agosto 09, 2011

ÉTICA E EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO







Jornalista, pessoa física, o sujeito que estuda e termina uma faculdade “de jornalismo” ou abraça a carreira de jornalista, ou seja, trabalha numa empresa de comunicação, esse, sim, pode, deve ter ética. E, geralmente, a tem. Ou não.


Se tem ética, princípios morais, respeito ao público, busca cultivar a verdade, mesmo que, às vezes, como todo ser humano cometa erros. Erros de avaliação ou de julgamento. Erros que podem ser sanados com a famosa “retratação”.


Se não tem princípios sólidos, vai, com certeza, produzir matérias de acordo com interesses escusos e fazer de sua profissão uma forma de enriquecimento ilícito, como qualquer outro cidadão que não tenha princípios e exerça qualquer outra atividade.


Mas jornalista tem nome, endereço, RG, paga impostos, tem amigos e inimigos, família etc. Ou seja, é um ser palpável, concreto, encontrável. Mesmo se foragido.


Já as empresas de comunicação, as grandes empresas de comunicação, também têm nome, registro nos órgãos competentes, endereço, pagam impostos, e têm funcionários, muitos funcionários. No entanto, não são seres palpáveis, concretos, encontráveis. Escondem-se sob uma montanha de palavras escritas por outros, mas insufladas por donos, presidentes, diretores poderosos que comandam suas empresas de acordo com interesses sempre escusos.


Um jornalista, qualquer jornalista, se pessoa física pode incomodar muita gente. Mas pode também levar um processo, um pé na bunda ou, até mesmo, uma surra de seus desafetos.


Mas uma empresa de comunicação é intocável. Pode, quando muito, levar um processo que fica rolando de juiz em juiz, de tribunal em tribunal, até as calendas gregas.


Um jornalista pode tentar influenciar seu público. Com suas opiniões, com seus conceitos e pontos de vista. Mas o publico de um jornalista é apenas o público de um jornalista. Por mais seguidores que tenha.


Já uma empresa de comunicação não apenas tenta influenciar o seu público: ela usa de toda a sua força, de toda a sua capacidade de mobilização – e nisso inclui toda a mão de obra formada por seus empregados jornalistas – para determinar rumos para o povo, de acordo com seus interesses. Que são sempre escusos.


Sim, escusos. São sempre escusos os interesses das empresas de comunicação. Das grandes empresas de comunicação.


Porque, por princípio republicano e democrático, nenhuma empresa de comunicação devia poder ter o direito de influenciar a quem quer que seja.


Mais ainda: se republicanos e democráticos forem os princípios de uma sociedade, de um país, não devia nunca haver grandes empresas de comunicação nesse país.


Uma grande empresa de comunicação é tudo. Menos republicana e democrática. Porque uma grande empresa de comunicação tem sempre interesses, e esses interesses nunca, absolutamente nunca, são os interesses do povo. São os interesses de seus donos. Que querem dinheiro. Que querem mais do que dinheiro: querem poder.


E uma grande e poderosa empresa de comunicação ilude o povo. Engana uma nação. E elege aqueles que a apóiam, aqueles que defendem os seus interesses. Sejam eles políticos, econômicos ou filosóficos.


Um jornalista pessoa física a sociedade repudia. Ou não.


Já uma grande, poderosa e influente empresa de comunicação é um quisto, um câncer, uma doença que cresce e se avoluma. E não há repúdio ou remédio contra ela. Porque ela tem nas suas mãos os poderosos. Que a temem e fazem aquilo que ela deseja.


Não há esperança para a democracia enquanto houver grandes, poderosas e influentes empresas de comunicação num país ou, mesmo, no mundo.


Ou, dizendo o mesmo de outra maneira: nenhuma nação é realmente democrática enquanto estiver nas garras de grandes, poderosas e influentes empresas de comunicação.


Porque elas, as poderosas e influentes empresas de comunicação, se julgam acima do bem e do mal. E escondem suas falcatruas sob a égide da “liberdade de imprensa”. Que todos nós compramos como um bem inalienável. Enquanto seus poderosos chefões escarnecem de nossa ingenuidade.


Porque as empresas de comunicação – com seu poder e sua influência – estão pouco ligando para nós e para a tal “liberdade de imprensa”. O que elas querem, de fato, é a liberdade de fazerem o que fazem: mentir e influenciar.


E comprar – com suas mentiras, com seu poder corruptor – mentes e corações. Para se tornarem cada vez mais poderosas.


Jornalista pessoa física tem ética. Ou não.


Empresas de comunicação, jamais. Ética e empresas de comunicação são como o óleo e a água: não se misturam. São incompatíveis.


Mesmo que apregoem a quatro ventos suas cartilhas, códigos, receituários ou seja lá o que quiserem chamar seus tratados de princípios, normas... e ética!


Servem apenas para enganar trouxas.


(Ilustração: Giger)