Decepcionante o crescimento do
Brasil em 2014. Um verdadeiro "pibinho" de merda. Com todas as
condições para dar munição aos partidos oposicionistas e aos jornalistas e
comentaristas econômicos que pululam no PIG - o Partido da Imprensa Golpista.
Todos comemoram. E tome pau no governo. Principalmente na presidenta. Dá para
explicar? É complicado, talvez até meio inexplicável, mas vamos lá.
Primeiro, devo dizer que não
acredito em teorias conspiratórias. Mas acredito, sim, em conspirações. A
História do Brasil tem várias. Até a Inconfidência Mineira foi uma conspiração.
Deu errado, porque dedo-duro já havia naquela época. A Proclamação da República
foi outra. Que deu mais ou menos certo. O século XX teve várias. Algumas deram
errado, outras deram certo. E a que deu mais certo resultou no golpe de 1964 e
mais de vinte anos de pau no lombo do povo, com os ditadores militares.
Muito já se escreveu sobre o
golpe militar de 64. Muito ainda há por escrever e esclarecer. O meu palpite
por que o golpe deu certo? Bem, é só um palpite, baseado em fiapos de fatos e
boatos, mas com uma grande dose de lógica. O golpe de 64 foi gestado e
financiado aqui mesmo, por gente muito poderosa: os latifundiários da época.
Eles se borravam de medo das reformas preconizadas pelos sindicatos, pelos
trabalhadores, e mais ou menos encampadas pelo governo de João Goulart. Tinham
medo, principalmente, da reforma agrária, até hoje um nó na garganta dessa
gente. Eles, os latifundiários, que não eram muitos, naqueles tempos, mas
detinham uma alta porcentagem do PIB, engendraram o golpe. Melhor dizendo,
abriram os cofres e financiaram o golpe.
Com duas ajudas poderosas: a imprensa golpista da época - praticamente os
mesmos de hoje - e a Igreja Católica Apostólica Romana. A imprensa descia a
lenha no governo e berrava contra a iminência de um governo comunista; os
padres pregavam o anticomunismo e atiçavam seus fiéis contra a ameaça vermelha.
A "marcha com deus pela família" foi o teste de convencimento de uma
ala radical das Forças Armadas. Com a promessa de grana e apoio político, o
general Mourão sublevou as tropas de Minas. O resto é história. Tenebrosa. Mas
história. Feita de sangue e lágrimas do povo. Com a grana do que hoje chamamos
de agronegócio e que naquela época era "apenas" um bando de
fazendeiros endinheirados e donos de muitas, muitas terras. A adesão das demais
forças econômicas e conservadoras, como a indústria (paulista e paulistana,
principalmente) se deu de forma praticamente natural. E vejam que a conspiração
não contava com os recursos de comunicação que temos hoje. Mas eles, os
endinheirados conspiradores da época, já possuíam recursos infinitamente
superiores de comunicação do que nas conspirações anteriores. O Brasil já
entrava celeremente na era das comunicações - que eram ainda ruins, sim, mas
possíveis.
Agora, em pleno século XXI, um
fax distribuído, por exemplo, da sede da Federação Paulista das Indústrias,
pode alcançar praticamente todas as cidades do País em poucas horas e de forma
sigilosa. Eu disse fax? Nossa, que atraso! Já existem outras formas bem mais
avançadas e mais rápidas e mais seguras. Nem preciso dizer quais são, não é
mesmo? Então, uma ordem, uma convocação, uma discussão de qual a melhor forma
de derrubar um governo pode ter a facilidade de teleconferências cifradas entre
os poderosos da indústria, do comércio, do agronegócio e espalhar-se em
pouquíssimo tempo.
Houve, então, uma conspiração?
Posso afirmar, com quase absoluta
certeza, que sim, houve uma bem urdida conspiração. Só que os tempos são
outros. As Forças Armadas não têm mais aquele viés político de cinco décadas
atrás. Só os velhinhos do Clube Militar é que ainda sonham com golpe militar,
entre um bocejo e outro de um jogo de gamão. Então, a melhor forma de derrubar
um governo é pela velha e boa manipulação do povo, para que vote na oposição,
num candidato previamente preparado e alinhado com o conservadorismo e com a
política econômica mais cara aos poderosos, aquela que vigorou até o final do
século XX, o capitalismo selvagem de lucros absurdos, aliada a uma classe
trabalhadora manietada pela pobreza e distante de quaisquer conquistas que a
tirassem da miséria e da pobreza.
