janeiro 22, 2011

AES ELETROPAULO, A FILHA EXEMPLAR DO PRIVATISMO TUCANO





Uma das crias da privataria de Mário Covas (o ilustre tucano-mor de que se enchem os papos para dele falarem os demais tucanos), a AES ELETROPAULO distribui energia elétrica para a região metropolitana de São Paulo, cobrando tarifas assustadoras.

Apesar disso, oferece ao povo refém de seus preços abusivos um dos piores serviços de distribuição de energia elétrica e de assistência a seus clientes compulsórios.

Nesses quase onze anos, nada fez para modernizar uma rede que parece ter sido tecida por artesãos de dedos grossos do século XIX, uma rede obsoleta e perigosa, que deixa os paulistanos no escuro a qualquer ameaça de chuva.


Nesses tempos de tempestade, então, qualquer raio desliga dezenas de ruas e residências e deixa os desprotegidos paulistanos sem luz por horas a fio, jogando-os nas trevas da idade média, quando o escuro da noite escondia apenas malfeitores e delinquentes, o que parece ser o ambiente adequado para a incompetência e má vontade da AES ELETROPAULO.


Uma historinha exemplar: ontem, sexta-feira, 21 de janeiro de 2011 (século XXI, portanto), uma chuva forte assolou São Paulo. A luz logo seguiu os ventos da tempestade e deixou várias casas de minha rua no escuro, às 15h30. Até aí, nada demais: chuva e vento, casa no escuro.

No entanto, a luz só voltou vinte e duas horas depois! Às 13h30 de sábado! E assim mesmo, depois de dezenas, talvez centenas de pedidos e de avisos à impassibilidade estúpida dos funcionários da AES ELETROPAULO.

A cada telefonema, uma desculpa e uma promessa: árvore caída na rede e volta da energia às 18 horas; problema desconhecido e volta da energia às 22 horas... às 23 horas... às 8 horas de sábado... às 11 horas de sábado... e assim, até que...

Apareceu, finalmente, uma equipe de funcionários da famigerada distribuidora e, num trabalho que não durou nem 5 minutos, religou uma chave de um poste, a poucos metros de nossas casas, que se desligara com a sobrecarga de, talvez, um raio.

Uma simples chave desligada!

E demoraram quase VINTE E QUATRO HORAS para atender nossos desesperados pedidos!

Isso, numa cidade, a maior da América do Sul, e não no interior do Amazonas; isso, numa rua de um bairro de classe média, na boca do metrô Jabaquara, na Zona Sul!

Incompetência, má vontade, estupidez e mau caratismo!

Da AES ELETROPAULO?

Sem dúvida.

Mas, pensemos bem: uma empresa não é um ente abstrato, existente em algum limbo, flutuando no espaço. Uma empresa é formada de gente, de pessoas.

Quando consideramos uma empresa competente ou incompetente não estamos falando de nenhum anjo ou demônio que desce dos céus ou sobe dos infernos para nos abençoar com suas benesses ou nos amaldiçoar com seus garfos pontudos. Estamos falando dos funcionários dessa empresa: dos diretores (ou donos), dos gerentes, dos técnicos, dos burocratas, dos atendentes, dos operários e demais “colaboradores” dessa empresa.

Quando um operário veste o macacão da AES ELETROPAULO e vem à nossa rua ou à nossa casa a serviço da empresa, ele, o operário, nesse momento, é a própria empresa, pois a ela representa. Se temos reclamações, esse operário tem de ouvir e levar as reclamações a seus superiores ou a quem direito e não dizer, como disseram os operários com quem reclamamos a demora (e põe demora nisso!) do atendimento de um problema tão simples que fôssemos reclamar com seus patrões!

Nessa hora, não há patrões, não há diretores, não há gerentes: há apenas os representantes visíveis e devidamente autorizados da empresa à nossa frente. Portanto, além de mau atendimento, de manter sucateada por cupidez a rede elétrica da cidade, seus funcionários ainda são mal treinados para lidar com a população.

Maldita AES ELETROPAULO, fruto da privataria tucana, da venda arbitrária e a preço de banana dos bens públicos do senhor Mário Covas (se eu acreditasse em inferno, desejaria que lá estivesse o ex-governador!)!

É essa camarilha que governa o Estado de São Paulo há dezesseis anos e tem mais quatro para nos atormentar a vida com sua incompetência em vender a incompetentes o patrimônio público, cujo exemplo mais exemplar é a AES ELETROPAULO, a poderosa, arrogante e incompetente AES ELETROPAULO.

janeiro 15, 2011

TRAGÉDIAS MUNICIPAIS, CULPAS FEDERAIS?

(Até agora, quase seiscentos mortos na serra fluminense)


Somos todos reféns de um bando de incompetentes e politiqueiros chamados prefeitos. São eles os culpados da maioria absoluta das desgraças que acontecem com o povo. E somos míopes para não enxergar que são eles – os prefeitos – responsáveis por nossa vida, desde um simples alvará para um puxadinho até complexos problemas de saúde.

O homem urbano vive na cidade e não no País.

