março 30, 2015

UM PIBINHO DE MERDA, SIM. E VOCÊ SABE POR QUÊ?







Decepcionante o crescimento do Brasil em 2014. Um verdadeiro "pibinho" de merda. Com todas as condições para dar munição aos partidos oposicionistas e aos jornalistas e comentaristas econômicos que pululam no PIG - o Partido da Imprensa Golpista. Todos comemoram. E tome pau no governo. Principalmente na presidenta. Dá para explicar? É complicado, talvez até meio inexplicável, mas vamos lá.

Primeiro, devo dizer que não acredito em teorias conspiratórias. Mas acredito, sim, em conspirações. A História do Brasil tem várias. Até a Inconfidência Mineira foi uma conspiração. Deu errado, porque dedo-duro já havia naquela época. A Proclamação da República foi outra. Que deu mais ou menos certo. O século XX teve várias. Algumas deram errado, outras deram certo. E a que deu mais certo resultou no golpe de 1964 e mais de vinte anos de pau no lombo do povo, com os ditadores militares.

Muito já se escreveu sobre o golpe militar de 64. Muito ainda há por escrever e esclarecer. O meu palpite por que o golpe deu certo? Bem, é só um palpite, baseado em fiapos de fatos e boatos, mas com uma grande dose de lógica. O golpe de 64 foi gestado e financiado aqui mesmo, por gente muito poderosa: os latifundiários da época. Eles se borravam de medo das reformas preconizadas pelos sindicatos, pelos trabalhadores, e mais ou menos encampadas pelo governo de João Goulart. Tinham medo, principalmente, da reforma agrária, até hoje um nó na garganta dessa gente. Eles, os latifundiários, que não eram muitos, naqueles tempos, mas detinham uma alta porcentagem do PIB, engendraram o golpe. Melhor dizendo, abriram os cofres e financiaram  o golpe. Com duas ajudas poderosas: a imprensa golpista da época - praticamente os mesmos de hoje - e a Igreja Católica Apostólica Romana. A imprensa descia a lenha no governo e berrava contra a iminência de um governo comunista; os padres pregavam o anticomunismo e atiçavam seus fiéis contra a ameaça vermelha. A "marcha com deus pela família" foi o teste de convencimento de uma ala radical das Forças Armadas. Com a promessa de grana e apoio político, o general Mourão sublevou as tropas de Minas. O resto é história. Tenebrosa. Mas história. Feita de sangue e lágrimas do povo. Com a grana do que hoje chamamos de agronegócio e que naquela época era "apenas" um bando de fazendeiros endinheirados e donos de muitas, muitas terras. A adesão das demais forças econômicas e conservadoras, como a indústria (paulista e paulistana, principalmente) se deu de forma praticamente natural. E vejam que a conspiração não contava com os recursos de comunicação que temos hoje. Mas eles, os endinheirados conspiradores da época, já possuíam recursos infinitamente superiores de comunicação do que nas conspirações anteriores. O Brasil já entrava celeremente na era das comunicações - que eram ainda ruins, sim, mas possíveis.

Agora, em pleno século XXI, um fax distribuído, por exemplo, da sede da Federação Paulista das Indústrias, pode alcançar praticamente todas as cidades do País em poucas horas e de forma sigilosa. Eu disse fax? Nossa, que atraso! Já existem outras formas bem mais avançadas e mais rápidas e mais seguras. Nem preciso dizer quais são, não é mesmo? Então, uma ordem, uma convocação, uma discussão de qual a melhor forma de derrubar um governo pode ter a facilidade de teleconferências cifradas entre os poderosos da indústria, do comércio, do agronegócio e espalhar-se em pouquíssimo tempo.

Houve, então, uma conspiração?

Posso afirmar, com quase absoluta certeza, que sim, houve uma bem urdida conspiração. Só que os tempos são outros. As Forças Armadas não têm mais aquele viés político de cinco décadas atrás. Só os velhinhos do Clube Militar é que ainda sonham com golpe militar, entre um bocejo e outro de um jogo de gamão. Então, a melhor forma de derrubar um governo é pela velha e boa manipulação do povo, para que vote na oposição, num candidato previamente preparado e alinhado com o conservadorismo e com a política econômica mais cara aos poderosos, aquela que vigorou até o final do século XX, o capitalismo selvagem de lucros absurdos, aliada a uma classe trabalhadora manietada pela pobreza e distante de quaisquer conquistas que a tirassem da miséria e da pobreza.

