dezembro 15, 2022

NÓS SABEMOS O QUE “ELES” FIZERAM NESSES QUATRO ANOS. MAS “ELES” TAMBÉM SABEM

 


(Edvard Munch - o grito)


Foram quatro anos de pesadelo. Está chegando ao fim. O pesadelo, não suas consequências. O fim de um ciclo de trevas não significa necessariamente o início de outro, luminoso e promissor.

O governo, ou melhor, o desgoverno que se encerra dia 31 de dezembro deixa não exatamente uma “herança maldita”, mas um descalabro total, em termos não só ideológicos, mas de administração pública. Nunca se viu, desde a instalação da república, em 1889, um tal desprezo pela prática administrativa. Todos, absolutamente todos os setores da administração pública estão um caos.

Enxertaram na máquina pública milhares de militares – que não servem para nada – e milhares de evangélicos, que servem menos ainda: são incompetentes e limitados a uma visão de mundo apequenada e voltada para interesses mesquinhos. Resultado: destruíram mecanismos tradicionais de administração, de controle, de compliance. A máquina pública está simplesmente emperrada.

À parte isso, ideologizaram programas de governo, admitindo práticas absurdas ou fechando os olhos para o assalto ao bem público de verdadeiras quadrilhas que fizeram e desfizeram como bem entenderam dentro de seus setores, sem qualquer controle, sem se envergonharem do que faziam, por que o faziam de caso pensado e com o beneplácito e até mesmo o incentivo daquele que se dizia presidente.

Isso aconteceu, por exemplo – e é só um único exemplo –, nos órgãos ambientais. Primeiro, nomeou-se um ministro comprometido com qualquer negócio escuso para ganhar dinheiro, menos com o meio ambiente. Depois, afrouxaram todos os mecanismos de fiscalização. Ibama e ICMbio foram usados e abusados não para cuidar de questões ambientais, mas para abrir as portas para madeireiros, garimpeiros, agronegócio irresponsável etc. E a “boiada passou”, deixando um passivo de destruição que levaremos anos e anos para identificar e mitigar. O mesmo ocorreu na educação, na saúde, nas relações exteriores, na área social, na economia, enfim, não há um só ministro do qual se possa dizer que tenha feito um trabalho pelo menos razoável.

Serão necessários muitos meses e, em alguns casos, alguns anos para que a administração federal retome boas práticas e volte a funcionar a pleno vapor. Por isso, eu sugeri no início deste texto, que os tempos de trevas ainda podem permanecer, mesmo após a posse do novo governo.

O pior: nós sabemos o que esse desgoverno fez, mas ele também sabe. E sabe muito bem. Porque não foi apenas por incompetência – uma tremenda incompetência, sem dúvida – : foi de caso pensado, era uma espécie de programa de governo a destruição sistemática do Estado, com fins inconfessáveis para nós, que assistimos a tudo sem nada poder fazer, mas certamente “eles” sabiam o que pretendiam. E o que pretendiam, podemos ter certeza, não era e não é nada democrático ou voltado para qualquer interesse do povo brasileiro.

dezembro 11, 2022

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE FUTEBOL

 

(Autoria não identificada)


Eu vejo futebol há séculos. Aprendi que é o esporte coletivo mais belo e refinado que há, porque depende de uma série de fatores enormes, em campo e fora dele, inclusive o imponderável. Uma bola chutada no gol que faz uma curva improvável e engana o goleiro. Os cobradores de pênalti que temem o goleiro adversário, porque viram que já fizera grandes defesas e erram o pênalti. Um drible desconcertante, que desmonta toda uma defesa. Um time que joga 90 minutos da defesa e faz um gol no último minuto, em contra-ataque. Jogador que entra em campo para fazer a diferença e é expulso na primeira jogada, por entrada violenta no adversário. Gols de beleza plástica e gols bisonhos, de canela, de bunda, até de mão. Erros absurdos de juízes, que decidem uma partida. Juiz apitando o fim do jogo, quando a bola estava viajando da cobrança de escanteio para a área. Defesas mirabolantes de goleiros atrevidos. Frangos acachapantes de grandes goleiros e defesas impressionantes de goleiros medíocres. Vitórias por goleadas e vitórias sofridas. Enfim, o improvável pode acontecer até no último segundo. Equipes bem mais fracas vencendo equipes poderosas. Goleadas improváveis, assim como derrotas absurdas. Todo o drama humano se passa durante os 90 minutos ou mais de uma partida de futebol. Por isso, é tão apaixonante. Mas, o apito final encerra tudo. Quem perdeu que chore e se lamente, quem ganhou que comemore. E nós, torcedores, só temos a agradecer aos atletas, quando ganharam e entender nosso time, quando perde, já que nada mais há a fazer. E aguardar o próximo jogo, o próximo campeonato. Só. Mais nada. Que os analistas escrevam e falem o quanto quiserem, que é para isso que ganham: para fazerem belas análises, que aplaudimos, ou para falarem um monte de merda, que lamentamos. Se nosso esquadrão poderoso (na nossa opinião) foi derrotado ou foi vitorioso, que o choro ou a alegria não ultrapassem o tempo de algumas poucas horas de luto ou euforia e sigamos a vida. Consolemo-nos com o fato de termos sido testemunhas de um belo espetáculo, que se renova a cada partida, seja de uma seleção de um país ou de um time de várzea. Futebol é isto: a vida entre quatro linhas, com seus dramas e alegrias. Assim como um belo concerto de música ou um filme emocionante ou uma peça de Shakespeare. Arte, enfim. Não sofrimento.