boa administração, que deixa todos em volta em estado de choque, absolutamente paralisados.


Um choque de gestão modelo caranguejo: só faz a locomotiva do Brasil andar para o lado ou para trás e perder o bonde da história. Aliás, nem bonde existe mais em São Paulo: o último saiu de circulação há mais de trinta anos e nele embarcaram todas as boas intenções da tucanalha paulista.


Agora, estão lá, empoleirados no alto do Morumbi, os tucanos com seus bicos grandes suas línguas compridas, que só servem, mesmo, para fazer promessas arrogantes que nunca são cumpridas.

maio 30, 2011

LIBERAÇÃO DA MACONHA: COMO É ISSO, COMPANHEIRO?



De novo ao velho e, ao mesmo tempo, sempre atual assunto das drogas. Agora, por conta de dois fatos: primeiro, a marcha da maconha, em São Paulo, há poucos dias, violentamente reprimida pela polícia; segundo, pela entrada em cena, com todo o seu prestígio, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a defender a chamada “descriminalização” das drogas, que é uma maneira disfarçada de legalização.

Discutir o problema do uso de drogas não é um direito da cidadania, mas um dever. Não dá para ignorar o problema que é o tráfico, não dá para ignorar que a dependência química já se tornou uma epidemia (diria até uma pandemia), não dá para ignorar que há, sim, uma cultura das drogas a assolar a sociedade, pondo em risco o futuro de grande parte de nossa juventude. Portanto, simplesmente proibir uma manifestação pública a favor da maconha, por exemplo, não é o melhor caminho de uma sociedade democrática. Há o outro lado, no entanto, o lado dos manifestantes, que não são nenhuns anjos a defender a democracia ou o direito à liberdade, mas tão somente um grupo de usuários da droga despreocupados com quaisquer outros aspectos que não sejam os de seu interesse. De qualquer modo, falta diálogo, falta espírito democrático, falta bom senso, tanto da polícia quanto dos manifestantes. Isso, no entanto, é o menor dos males, nesse assunto espinhoso.

Já o caso de nosso ex-presidente, é preciso um pouco mais de cuidado ao analisar suas opiniões, embasadas em discussões internacionais, levadas a cabo por muitos políticos e administradores de todo o mundo. Ele tem, sim, razão em dizer que a guerra ao tráfico, levada a efeito nos últimos quarenta anos, não obteve resultado algum e que essa política repressiva deve, sim, ser modificada. Isso, no entanto, não quer dizer que o melhor caminho seja a descriminalização das drogas. Há exemplos claros de que, em alguns países, tal fato obteve melhores resultados do que a simples e pura repressão. Mas são exemplos localizados e aplicados em situações específicas, como na Holanda, onde o controle do uso é extremamente rígido. Além do fato de que é um país de longa tradição ordeira, com uma população e uma extensão territorial que não se compara a muitos outros países, como Brasil, Estados Unidos ou Argentina.

O tráfico é hoje uma das maiores indústrias do mundo. Movimenta bilhões de dólares. As apreensões de drogas efetuadas pelo aparelho policial em todo o mundo não têm conseguido abalar esse império, porque seus lucros são tão absurdos, que as perdas se tornam insignificantes diante de sua capacidade de recuperação. Isso graças aos consumidores, claro, de todos os países, principalmente dos mais desenvolvidos, cuja capacidade de compra e consumo parece inesgotável. E não creio que essa máquina extremamente poderosa possa ser desarticulada com qualquer tentativa de controle de sua produção pelo Estado. Eles trabalham na sombra, sem pagar impostos, com mão de obra semiescrava, e não quererão se legalizar e, ao mesmo tempo, se vulnerabilizar diante da sociedade. São proscritos e continuarão a ser, porque não lhes interessa ser legais, em termos de leis, porque sabem que não serão nunca “legais”, ou seja, nunca serão aceitos por uma parcela muito influente de todas as sociedades, de todos os países.

Se legalizada a produção, a comercialização e o consumo das drogas (ou mesmo que seja só da maconha) exigirão um esquema de fiscalização e controle tão absurdo, que consumirá a maior parte dos impostos pagos pelos produtores, comerciantes e usuários. E então teremos campanhas e mais campanhas – como já temos em relação a outros produtos – para baixar os impostos. Quem sabe, até, um “impostômetro da maconha”, na Associação Comercial dos Produtores de Maconha, com executivos engravatados a deitar falação nos meios de comunicação sobre a carga abusiva de impostos que os “coitados” são obrigados a levar aos cofres do governo, onerando os consumidores, para deleite, aplauso e repercussão de certa mídia.