Mas, para manipular o povo, hoje, mesmo com a força do PIG - o Partido da Imprensa Golpista - totalmente do seu lado, é preciso criar condições. E as condições, em 2013, um ano antes das eleições, eram totalmente desfavoráveis ao conservadorismo (que, aliás, nem se queixava muito, pois seu lucro e seus ganhos estavam sendo preservados pelo governo): o Brasil alcançara o posto de sétima economia do mundo; o PIB não lá grande coisa, mas havia um crescimento sustentado e constante; a economia recebia investimentos do exterior, e mantinha-se aquecida; o desemprego atingia baixíssimas taxas históricas, praticamente um regime de pleno emprego; havia uma nova classe trabalhadora emergente e forte o bastante para manter o consumo; a pobreza absoluta, um mal crônico, era paulatina e poderosamente reduzida, com os programas sociais do governo; o petróleo do pré-sal começava a ser explorado e atingíamos marcas cada vez maiores de produção; a inflação estava domada e não havia sinais iminentes de que ela voltaria; enfim, havia uma onda otimista no ar, e a presidenta alcançava índices bastante generosos de aprovação popular.

Estou mentindo? Então, pegue os jornais do ano, até mais ou menos dezembro de 2013. Você verá e lerá que estávamos no caminho de um País próspero e mais justo, em termos econômicos e sociais. Se havia problemas? Claro que havia inúmeros gargalos: na educação, na infraestrutura, por exemplo, mas nada que não pudesse, com o tempo, ser devidamente equacionado.

De repente, a partir de janeiro de 2014, o ano das eleições, as condições econômicas começaram a se deteriorar. O castelo parecia de cartas e um vento forte soprava de todos lados e espalhava a crise, o anúncio da crise, o prognóstico da crise e, pouco a pouco, à medida que o ano eleitoral segue, a crise se instala. Os investimentos despencam. A inflação ameaça. O governo demora a fazer a leitura da situação e solta medidas emergenciais, como se tudo aquilo fosse apenas um vento mais forte soprado do exterior, que uma desoneração aqui, um socorro acolá não resolvesse, já que a economia do País tinha - ainda tem - fundamentos sólidos. Só não contava que suas medidas cairiam no vazio da não colaboração - que o governo, um tanto ingenuamente, esperava - das forças econômicas, ou seja uma reação da indústria, do comércio e do agronegócio. Eles - os grandes industriais, os grandes produtores - tinham simplesmente enfiado o pé no freio dos investimentos e começavam até mesmo a demitir funcionários. Uma medida engendrada e muito bem orquestrada nos meandros de suas associações de classe e rapidamente colocada em execução, na surdina, sem que ninguém, nem o povo nem o governo pudessem desconfiar, já que contavam com o silêncio e a colaboração da grande mídia.

Foi ou não foi uma bela conspiração?

Que contou, ainda, com uma mãozinha do destino: o acidente que matou Eduardo Campos acabou inflando, por tortuosos caminhos, que todos mais ou menos conhecemos, a candidatura de Aécio Neves, que chegou ao segundo turno, com chances de vitória. Aí, o povo da grana, que havia apostado na frenagem da economia, que havia parado suas máquinas e perdido dinheiro com isso, entrou em parafuso e jogou pesado para garantir a vitória de seu candidato. Não deu certo. Por uma margem pequena, mas sólida, Dilma venceu as eleições. E o parafuso em que eles entraram continuou girando para um possível terceiro turno: a desestabilização do segundo mandato da presidenta, num movimento inominável de sacanagem, que culmina com uma campanha sórdida pelo impeachment, em que entram elementos de preconceito e de ódio ao partido da presidenta, jogando em suas costas toda a culpa por tudo de ruim que esteja acontecendo no País, desde as prisões por corrupção de altos executivos envolvidos na chamada Operação Lavajato, até o crescimento da inflação provocado pelo desaceleramento da economia, que eles patrocinaram no começo de 2014.

