maio 20, 2019

NÃO É SÓ IDEOLOGIA, É INCOMPETÊNCIA!




O atual desgoverno desse famigerado ex-capitão baseia-se em fatos absolutamente previsíveis, desde que ele, em promessa demagógica de campanha, disse que governaria “sem conchavos”, explicitando que a busca por governabilidade – marca de nossa democracia, desde a Constituição de 1988 – através de alianças partidárias não seria jamais tolerada. 

Optou, pois, pela frágil base de sustentação política do PSL, das bancadas ideológicas dos evangélicos, do agronegócio e dos defensores das armas, a chamada “bancada da bíblia, do boi e da bala”, que têm interesses diferentes e, às vezes, divergentes. Além do apoio circunstancial e pontual de bancadas do espectro da direita, principalmente do PSDB. 

Cumpriu, ainda, a promessa de não atender a pedidos de políticos para nomeação de ministros e de assessores de primeiro e segundo escalões, esses últimos os cargos que realmente tocam o governo, porque são cargos executivos e dependem de pessoal não só politicamente preparado, mas também de nível técnico. São esses os assessores que fazem a ponte com governadores, deputados estaduais, prefeitos e até vereadores, levando suas demandas ao conhecimento dos ministros e sugerindo liberação de verbas para obras de importância administrativa e política nos estados e municípios. Nenhum governo consegue sucesso, se não tiver gente gabaritada nesses quesitos, pois a máquina administrativa não funciona sem essa gestão. 

E é aí, principalmente, que emperra a administração desse infeliz desgoverno. Além de todas as mazelas de um ministério incompetente politica e administrativamente, com panelinhas que vão de evangélicos a olavistas; além da falta de plano de governo e de consistentes políticas para o país; além da entrega da administração da economia a um indivíduo que não é economista, no sentido tradicional do termo, ou seja, não é um pensador ou profundo conhecedor de teorias políticas e, portanto, com um determinado ideário a ser colocado em prática, pois é apenas um especulador financeiro, que pode até conhecer o mercado em termos negociais, mas não em termos globais, filosóficos e ideológicos; além da própria incompetência política e administrativa do próprio “presidente”, que chega a achar que o país é ingovernável; além disso tudo, a escolha do segundo e terceiro escalões deve ter sido orientada para aspectos bastante negativos. Vamos a eles. 

Claro que estou especulando, mas com margem bastante alta de acerto, em virtude da observação dos fatos que vêm acontecendo: paralisia da máquina administrativa, resoluções contraditórias, decisões que são tomadas e repetidamente anuladas, demissões de funcionários, exonerações de pessoal qualificado por questões ideológicas (principalmente os que apoiaram partidos de oposição ao partido do “presidente”) e, principalmente, desabastecimento de insumos básicos para a população, como, por exemplo, medicamentos. 

E isso tudo acontece porque, quase certamente, os cargos de segundo e terceiro escalões e os funcionários exonerados por questões ideológicas estão sendo substituídos por quatro grupos de apoiadores do “governo”, quatro grupos de ideologias diferentes e, às vezes, opostas: 

1. Os “olavistas”, seguidores de um imbecil que é tido como guru do “presidente”, a quem ele próprio já deu mostras de subserviência, a quem ele próprio vive agradecendo por tê-lo “ajudado” na campanha. Representam esse grupo os ministros da educação e de relações exteriores, principalmente. 

2. Os “evangélicos”, a quem o “presidente” tem dado mostras também de profundo agradecimento por sua eleição, além de apoiar suas ideologias canhestras e absurdas. Representa esse grupo, principalmente, a famigerada Damares. 

3. Os militares, que têm tido em seu governo um destaque todo especial, cuja origem está na sua devoção absurda às Forças Armadas, não se sabe se por interesse, fraqueza política ou falta de visão, já que, ex-integrante do exército, dele foi expulso há quase trinta anos e não se tem notícia de que, durante o seu obscuro mandato parlamentar, tenha mantido relações assim tão próximas com integrantes da farda. Nem preciso citar o atual chefe da casa civil como um dos representantes dessa casta no “governo”. 

