"O que está a acontecer no
Brasil é o que as pessoas, as que têm a compreensão do que é ser de esquerda,
bem como entendem o processo político e econômico em andamento e colocado em
prática pelo PT, chamam de esquerdismo infantil praticado por partidos de esquerda,
a exemplo do PSOL, do PSTU e do PCO. Essas agremiações, apesar de serem
antagônicas aos partidos direitistas, unem-se a eles em um frenesi político,
que lembra a ferocidade dos tubarões ou dos leões na hora de se alimentar. É
surreal ao tempo que real."
As palavras acima são do
articulista Davis Sena Filho:(http://olhonotexto.wordpress.com/2013/10/31/a-protestomania-coxinha-o-desespero-da-direita-e-a-mascara-black-bloc-da-globo/)
Não só concordo com o
"infantilismo" desses partidos, que beira à ingenuidade, como também o
debito na conta de movimentos sociais, como o MPL - Movimento Passe Livre - que
pode até ter propostas sérias, mas que não entende nada de política e faz o
jogo dos adversários.
Fatos: vivemos num País, livre e
democrático. Não confundam, por favor, DEMOCRACIA com SISTEMA POLÍTICO. Nosso
sistema político deixa a desejar, claro, mas isso só se modificará com uma
reforma política séria. Mas, enquanto isso, o jogo democrático é o
presidencialismo de coalizão (por causa da grande quantidade de partidos
políticos - mais de 30!) e disso não se pode fugir. É ingenuidade pensar que um
único parido político possa governar hegemonicamente o País.
Temos, e isso também é um fato
incontestável, um governo de ESQUERDA no poder central. Depois de centenas de
anos de lutas. O que não se pode fazer é as forças de esquerda, por motivos de
querelas infantis, fazerem o jogo da direita hidrófoba e, em vez de negociar
com o governo, confrontá-lo e tratá-lo como inimigo. O inimigo não são o PT ou
o PMDB ou outros partidos da base governista, mas o PSDB, o DEM e seus
agregados, além de toda a massa conservadora incrustada nas redações da grande
mídia concentrada na mão de cinco "famiglias" que estão a fazer de
tudo para retomar o poder e destruir as conquistas sociais inegáveis dos
últimos dez anos.
Quando digo que o MPL abriu a
caixa de Pandora, estou tentando passar um recado claro: enquanto derem abrigo
ou se acovardarem diante da meia dúzia de fascistas a soldo da direita que
tomam de assalto qualquer manifestação ou não tiverem uma estratégia clara de
repúdio aos grupos minoritaríssimos e violentos a soldo da direita, os
movimentos sociais não podem continuar na mesma toada de convocação de
manifestações que provoquem confronto e aticem a sanha da PM e provoquem
reações falsamente iradas da mídia.
Há que se repensar o que é
"manifestação pacífica" que acaba em depredações e ocasiona
transtorno à maioria absoluta da população, que começa a associar
"vandalismo" com reivindicações legítimas, o que pode provocar um
imenso retrocesso nas lutas populares.
São idiotas os que pensam que não
há nada por trás das máscaras dos truculentos. E é ingenuidade total pensar que
eles não estão ali a soldo de gente muito mais perigosa, que usa o niilismo
desembestado desses paspalhos para promover comoção social e desestabilizar o
processo eleitoral que se inicia. E mais ainda: máscara por máscara, não só os
grupelhos fascistoides se aproveitam do anonimato, mas também grupos de
bandidos e traficantes começam a perceber que têm um filão interessante a ser
explorado para chantagear as forças repressivas e o governo. Mais uma vez, a
política instrumentaliza a bandidagem comum. E a história se repete como farsa,
uma farsa grotescamente articulada por gente que sabe muito bem o que quer e o
que "eles" querem não é nada bom para o futuro do País, porque já o
sabemos há muito o que vem no rastro de um governo de certas forças da direita
que sempre esteve no poder.
Enquanto a esquerda faz reuniões
e apoia os "movimentos legítimos do povo", as manifestações, sejam
elas por demandas sociais ou de protesto e exalta a liberdade de expressão e de
manifestação, a direita se articula e bota na rua o bloco dos mascarados -
pagos e devidamente instruídos - para, depois, nas redes midiáticas esbravejar
contra a destruição do patrimônio público e, especialmente, particular.
Esses aprendizes de feiticeiro se
esquecem, no entanto, que, quando se soltam os demônios, ninguém mais os detém.
E o controle começa a ser perdido, quando agridem covardemente - ou seria de
caso pensado? - um comandante da PM, em São Paulo, desafiando quem os
contratou.
Passo a acreditar que tudo é de
caso pensado, pois a repercussão foi imediata: pesquisas de institutos da
direita logo trataram de publicar que 95% da população repudiam a ação dos
mascarados (e a associação entre eles e os movimentos sociais começa a ganhar
força), enquanto a PM promete reação. Qual pode ser o resultado dessa
"reação"? Não é difícil de imaginar: os "profissionais" da
provocação fazem o seu "trabalho" de sempre e sabem muito bem fugir
no momento certo, deixando pessoas inocentes (ponha "inocentes"
nisso) na mira de armas, agora não mais de balas de borracha, mas de balas
reais. E teremos, então, os mártires que a esquerda idiota deseja e a direita
esperta só espera para pedir o retorno da "ordem" e da "linha
dura", com o velho discurso de que "antes, não havia disso"!
Qual é esse "antes"?
Imaginem: os mesmos grupos oligárquicos do passado a cometer as mesmas
sacanagens, com leis mais duras contra o povo, com privatizações e entreguismo
desenfreado, com concentração de renda, com desemprego e retrocesso total de
todas as conquistas sociais rumo, quem sabe?, a um utópico paraíso.
Ou seja (para usar a velha metáfora
deísta): voltaremos ao inferno, depois de já termos percorrido quase todo o
purgatório.