Além disso, deixo no ar a pergunta: quanto de área agricultável caberá ao plantio da cannabis (e de outras “plantinhas inocentes”?) Se já temos problemas de abastecimento de alimentos, com o agronegócio digladiando com os ambientalistas para aumentar o desmatamento, a fim de ampliar seus lucros, como resolver a equação com a entrada de mais um jogador nesse imbróglio de cartas marcadas? Não nos esqueçamos que o cultivo da maconha e de outras plantas que dão origem às drogas exige grandes extensões de terra, já que toneladas de folhas são necessárias para a extração comercial de seus princípios ativos. Ah, sim, pode-se sempre recorrer à indústria farmacêutica e produzir a droga sintética. E então químicos e cientistas formados a peso de ouro poderão dedicar sua inteligência â pesquisa de drogas cada vez mais “interessantes” em termos comerciais.

E como já discuti em outros artigos, há o problema da saúde pública. Como um sistema já por si mesmo sobrecarregado irá cuidar da saúde dos drogados? Ou alguém ainda acha, inocentemente, que as drogas (e entre elas a maconha, sim, senhores!) não são prejudiciais ao organismo humano? Quem não for usuário também vai pagar a conta? E se só os “consumidores” é que vão custear o seu sistema de saúde, então teremos empresas a responsabilizar-se por “planos de saúde especiais”, com uma agência controladora do governo, com mais gente e mais despesa? Enfim, como equacionar economicamente a situação da saúde dos drogados?

São tantos os aspectos e tanta a complexidade envolvendo a ideia de uma sociedade a conviver pacificamente com drogas e drogados, que, enfim, acho uma temeridade pessoas como ex-presidentes (e não falo apenas de nosso ex-presidente) virem a público e defenderem pura e simplesmente a tal “descriminalização” ou a “legalização” da maconha, sem que isso seja amplamente discutido pela sociedade como um todo. E essa discussão tem que ser muito, muito profunda, porque abarca uma amplidão de problemas que afetam diretamente a vida de todo o planeta, praticamente.

Além disso, quando as sociedades modernas caminham em direção à difusão de práticas de vida saudáveis, com, por exemplo, o cerco à indústria do tabaco, discriminando os fumantes e obrigando-os a ficar em verdadeiros guetos e, em breve, eu acredito que esse mesmo tipo de campanha se voltará contra a indústria de bebidas alcoólicas, será caminhar na contramão de tudo isso a ideia de que drogas como a maconha podem ser toleradas e, até, permitidas e controladas pela sociedade, como se fosse possível controlar esse tipo de coisa, como já dissemos acima.

Para finalizar, esse assunto não se esgota aqui, nem se esgotará tão cedo. Já escrevi várias vezes sobre isso (basta verificar na tag “drogas”, para encontrar os demais artigos) e continuo a achar que a discussão deve ser levada a termos civilizados, sem os slogans idiotas de pessoas que levantam a bandeira do “legalize já” porque veem o mundo por entre a fumacinha de seu cigarro, sem perceber que são massa de manobra – ou inocentes úteis – de uma poderosa indústria, como também o fazem os produtores de fumo. E discutir civilizadamente o problema das drogas envolve colocar na mesa todos os jogadores, ou pelo menos, todas as consequências de ações tomadas a favor da liberalização ou da continuidade de uma política até agora inútil de repressão total. Talvez haja um caminho do meio. Ou melhor, haja vários outros caminhos. E é isso que devemos descobrir. Com respeito, imaginação e muita, muita discussão.

maio 20, 2011

BOBAGENS SOBRE LINGUÍSTICA E GRAMÁTICA QUE SE OUVEM POR AÍ, OU: A GENI DA VEZ





A imprensa noticia, com grande destaque, que o Ministério da Educação aceita livro de Português que defende erros gramaticais.

Então, muita gente corre atrás da matéria. Especialistas são ouvidos. Todo mundo dá palpite.

Só falatório idiota, na maioria absoluta dos casos.

Não entenderam nada, como sempre. Porque não querem entender. Querem apenas confundir, criticar, bagunçar. Lembram o Chacrinha: não vim para explicar, mas para complicar.

Há mais de trinta anos, quando ainda lecionava Gramática Portuguesa – portanto, era um extremado defensor da norma culta – diante de estudos linguísticos sérios, de gente que entende do que está falando, já defendia o aspecto comunicador do falar do povo, ou melhor, do registro linguistico da fala, que é diferente da norma culta.

Quem não se lembra da música de Chico Buarque, RODA VIVA, para citar um “poeta popular” que tem os dois pés na erudição da norma culta?

Começa assim:

“Tem dias que a gente se sente...”