O País, a Nação, a União são conceitos abstratos de macropolítica, de distribuição de renda e dos bens gerais. Mas a administração do dia a dia, os problemas comezinhos que nos afligem são de responsabilidade dos prefeitos. Deles dependem a saúde, a educação, a ocupação do solo urbano, a conservação de ruas e calçadas, o trânsito, a ordenação da vida cotidiana, enfim.

No entanto, dos quase seis mil prefeituras existentes no Brasil, pode-se dizer que possivelmente nem dez por cento tem prefeitos realmente preparados para a administração de uma cidade, seja ela de 10 milhões de habitantes como São Paulo, seja o menor município, com menos de cinco mil pessoas.

Sabem muito bem fazer política os nossos prefeitos. Sabem fazer promessas. Sabem enganar o povo para serem eleitos. Sabem fazer qualquer negócio, aliás, para serem eleitos. Porque, tirando as capitais e as grandes cidades, o emprego de prefeito é uma das melhores sinecuras que existe. Ganha-se bem para não se fazer quase nada.

Os prefeitos de capitais e de algumas poucas grandes cidades ainda têm a mídia em seu encalço. Mas, quem sabe quem é o preito das milhares de cidadezinhas perdidas no mapa, mesmo que sejam estâncias turísticas como Teresópolis, Petrópolis, Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro?

E, no entanto, são eles – esses prefeitos incompetentes – que permitem a ocupação desordenada de morros, de várzeas de rios, de lugares onde nenhum ser humano devia morar. Claro que não estão sozinhos no crime: contam com a colaboração da própria população que não pensa no risco e constrói em qualquer lugar, confiante em rezas e proteção divina; contam, principalmente, com a ganância e estupidez de grileiros e incorporadores, que vendem terrenos condenados a preço de banana ou, às vezes, nem tão baratos assim, para os incautos e estúpidos, sob a vista grossa dos prefeitos. Que, para garantirem alguns votos a mais, prometem regularização dessas habitações, colocando luz, água e asfalto. Não falei esgoto, porque isso já um luxo e uma preocupação que poucos têm.

E então, uma pequena vila de duas ou três casas dependuradas no morro ou dentro de áreas inundáveis transforma-se em pouco tempo em um povoado com dezenas de habitações precárias, grudadas umas nas outras, construídas por pedreiros improvisados de fim de semana, vizinhos que trabalham e erguem armadilhas por um churrasco e uma garrafa de cerveja.

E tudo sob a vista grossa dos senhores prefeitos.

Quando há algum problema – um pequeno deslizamento ou uma cheia – os moradores pressionam o prefeito. E lá vai ele fazer “obra” contra a chuva: um muro de arrimo ali, uma terraplanagem acolá, uma pequena barragem mais adiante. E todos ficam contentes: votam de novo no “elemento” (ia dizer criminoso, mas relevo por enquanto) ou nos seus apaniguados.

Incauta e estúpida a população que os mantém, a esses prefeitos espertinhos e bonzinhos. “Tocadores de obra”, “políticos trabalhadores”, “bons administradores”. Porque fazem o que o povo quer e não o que povo precisa.

Impedir um loteamento clandestino no alto do morro ou na várzea do rio não dá voto a ninguém. Buscar alternativas para o desespero do povo, que quer casa para morar, dá muito trabalho, exige competência, planejamento, visão de futuro. E isso, esses espertalhões eleitos com o voto dos enganados não têm, porque são preguiçosos, porque são estúpidos, porque não sabem e porque não têm interesse em administrar pensando no bem do povo.

Afinal, para que se preocupar? Uma enchente só ocorre de vez em quando, e o povo se acostuma ou é acostumado a receber, em donativos, a conta do prejuízo; deslizamentos de morro são eventos cuja ocorrência ultrapassa o tempo de um ou, às vezes, de dois mandatos. Quem vier depois que se lasque, para não dizer coisa pior.

E como quem vem depois segue a mesma política porca de deixar tudo como está para ver como é que fica, um dia acontece a desgraça: uma chuva mais forte, um temporal, e centenas de pessoas perdem a vida e seus bens, como está acontecendo neste momento nas serras fluminenses, em cidades como Teresópolis, Petrópolis e Novo Hamburgo.

De quem a culpa? De ninguém, claro. Ou do clima.

Ou, dependendo dos interesses e da visão estreita de uma certa mídia mal intencionada, joga-se a culpa na União, ou, mais precisamente, despejam-se os cadáveres ainda insepultos no colo da presidenta recém-empossada.

É mais fácil, é mais cômodo, é mais conveniente.

Principalmente quando há interesses eleitoreiros muito mais prementes que a constatação pura e simples de que as catástrofes do tipo das que estão ocorrendo no Rio de Janeiro só acontecem por incompetência, estupidez e politicagem rasteira desses nossos prefeitos. De quem somos todos reféns.

janeiro 14, 2011

SÃO PAULO SOB ATAQUE... DAS CHUVAS DE VERÃO

(Passeio de canoa pelo Tietê, quando o Tietê ainda era um rio)




Assim como o Egito, nos dizeres do historiador Heródoto, era um presente do Nilo, São Paulo, a cidade, devia ser um presente da bacia hidrográfica do Tietê. Porque rios significam vida e civilização.