E há mais motivos que alimentaram o ódio "deles", dos poderosos que sempre mamaram nas tetas do governo: os controles estabelecidos pouco a pouco pela Receita Federal têm feito com que "eles" tenham de pagar os impostos devidos, coisa que nunca fizeram até hoje. Haja vista a operação Zelotes, da Polícia Federal, a envolver "peixes graúdos" da indústria, do comércio, do setor bancário etc. num escândalo - esse sim, sem precedentes - de evasão fiscal. Além, é claro, de uma guinada realista do próprio governo rumo ao rearranjo e reorientação da economia, o que, se der certo, propiciará, até o final do ano, fôlego à presidenta e, possivelmente, uma nova derrota das forças conservadoras daqui a quatro anos.

Então, já que a conspiração de 2014 não deu certo, tentam o golpe branco do impedimento da presidenta e a entrega do governo a uma pessoa um pouco mais confiável, no caso, o vice-presidente, do partido que hoje está na base do governo, mas que, diante de outras circunstâncias e diante de pressões econômicas feitas no momento e do jeito certo, pode mudar de lado.


"Yo no creo em las conspiraciones, pero que las hay, las hay".

 


PS: Ah, sim: se ouvir o PIG berrando que a PETROBRÁS está falida ou que a corrupção aumentou, NÃO ACREDITE, pois VOCÊ ESTÁ SENDO TERRIVELMENTE MANIPULADO com mentiras que se repetem, que se repetem, que se repetem, até que as pessoas pensem que são verdades.




março 01, 2015

NÃO DÁ PARA SE CONFIAR NELES, MAS ÀS VEZES CONSEGUEM SER UM POUCO DECENTES...




Todos sabemos a posição  política do jornal O Estado de São Paulo. Seus donos odeiam o PT e assumem clara defesa do neoliberalismo peessedebista. Dão voz ao ex-presidente FHC para escrever em suas páginas diatribes e demais vômitos de sua mente tacanha e estúpida. Criticam tudo o que faz o atual governo. Enfim, é um órgão comprometido com a direita.

No entanto, até eles - os intrépidos jornalistas do Estadão - são acometidos, de vez em quando, de laivos de decência política e conseguem publicar algo menos nojento do que a defesa das ideias de seus patrões. Foi o que ocorreu na edição de hoje, domingo, 1 de março de 2015.

No seu principal caderno de política, a reportagem de Lourival Sant"Anna, "Lista de Janot é o maior teste de credibilidade do Ministério Público" teria tudo para ser mais uma diatribe "anti tudo o que está aí". Mas, surpreendentemente, começa criticando as escolhas dos Procuradores da República da era FHC, quando o então presidente sempre ignorava as listas votadas pelos demais procuradores e escolhia  o nome mais conveniente, como o do famigerado Geraldo Brindeiro, o "engavetador-mor" da República, conduzido ao cargo por quatro vezes sucessivas, porque nunca levou adiante uma só denúncia contra o governo tucano.

Ressalta, ainda, a reportagem a liberdade que ganhou o Ministério Público a partir dos governos do PT. O ex-presidente Lula obteve retumbantes derrotas e amargou grandes dissabores nas mãos de Procuradores por ele nomeados, em vários momentos, principalmente na crise do denominado pela imprensa "escândalo do mensalão". No entanto, em nenhum momento deixou de ter uma postura altamente republicana, nomeando procuradores independentes. E mais: a reportagem termina enaltecendo o ex-presidente, com uma declaração de sua assessoria de que "o ex-presidente não se arrepende, ao contrário, tem orgulho de ter respeitado a autonomia do Ministério Público e sempre nomeado o primeiro colocado na lista tríplice". Ou seja: isso, sim, é ser republicano, é ser democrata, é não ter medo (como nunca tiveram os governos do PT, inclusive a presidenta Dilma) de ser investigado, de "cortar na própria carne", como muitas vezes teve de fazer, e de punir quem precisa ser punido por "mal feitos". Ao contrário, muito ao contrário, dos governos autoritários e corruptos que o Estadão defende, principalmente na figura de FHC, seu queridíssimo articulista.


Não dá para se confiar nessa gente, mas às vezes até eles dão a mão à palmatória e, diante da verdade translúcida dos fatos, publicam reportagens decentes, não distorcem os acontecimentos, mesmo que, mais adiante, em editoriais azedos, venham a cair de novo no seu ódio à verdadeira democracia e a enaltecer o neoliberalismo peessedebista.