setembro 10, 2013

QUANDO UM GAROTO DE TREZE ANOS MATA A FAMÍLIA...




(Keun Chul Jang)



Um crime cujos motivos jamais entenderemos completamente: um garoto de 13 anos mata os pais, ambos policiais, a tia e a avó e, em seguida se mata. Os detalhes estão em todos os jornais e não é necessário repeti-los.

Por quê?

Eu tenho uma teoria, apenas uma teoria, algo que me vem ao observar o comportamento humano, principalmente o familiar. Sempre digo que a "família" - essa instituição tão antiga quanto o próprio homem - tornou-se, em si mesma, a maior armadilha da humanidade e, pior, se desfeita, não há nenhuma outra forma de associação e proteção ao ser humano para se colocar no lugar. Somos reféns e prisioneiros das nossas relações familiares, sejam elas constituídas de um núcleo ligado pela genética ou por quaisquer outras formas de associação através de adoção, de instituições particulares ou governamentais, de grupos informais etc. etc. etc.

Na "família" crescemos e formamos nossa visão de mundo. É quase impossível a sobrevivência humana fora de um grupo familiar de proteção.

O nosso foco, no entanto, não são os grupos "diferentes" ou de exceção, mas a família "tradicional": dois indivíduos adultos (não importa se do mesmo sexo) e uma ou mais crianças. 

Um ou ambos os adultos dessa família têm uma profissão, óbvio. Fechemos o foco um pouco mais para a profissão desses "protetores". Todas as profissões são respeitáveis, já que exercidas em função de aptidões, de condicionadores ambientais e de necessidades desses indivíduos. Quando as pessoas estão trabalhando, elas estão dentro de um determinado "papel": executores de uma tarefa, seja ela qual for, e dentro dela se relacionam e criam vínculos. Quando deixam o emprego, elas se despem desse papel e assumem outros papéis sociais, como "vizinhos", "amigos", "pais", "mães", "consumidores", "torcedores de um time de futebol", "sócios do clube" etc. etc. etc. No entanto, alguns indivíduos - e não são poucos - fazem dessa profissão, muitas vezes, o motivo de sua existência. Principalmente se essa profissão exerce um poderoso atrativo social, como aquelas que levam o indivíduo a ter poder e a constituir a massa dos poucos que são considerados "formadores de opinião" ou a ser invejados e admirados por alguma expertise.

Um exemplo apenas, para tentar tornar mais claro o que eu quero dizer: uma família de músicos. Mais ou menos comum, na sociedade, que um pai ou uma mãe ou ambos, quando são musicistas de certa expressão, carreguem esse "estigma" para dentro de sua própria casa. Ou seja, não se despem do papel, exercem-no durante vinte e quatro horas, influenciando, nesse caso podemos dizer positivamente, os "filhos" (de sangue ou não), levando-os quase sempre a seguirem os passos dos pais e tornarem-se eles mesmos músicos.

No caso do garoto de 13 anos que matou os pais, na minha opinião, aconteceu algo semelhante. Ambos os pais eram policiais. E vestiam esse papel vinte e quatro horas. Tanto é que a mãe ensinou o filho a dirigir e o pai, a atirar. Consumiam jogos eletrônicos violentos. As conversas diárias deviam girar sempre em torno de prisões, de ações policiais. Deviam assistir a programas de televisão em que o crime é o assunto primordial. Ou seja, a profissão dos pais do garoto devia ser o centro de todas as atenções do menino, desde tenra idade. Ele, o garoto, dizia aos amigos - com quem formava uma espécie de grupo, em que ele era o líder - que queria ser matador profissional. E mais, em bravatas comuns a esse tipo de pré-adolescente, pregava a morte dos pais, como indicador de valentia e poder. A violência - que a profissão dos pais exigia e que devia ser mantida fora das paredes do lar - era corriqueira para o garoto. 

Não, não foi a violência vivida e compartilhada da profissão dos pais ou a violência de jogos eletrônicos que levaram o garoto ao crime de matá-los, mas a violência banalizada contribuiu para que uma mente confusa e ainda em formação e, talvez, com alguns resquícios demenciais genéticos, quase sempre controláveis pelo ambiente, começasse a confundir realidade e imaginação em sua cabeça. A fantasia prevaleceu, num determinado momento. É o que talvez possa ser chamado de "surto". Já que os crimes ocorreram todos em sequência, por volta de meia noite, e só mais de doze horas depois - tempo em que o garoto dirigiu o carro da mãe (onde dormiu) e o estacionou perto de sua escola, assistiu às aulas do período da manhã e voltou para casa - é que ele se matou, diante do cadáver dos pais, isso nos leva a pressupor que a realidade pouco a pouco voltou à mente conturbada do menino. E ele se arrependeu do que fizera.

Tudo isso são suposições, claro, que desenham, para mim, um cenário possível e provável. No entanto, nunca poderemos saber as reais motivações dessa criança para fazer o que fez. Infelizmente. Seria um estudo para desvendar um pouco mais a mente humana. Só o que podemos tirar como conclusão desse fato lamentável é que ainda estamos muito distantes de nos entender a nós mesmos, de entender como funcionam os mecanismos evolucionários que nos levaram a ser o que somos, seres humanos, mas não muito distantes de nossos instintos primitivos, de nossos medos primordiais, de nossas origens, afinal.