Ora, experimente corrigir a letra do Chico: “HÁ dias que a gente se sente...”

Quando falamos, principalmente, em ambiente informal, entre iguais, sem preocupações outras que não conviver, jogar conversa fora, comunicar-se, afinal, não nos preocupamos com as regras gramaticais. Então, é comum que muitos de nós eliminemos, por exemplo, alguns “s”; que alguns de nós não critiquemos construções até mais “erradas” do que isso, em nossos amigos e companheiros.

Porque, em termos linguísticos, é assim que acontece: há a norma culta, falada em ambientes formais e usada na escrita; e há a fala, o discurso que usamos informalmente, que está perfeitamente adquado ao sistema da língua, mas não às normas rígidas da gramática.

Em termos linguísticos, não existe o conceito de “erro”. Existe apenas a tentativa de comunicação, que falantes diversos – individuais ou de uma determinada coletividade - exercem de maneiras diferentes, dentro de um sistema maior, que é o idioma. Isso é o que importa.

Portanto, não há nenhum motivo de grita, de protesto, quanto à advertência dos autores ou autoras do livro em questão. Que não se deve, por exemplo, escrever: “os livro”. Que esse registro também não é adequado a todos os ambientes, em termos de fala.

Vou ser redundante: alertam, apenas e tão somente, que existe, sim, um outro registro que, não contrariando o sistema do idioma, é considerado inadequado em certos ambientes mais formais e “cultos” e que pode provocar – e realmente provoca – preconceito contra quem assim fala.

Tudo o mais é bobagem. Tudo o mais é falatório inútil. Tudo o mais é gasto desnecessário de tempo e tinta de jornais e revistas, por quem não sabe o que diz, porque não tem conhecimento linguístico, ou por quem quer apenas jogar pedra na Geni.

E a Geni da vez foi o livro do MEC. Ou terá sido o Ministro?


(Ilustração: Olavo Bilac, na pena de Toni D'Agostinho)

maio 03, 2011

NÃO CHORAREI POR TI, OSAMA...






Neste dia 2 de maio de 2011, os Estados Unidos da América, a nação mais poderosa da Terra, atualmente, amanheceu comemorando o assassinato de seu mais temível inimigo: Osama Bin Laden, o terrorista chefe da organização chamada Al-Qaeda.

Milhares de pessoas nas ruas, cantando, dançando e mostrando a bandeira estadunidense.

Não, não chorarei pelo terrorista que comandou a morte de milhares de pessoas pelo mundo afora, inclusive a famosa destruição das Torres Gêmeas de Nova Iorque, em setembro de 2001, no mais audacioso ataque sofrido pela nação que agora dança e canta seu assassínio.

Também não vou cantar, nem dançar, nem comemorar a morte desse homem.

Osama Bin Laden comandou uma orquestra da morte e do terror, que vai continuar tocando sua música fúnebre por muitos e muitos anos, a despeito de tudo.

Porque o ódio está na raiz do pensamento humano, tanto daquele que vinga quanto daquele que é vingado.

Há tanta barbárie nas ações terroristas da Al-Qaeda de Bin Laden ou de quaisquer outras de mesma ideologia quanto há barbárie no seu assassinato puro e simples por tropas estadunidenses altamente treinadas, numa cidade distante do Paquistão. E mais barbárie ainda se manifesta na comemoração das ruas da grande nação, porque, por mais que tenham sofrido na carne os atentados de Bin Laden, comemoraram tão somente um ato, não de justiça, mas de vingança.

O ciclo vicioso está instalado: vingou-se a ação do assassino mais procurado do mundo, mas sua morte será devidamente cobrada por seus seguidores e estes, por sua vez, serão caçados em todos os cantos da Terra. Assim se cumprirá até à exaustão o rito de sangue, barbárie e dor a que o homem dito civilizado, do século XXI, prossegue executando como seus mais remotos ascendentes.

E tudo pontificado e devidamente desculpado pelos deuses de um e outro lado. Porque, enquanto esses deuses – travestidos num só – existirem no pensamento humano, tudo se permite, tudo se justifica.

E o homem – que não é o anjo decaído, mas o animal ainda pouco evoluído – continuará a cultivar a morte, a destruição, o assassínio, a guerra, o genocídio e todas as demais formas de barbárie, porque tem na boca o gosto ancestral de sangue que nenhum verniz de civilização consegue eliminar.

Por isso, não chorarei por Bin Laden, o outro lado da mesma moeda sanguinária dos instintos mais baixos do homem, mas continuarei lamentando sempre a continuidade da barbárie praticada por homens que se dizem civilizados.




(Ilustração: Giger)