Mas, para manipular o povo, hoje,
mesmo com a força do PIG - o Partido da Imprensa Golpista - totalmente do seu
lado, é preciso criar condições. E as condições, em 2013, um ano antes das
eleições, eram totalmente desfavoráveis ao conservadorismo (que, aliás, nem se
queixava muito, pois seu lucro e seus ganhos estavam sendo preservados pelo
governo): o Brasil alcançara o posto de sétima economia do mundo; o PIB não lá
grande coisa, mas havia um crescimento sustentado e constante; a economia
recebia investimentos do exterior, e mantinha-se aquecida; o desemprego atingia
baixíssimas taxas históricas, praticamente um regime de pleno emprego; havia
uma nova classe trabalhadora emergente e forte o bastante para manter o
consumo; a pobreza absoluta, um mal crônico, era paulatina e poderosamente
reduzida, com os programas sociais do governo; o petróleo do pré-sal começava a
ser explorado e atingíamos marcas cada vez maiores de produção; a inflação
estava domada e não havia sinais iminentes de que ela voltaria; enfim, havia
uma onda otimista no ar, e a presidenta alcançava índices bastante generosos de
aprovação popular.
Estou mentindo? Então, pegue os
jornais do ano, até mais ou menos dezembro de 2013. Você verá e lerá que
estávamos no caminho de um País próspero e mais justo, em termos econômicos e
sociais. Se havia problemas? Claro que havia inúmeros gargalos: na educação, na
infraestrutura, por exemplo, mas nada que não pudesse, com o tempo, ser
devidamente equacionado.
De repente, a partir de janeiro
de 2014, o ano das eleições, as condições econômicas começaram a se deteriorar.
O castelo parecia de cartas e um vento forte soprava de todos lados e espalhava
a crise, o anúncio da crise, o prognóstico da crise e, pouco a pouco, à medida
que o ano eleitoral segue, a crise se instala. Os investimentos despencam. A
inflação ameaça. O governo demora a fazer a leitura da situação e solta medidas
emergenciais, como se tudo aquilo fosse apenas um vento mais forte soprado do
exterior, que uma desoneração aqui, um socorro acolá não resolvesse, já que a
economia do País tinha - ainda tem - fundamentos sólidos. Só não contava que
suas medidas cairiam no vazio da não colaboração - que o governo, um tanto
ingenuamente, esperava - das forças econômicas, ou seja uma reação da indústria,
do comércio e do agronegócio. Eles - os grandes industriais, os grandes
produtores - tinham simplesmente enfiado o pé no freio dos investimentos e
começavam até mesmo a demitir funcionários. Uma medida engendrada e muito bem
orquestrada nos meandros de suas associações de classe e rapidamente colocada
em execução, na surdina, sem que ninguém, nem o povo nem o governo pudessem
desconfiar, já que contavam com o silêncio e a colaboração da grande mídia.
Foi ou não foi uma bela
conspiração?
Que contou, ainda, com uma
mãozinha do destino: o acidente que matou Eduardo Campos acabou inflando, por
tortuosos caminhos, que todos mais ou menos conhecemos, a candidatura de Aécio
Neves, que chegou ao segundo turno, com chances de vitória. Aí, o povo da
grana, que havia apostado na frenagem da economia, que havia parado suas
máquinas e perdido dinheiro com isso, entrou em parafuso e jogou pesado para
garantir a vitória de seu candidato. Não deu certo. Por uma margem pequena, mas
sólida, Dilma venceu as eleições. E o parafuso em que eles entraram continuou
girando para um possível terceiro turno: a desestabilização do segundo mandato
da presidenta, num movimento inominável de sacanagem, que culmina com uma
campanha sórdida pelo impeachment, em que entram elementos de preconceito e de
ódio ao partido da presidenta, jogando em suas costas toda a culpa por tudo de
ruim que esteja acontecendo no País, desde as prisões por corrupção de altos
executivos envolvidos na chamada Operação Lavajato, até o crescimento da inflação
provocado pelo desaceleramento da economia, que eles patrocinaram no começo de
2014.
E há mais motivos que alimentaram
o ódio "deles", dos poderosos que sempre mamaram nas tetas do
governo: os controles estabelecidos pouco a pouco pela Receita Federal têm
feito com que "eles" tenham de pagar os impostos devidos, coisa que
nunca fizeram até hoje. Haja vista a operação Zelotes, da Polícia Federal, a
envolver "peixes graúdos" da indústria, do comércio, do setor bancário
etc. num escândalo - esse sim, sem precedentes - de evasão fiscal. Além, é
claro, de uma guinada realista do próprio governo rumo ao rearranjo e
reorientação da economia, o que, se der certo, propiciará, até o final do ano,
fôlego à presidenta e, possivelmente, uma nova derrota das forças conservadoras
daqui a quatro anos.
Então, já que a conspiração de
2014 não deu certo, tentam o golpe branco do impedimento da presidenta e a
entrega do governo a uma pessoa um pouco mais confiável, no caso, o
vice-presidente, do partido que hoje está na base do governo, mas que, diante
de outras circunstâncias e diante de pressões econômicas feitas no momento e do
jeito certo, pode mudar de lado.
"Yo no creo em las conspiraciones, pero que las hay, las
hay".
PS: Ah, sim: se ouvir o PIG
berrando que a PETROBRÁS está falida ou que a corrupção aumentou, NÃO ACREDITE,
pois VOCÊ ESTÁ SENDO TERRIVELMENTE MANIPULADO com mentiras que se repetem, que
se repetem, que se repetem, até que as pessoas pensem que são verdades.
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