novembro 01, 2013

UM LONGO, MAS NECESSÁRIO DESABAFO









"O que está a acontecer no Brasil é o que as pessoas, as que têm a compreensão do que é ser de esquerda, bem como entendem o processo político e econômico em andamento e colocado em prática pelo PT, chamam de esquerdismo infantil praticado por partidos de esquerda, a exemplo do PSOL, do PSTU e do PCO. Essas agremiações, apesar de serem antagônicas aos partidos direitistas, unem-se a eles em um frenesi político, que lembra a ferocidade dos tubarões ou dos leões na hora de se alimentar. É surreal ao tempo que real."



Não só concordo com o "infantilismo" desses partidos, que beira à ingenuidade, como também o debito na conta de movimentos sociais, como o MPL - Movimento Passe Livre - que pode até ter propostas sérias, mas que não entende nada de política e faz o jogo dos adversários.

Fatos: vivemos num País, livre e democrático. Não confundam, por favor, DEMOCRACIA com SISTEMA POLÍTICO. Nosso sistema político deixa a desejar, claro, mas isso só se modificará com uma reforma política séria. Mas, enquanto isso, o jogo democrático é o presidencialismo de coalizão (por causa da grande quantidade de partidos políticos - mais de 30!) e disso não se pode fugir. É ingenuidade pensar que um único parido político possa governar hegemonicamente o País.

Temos, e isso também é um fato incontestável, um governo de ESQUERDA no poder central. Depois de centenas de anos de lutas. O que não se pode fazer é as forças de esquerda, por motivos de querelas infantis, fazerem o jogo da direita hidrófoba e, em vez de negociar com o governo, confrontá-lo e tratá-lo como inimigo. O inimigo não são o PT ou o PMDB ou outros partidos da base governista, mas o PSDB, o DEM e seus agregados, além de toda a massa conservadora incrustada nas redações da grande mídia concentrada na mão de cinco "famiglias" que estão a fazer de tudo para retomar o poder e destruir as conquistas sociais inegáveis dos últimos dez anos.

Quando digo que o MPL abriu a caixa de Pandora, estou tentando passar um recado claro: enquanto derem abrigo ou se acovardarem diante da meia dúzia de fascistas a soldo da direita que tomam de assalto qualquer manifestação ou não tiverem uma estratégia clara de repúdio aos grupos minoritaríssimos e violentos a soldo da direita, os movimentos sociais não podem continuar na mesma toada de convocação de manifestações que provoquem confronto e aticem a sanha da PM e provoquem reações falsamente iradas da mídia.

Há que se repensar o que é "manifestação pacífica" que acaba em depredações e ocasiona transtorno à maioria absoluta da população, que começa a associar "vandalismo" com reivindicações legítimas, o que pode provocar um imenso retrocesso nas lutas populares.

São idiotas os que pensam que não há nada por trás das máscaras dos truculentos. E é ingenuidade total pensar que eles não estão ali a soldo de gente muito mais perigosa, que usa o niilismo desembestado desses paspalhos para promover comoção social e desestabilizar o processo eleitoral que se inicia. E mais ainda: máscara por máscara, não só os grupelhos fascistoides se aproveitam do anonimato, mas também grupos de bandidos e traficantes começam a perceber que têm um filão interessante a ser explorado para chantagear as forças repressivas e o governo. Mais uma vez, a política instrumentaliza a bandidagem comum. E a história se repete como farsa, uma farsa grotescamente articulada por gente que sabe muito bem o que quer e o que "eles" querem não é nada bom para o futuro do País, porque já o sabemos há muito o que vem no rastro de um governo de certas forças da direita que sempre esteve no poder.

Enquanto a esquerda faz reuniões e apoia os "movimentos legítimos do povo", as manifestações, sejam elas por demandas sociais ou de protesto e exalta a liberdade de expressão e de manifestação, a direita se articula e bota na rua o bloco dos mascarados - pagos e devidamente instruídos - para, depois, nas redes midiáticas esbravejar contra a destruição do patrimônio público e, especialmente, particular.
Esses aprendizes de feiticeiro se esquecem, no entanto, que, quando se soltam os demônios, ninguém mais os detém. E o controle começa a ser perdido, quando agridem covardemente - ou seria de caso pensado? - um comandante da PM, em São Paulo, desafiando quem os contratou.

Passo a acreditar que tudo é de caso pensado, pois a repercussão foi imediata: pesquisas de institutos da direita logo trataram de publicar que 95% da população repudiam a ação dos mascarados (e a associação entre eles e os movimentos sociais começa a ganhar força), enquanto a PM promete reação. Qual pode ser o resultado dessa "reação"? Não é difícil de imaginar: os "profissionais" da provocação fazem o seu "trabalho" de sempre e sabem muito bem fugir no momento certo, deixando pessoas inocentes (ponha "inocentes" nisso) na mira de armas, agora não mais de balas de borracha, mas de balas reais. E teremos, então, os mártires que a esquerda idiota deseja e a direita esperta só espera para pedir o retorno da "ordem" e da "linha dura", com o velho discurso de que "antes, não havia disso"!

Qual é esse "antes"? Imaginem: os mesmos grupos oligárquicos do passado a cometer as mesmas sacanagens, com leis mais duras contra o povo, com privatizações e entreguismo desenfreado, com concentração de renda, com desemprego e retrocesso total de todas as conquistas sociais rumo, quem sabe?, a um utópico paraíso.


Ou seja (para usar a velha metáfora deísta): voltaremos ao inferno, depois de já termos percorrido quase todo o purgatório.