novembro 16, 2012

A LIÇÃO DO CABO BRUNO







Há pouco mais de trinta anos, o famigerado Cabo Bruno aterrorizou a Zona Sul de São Paulo, ao assassinar com, às vezes, requintes de crueldade mais de cinquenta jovens, nem todos com passagem pela polícia, muitos apenas pequenos delinquentes.

Deveria o tal Cabo Bruno ter ficado para sempre na cadeia. Mas nossas leis não o permitem e os trinta anos cumpridos em regime fechado não foram suficientes para que seus crimes se apagassem da memória de amigos e familiares de suas vítimas. Pouco mais de um mês depois de sair da cadeia, fazendo-se de pastor arrependido, foi sumariamente assassinado ao voltar, à noite, de um culto, na cidade onde morava.

Vingança. Essa a palavra que está na origem da morte do ex-policial justiceiro.

A Polícia Militar de São Paulo tem um histórico de matanças, nascido provavelmente durante os anos da ditadura militar, quando proliferaram os chamados "esquadrões da morte". Mesmo de forma "oficial", a ROTA - Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar - sempre pautou suas ações pela ferocidade com que enfrentava e matava os bandidos. Poucos sobreviviam (e poucos ainda sobrevivem) em confrontos com esses "bravos" militares, às vezes exaltados pela população como justiceiros (num arremedo de substituição de uma Justiça lenta), às vezes temidos por essa mesma população, diante dos exageros de suas ações.

Enfim, são muitos os exemplos de matanças, assassinatos e atrocidades (favela Naval, Carandiru... - a lista é extensa e está na memória de todos) cometidos pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. É uma polícia que mais mata do que prende. Ou, pelo menos, é uma das polícias mais violentas do mundo. 

Assim, não é de assustar a ninguém que acompanha essa trajetória de bala e sangue que uma organização criminosa como o PCC - Primeiro Comando da Capital -, surgida há poucos anos como um arremedo de máfia, ponha-se agora a vingar a morte de seus comandados, mandando assassinar a esmo policiais militares (e também civis), como forma de intimidação. Olho por olho, dente por dente. Ou, como os criminosos preferem, para cada "irmão" morto, dois  ou mais policiais também devem morrer.

Enquanto o Governo Estadual, a Secretaria de Segurança Pública e demais órgãos envolvidos no combate à criminalidade não tomarem consciência de que é preciso romper o círculo vicioso da violência a partir da Polícia Militar - que deve ter como prioridade caçar e prender os bandidos, e não executá-los como o fazem atualmente - a violência não terá fim, apenas breves períodos de trégua, por exaustão de uma das partes, principalmente da bandidagem, ao sentir o peso ainda mais pesado dos órgãos repressores.

E, quanto mais pesa - em termos de mortes - a mão contra os bandidos, mais vinganças provocará a Polícia Militar de São Paulo.

É essa a lição que fica do assassinato do Cabo Bruno: assim como não se esqueceram seus crimes e eles foram vingados da forma mais direta e simples possível, também a bandidagem e muitas famílias que perderam jovens inocentes ou apenas pequenos delinquentes em confrontos com a polícia  (e que recorrem aos bandidos para se vingarem) não esquecem os excessos cometidos pela Polícia Militar de São Paulo. Olho por olho, dente por dente, na sede de vingança de ambos os lados (porque também a polícia se vinga), com a população no meio. Aturdida.