4. Os apaniguados e protegidos de sua prole. Os três “filhotes”, o vereador, o deputado e o senador, têm demonstrado um apetite voraz em termos de orientação, de palpites e de integração ao “governo” do pai, o que, com certeza, deve ter levado a que muitos nomeados de segundo e terceiro escalões saiam das indicações desses “meninos levados”. 

Há, claro, outros grupos de interesse, mas são minoritários e a todos eles, com certeza, o “presidente” tem buscado atender, para compor seu quadro administrativo distante de políticos e de pessoas de “ideologias suspeitas”. 

O que há de mal nisso? Não haveria nada de mal, se tivéssemos certeza de que são pessoas competentes, conhecedoras da máquina administrativa, experientes e, principalmente, detentoras de expertises específicas para os cargos que se lhes destinam. No entanto, isso, absolutamente, não acontece. Têm todos esses grupelhos que giram em torno do presidente algo em comum, algo extremamente pernicioso, além da ideologia: a falta de experiência. 

O que se vê é um pessoal totalmente despreparado, sem capacidade administrativa de qualquer espécie, que não conhece os meandros da máquina administrativa, não tem conhecimento técnico para elaborar editais de concorrência com normas que não sejam ideológicas e, estabelecidos os parceiros, não sabe negociar com fornecedores e, muito menos, reconhecer quais são os melhores parceiros, para com eles assinar contratos, estabelecer regras justas e manter a máquina funcionando. 

Um pessoal que não conhece leis, não conhece a constituição e leva ao “presidente” decretos, normas etc. mal redigidas e com claras lacunas e inconstitucionalidade e ilegalidades, o que o obriga, muitas vezes, a voltar atrás em inúmeras decisões. 

Enfim, muito além da burrice ideológica do próprio “presidente” e de seus principais assessores, paira sobre o país a noção clara de que ele não sabe governar, não tem condições para isso e, pior, não tem apetite para  exercer de fato o cargo que lhe foi confiado por alguns milhões de aloprados, num momento muito peculiar de nossa política. Não há outra saída para o imbróglio em que nos metemos: esse “governo” não pode continuar. 

O que virá depois dele, só o tempo poderá nos dizer, e temos de nos preparar se não para o pior, pelo menos, para dias muito difíceis.


maio 04, 2019

NÃO É MAIS QUESTÃO DE ESQUERDA OU DIREITA





Há fatores que levam um país à derrocada, a uma situação de penúria tal, que são necessários muitos e muitos anos para recuperar, às vezes até décadas ou séculos. Podem ser fenômenos naturais como terremotos, explosões vulcânicas, grandes enchentes, estiagens prolongadas etc. Ou podem ser fenômenos ocasionados pelo homem, como guerras intestinas, invasões e conflitos prolongados e até mesmo políticas equivocadas de governantes ineptos. 

Estamos vivendo hoje, no Brasil, um país que tem poucos cataclismos naturais, em comparação com outras nações, um momento de grande impacto para o futuro do povo, como nação civilizada. Vivemos o início de um governo tão inepto, que ele vale por terremotos devastadores, por invasões prolongadas e guerras intestinas que sagram as forças e a economia do povo. Sua capacidade de demolição do Estado está-se revelando de tal ordem e de forma tão sub-reptícia - motivo pelo qual constatamos a apatia da população diante dos descalabros ainda a poucos evidentes – que, em poucos meses, não mais teremos como reverter as situações criadas. 

O comprometimento do futuro assenta-se sobre a destruição lenta, gradual e constante de instituições democráticas e necessárias ao desenvolvimento do país, como a propalada reforma da previdência - vendida como solução única da salvação das finanças públicas, num processo de demonização do sistema de aposentadoria que tem, sim, distorções, mas não devidas às aposentadorias das classes populares. Em vez de corrigir distorções, propõe-se destruir o sistema. E o povo, ignorante das reais intenções desse desgoverno, a tudo assiste, inerte, como se o dedo de um poder superior tivesse paralisado suas forças. 

