fevereiro 23, 2017

COMO A MÍDIA MENTE E MANIPULA






Quando digo que a mídia mente até quando fala a verdade, isso não é uma frase retórica. É a verdade. É o que acontece. 

Vou ilustrar o que eu afirmo com um exemplo de notícia na área científica, para não estar contaminada com os meandros melífluos da política e da economia, campo em que são hábeis manipuladores.

Ontem, 22/2/2017, o Jornal Nacional da Rede Globo noticiou a descoberta de sete exoplanetas (planetas fora do sistema solar) com possibilidade de existência de vida. 

Não vou detalhar o conceito de vida que os cientistas utilizam nesse contexto, mas resumidamente é seguinte: quando dizem que há “possibilidade” de vida num lugar remoto, como esses planetas, estão-se referindo à possibilidade, em virtude de uma série de outras possibilidades, da existência de água e, por isso, da “possibilidade” de existência de micro-organismos. Nada de civilizações avançadas, nada de ETs, como a menção da palavra “vida” em outros planetas geralmente, carrega, associada a outras bobagens pseudocientíficas.

E o JN termina, “ingenuamente”, essa notícia, afirmando que essa descoberta abre perspectivas de sobrevivência futura para a raça humana. Ou seja, que no futuro, poderíamos todos viver felizes para sempre num planeta longínquo, quando nossas reservas aqui se esgotarem etc. etc. etc.

Tais bobagens são ditas assim, como se fossem verdades absolutas, quando a realidade científica consiste em fatos extremamente diferentes. Vejamos: esses exoplanetas estão a 40 mil anos luz da Terra. Você pode pensar: o que isso significa? Nada, não é? Pois pense: a luz viaja a 300.000 quilômetros por segundo. Para atingir esses planetas, um raio de luz precisaria viajar durante 40 mil anos. Quarenta mil anos! Não há qualquer perspectiva de que, pelo menos nos próximos mil anos, ou seja, no ano 3017, tenhamos a mínima possibilidade de haver desenvolvido qualquer veículo que viaje a tal velocidade. Mesmo que isso venha a acontecer, seria de tal monta o seu custo, que o tornaria inviável para praticamente todos os homens, exceto uma mínima e selecionadíssima tripulação. Mas, repito: isso é, por enquanto – eu ouso afirmar, – algo fora de cogitação, uma quase impossibilidade científica, mesmo que passem dez mil anos.

Por que esses redatores do JN escrevem tais bobagens, repetidas depois, dezenas e centenas de vezes por outros canais, para incendiar a imaginação das pessoas, com essa mensagem extremamente falsificada para incutir um certo grau de otimismo?

Ora, nada mais passiva do que uma comunidade otimista, que confia no futuro, que vê como possível uma saída para a humanidade. Assim, devidamente anestesiadas, as pessoas estão preparadas para ouvir que o Banco Central baixou os juros tantos por cento e que isso se constitui na menor taxa dos últimos dois anos. Ou seja, uma verdade – a diminuição da taxa de juros – travestida ou incluída numa grande mentira devidamente preparadora de otimismo, para, de forma sub-reptícia, levar o telespectador, os milhões de telespectadores, a pensar que a crise, enfim, começa a ser domada e que o País vai melhorar.

Esse é um simples exemplo de uma prática corriqueira: dizer mentiras para esconder a verdade ou dizer verdades de tal forma manipuladas que, no contexto devidamente preparado para fazer as pessoas acreditarem em qualquer coisa, impor “suas verdades”, ou seja, as mentiras e os vieses ideológicos que desejam implantar na cabeça das pessoas.

Teoria da conspiração? Antes fosse. Mas isso acontece desde o século XIX, desde o nascimento da grande imprensa. Leia Balzac, As Ilusões Perdidas. Acompanhe o desenvolvimento das grandes corporações de mídia, seu poder de manipular, de destruir reputações, de construir falsas expectativas, de influir no destino de todas as nações que possuem sistemas avançados de transmissão de notícias, sejam Estados Unidos, sejam a França, Alemanha ou Inglaterra.

O sistema mundial de mídia está corrompido. Corrompido pela manipulação, pela mentira, pelo compromisso com os ideais corporativistas, econômicos, ideológicos e políticos de seus donos. Não há imprensa livre. Há liberdade de imprensa. Que são coisas diferentes. Os governos que ousam contrariar a grande mídia de seu país são imediatamente taxados de antidemocráticos e caem em desgraça. Não importa se o governo é de direita ou de esquerda, embora, em geral, sejam os governos de esquerda aqueles que mais se incomodam com as mentiras da mídia. 

Estamos vivendo um momento interessante desse embate, justamente nos Estados Unidos, onde um governo de extrema direita entra em choque com a mídia, com toda a mídia, do país. Vamos aguardar os acontecimentos e ver no que isso vai dar, pois é, talvez, a primeira vez em que um governo de direita de uma grande nação capitalista – que se gaba de ter total liberdade de imprensa - se revolta contra as tais manipulações da mídia. 

Então, quando ler, ouvir, acompanhar uma notícia, qualquer notícia, principalmente notícias que tenham a ver com a sua vida, que podem mudar alguma coisa no país, no estado ou na cidade em que você vive, preste muita atenção, leia e ouça com cuidado, não acredite de cara, busque outras informações, procure verificar a lógica dos fatos, desconfie. Desconfie sempre. É o melhor meio de não se tornar manipulado pela corja de mentirosos que comanda as agências distribuidoras de notícias, as emissoras de rádio e de televisão, as redações de jornais e revistas e até mesmo a internet.