Mas não foi isso o que aconteceu com a grande metrópole: seus rios viraram pesadelos. Principalmente durante as chuvas de verão, quando os rios atingem seu máximo volume de água e alargam suas margens para fertilizar o solo e preparar a terra para o florescimento das lavouras.

Os paulistanos – seus prefeitos e administradores dos últimos oitenta anos – viram nos rios, riachos e córregos que abundam no planalto apenas inimigos que deviam ser aprisionados, para dar lugar ao progresso.

O plano de “modernização” de Prestes Maia, na década de trinta, resulta, hoje, num retumbante fracasso ecológico e urbanista. As “obras” de construção de grandes avenidas em fundos de vale e sobre os rios, retificando-os, aprisionando-os, sufocando-os, que teve seguidores nas administrações posteriores, impediram que a cidade crescesse voltada para suas águas e fizeram que ela crescesse em cima delas, das águas que correm e que deviam ser símbolo de vida.

Quando se dá poder a um engenheiro de obras, a um engenheiro civil, ele constrói pirâmides. E não há nada mais inútil na história das grandes edificações da humanidade do que pirâmides.

As pirâmides paulistanas são suas avenidas marginais – que impermeabilizaram as margens do Tietê – e suas avenidas construídas em fundos de vales, à custa da drenagem e entubação dos rios e de seus afluentes.

Com isso, a grande bacia hidrográfica que permeava a cidade e com ela deveria conviver harmonicamente transformou-se no pesadelo subterrâneo de onde emergem todas as águas represadas, a qualquer chuva. A ocupação desordenada do solo e sua impermeabilização com asfalto e cimento complementaram a “obra” de destruição dos rios. Que, agora, se “vingam”, provocando enchentes e alagamentos com as chuvas de verão.

São Paulo tornou-se, assim, o mais acabado exemplo da estupidez humana na relação com a natureza. O fracasso urbanístico está à vista de todos. E os engenheiros continuam mandando na cidade, com suas réguas de cálculo para construírem mais obras. Agora, obras contra enchentes.

E não há nada mais estúpido na engenharia civil e no planejamento urbanístico do que “obras contra enchentes”. Gastam-se bilhões de reais, dinheiro do povo, para enganar o povo. Porque toda “obra contra enchente” só resolve o problema por algum tempo, até que natureza encontre outros caminhos e provoque novas enchentes catastróficas em algum outro ponto. Porque nenhuma “obra” consegue o objetivo de represar as forças da natureza, principalmente as forças hídricas.

Se o homem aprendeu a tirar das águas a energia para suas casas e suas cidades, não depreendeu, no entanto, que essa mesma energia é a que, nos tempos de cheia dos rios, nos tempos de chuva, se acumula nas corredeiras e destrói tudo o que encontra pela frente. A lição é clara: com a água não se brinca. E os engenheiros paulistanos que administraram essa cidade, desde a década de trinta, só fizeram isto: desobedecer às regras mais simples da convivência com as águas, represando-as, canalizando-as, tentando domá-las ao enfurná-las nos subsolo.

Agora, não há piscinões que resolvam o problema de enchentes em São Paulo. Porque piscinões são mais uma daquelas ideias que parecem brilhantes no papel, mas que na prática se revelam absurdas. Primeiro, porque são obras caras (e já sabemos: obras contra enchentes são inúteis); segundo, porque sua manutenção é trabalhosa e também excessivamente cara; terceiro, porque durante o período de seca transformam-se em lixões cheios de ratos e outros bichos, a atormentar a vida da vizinhança; quarto, porque não há espaço na cidade para construir o número de piscinões necessários ao volume de água que precisa ser represado, no período das águas; quinto, mesmo se construírem todos os piscinões necessários (alguns falam em cerca de cento e quarenta!), a vazão de toda essa água acumulada exigiria um complexo sistema de administração, para que não houvesse enchentes pontuais, muito tempo depois do período das chuvas, o que levaria a que essa água tivesse de ficar parada por muitos meses, provocando ainda mais insalubridade do que já provoca, quando os piscinões estão vazios. Enfim, mais uma grande bobagem para usar mal o dinheiro do contribuinte, enganando-o com falsas promessas e obras caras e inúteis.

Conclusão: só há um jeito de resolver o problema das enchentes de São Paulo – refundar a cidade, reconstruindo-a em novas bases, com seus rios de volta, e não apenas de volta – descanalizados – mas com suas margens amplas e não ocupadas por avenidas ou habitações.

Como isso é utópico, que os habitantes das várzeas e das margens alagadas – e não apenas eles – aprendam a construir suas casas em palafitas, a conviver com as enchentes, comprando barcos e botes para usá-los nos tempos de chuva. Porque, se não se pode vencer o inimigo, a solução é aliar-se a ele. Apesar de que os rios não são nunca inimigos, nós é que não sabemos e não queremos compreendê-los, como os egípicios antigos o faziam.