O mesmo acontece em relação a setores fundamentais para o sucesso e o progresso de qualquer povo que se queira civilizado: a demolição de suas instituições educacionais, de ensino e de pesquisa, ao lado da demonização da função dos professores e de todos aqueles que se dedicam às chamadas ciências humanas. Um país sem pensadores, sem planejadores, sem filósofos, sem educadores, sem pesquisa científica, sem futuro é o que emerge das medidas de corte visceral de verbas públicas para esses setores. É a morte da esperança de um país desenvolvido. 

E mais: diante de taxas de desemprego crescentes, não há um só vislumbre de políticas que visem a diminuir – por pouco que fosse – a aflição do povo na busca não só de um primeiro emprego, mas de qualquer emprego. Não há, por parte desse desgoverno, qualquer política voltada a resolver os grandes desafios de produção, de exportação, de destravamento dos negócios, para criação de empregos. Nenhuma empatia mostra o tal capitão – que tem mais o instinto de capitão-do-mato a caçar escravos – para com a população carente. Ainda não demoliu o sistema de amparo aos mais pobres, os programas sociais, porque ainda não teve tempo para isso. 

Quanto à saúde, o descalabro começou antes mesmo da posse: as críticas aos médicos cubanos, o que levou à sua retirada, assinalou bem o que viria e o que está acontecendo. Nenhuma medida, nenhuma proposta para melhoria das condições de saúde do povo. Os programas existentes continuam por obra e graça de sua inércia, ou seja, ainda funcionam – às vezes precariamente – porque há leis que asseguram seu funcionamento. 

A índole assassina desse capitão ressoa no aumento da criminalidade, no aumento do feminicídio e do preconceito, num processo de demonização dos grupos minoritários, reflexo de políticas equivocadas, de declarações homofóbicas e absurdas por parte não só do “presidente”, mas também de seus assessores mais próximos e, principalmente, dos seus três filhos, que parecem compor uma espécie de tríade informal do pensamento oficial. Não nos esqueçamos, ainda, de que há uma longa tradição dessa famiglia no trato com milícias e milicianos acantonados no Estado do Rio de Janeiro, responsáveis por crimes bárbaros e pela exploração das comunidades mais carentes. E mais ainda: a distensão da lei de porte de armas, o que levaria a uma corrida armamentista por parte de uma parcela da sociedade, com resultados imprevisíveis quanto ao aumento da violência doméstica, dos acidentes e dos assassinatos. E, se ainda é pouco, não nos esqueçamos de sua promessa aos fazendeiros e latifundiários de propor uma lei que permita que eles matem – isso mesmo, matem! – invasores de suas terras, sem que sejam punidos. 

Não nos estendamos mais na relação de medidas e propostas absurdas desse governo, que a lista é bastante longa para tão pouco tempo. Falemos de medidas necessárias e urgentes para defesa do País contra essa máfia engravatada que assaltou o planalto central. 

Não se trata mais de esquerda ou direita. O Brasil sobreviveu – a trancos e barrancos, é verdade – aos quase quinhentos anos de governos da direita. O Brasil prosperou – mesmo que não tanto quanto gostaríamos – durante os doze anos de governos da esquerda, também meio aos trancos e barrancos, às vezes aos trancos, porque os barrancos da direita foram sempre uma barreira quase intransponível. O Brasil sobreviveu, sobrevive e sobreviverá, portanto, a muitas ideologias, a muitos desgovernos, a muitos governantes equivocados ou realmente mal-intencionados, mas não sobreviverá ao desmonte que essa gang está disposta a levar adiante enquanto estiver no poder. 

Portanto, para finalizar, repito: não é mais questão de esquerda ou de direita, é uma questão de sobrevivência do povo e do País como nação minimamente civilizada, realmente inserida no concerto dos povos desenvolvidos, com uma população minimamente assistida e, pelo menos, com possibilidade de diminuir o imenso fosso social que separa pobres e ricos, um país com menos desigualdade social. Ou seja: é preciso lutar contra o desmonte dessa possibilidade. Mais claramente: OU TIRAMOS ESSA GANGUE QUE PRETENSAMENTE NOS GOVERNA, ANTES QUE A MILITARIZAÇÃO DA MÁQUINA ADMINISTRATIVA ATINJA UM GRAU QUE INVIABILIZARÁ QUALQUER OPOSIÇÃO, OU NÃO TEREMOS NENHUM FUTURO.