maio 20, 2011

BOBAGENS SOBRE LINGUÍSTICA E GRAMÁTICA QUE SE OUVEM POR AÍ, OU: A GENI DA VEZ





A imprensa noticia, com grande destaque, que o Ministério da Educação aceita livro de Português que defende erros gramaticais.

Então, muita gente corre atrás da matéria. Especialistas são ouvidos. Todo mundo dá palpite.

Só falatório idiota, na maioria absoluta dos casos.

Não entenderam nada, como sempre. Porque não querem entender. Querem apenas confundir, criticar, bagunçar. Lembram o Chacrinha: não vim para explicar, mas para complicar.

Há mais de trinta anos, quando ainda lecionava Gramática Portuguesa – portanto, era um extremado defensor da norma culta – diante de estudos linguísticos sérios, de gente que entende do que está falando, já defendia o aspecto comunicador do falar do povo, ou melhor, do registro linguistico da fala, que é diferente da norma culta.

Quem não se lembra da música de Chico Buarque, RODA VIVA, para citar um “poeta popular” que tem os dois pés na erudição da norma culta?

Começa assim:

“Tem dias que a gente se sente...”

Ora, experimente corrigir a letra do Chico: “HÁ dias que a gente se sente...”

Quando falamos, principalmente, em ambiente informal, entre iguais, sem preocupações outras que não conviver, jogar conversa fora, comunicar-se, afinal, não nos preocupamos com as regras gramaticais. Então, é comum que muitos de nós eliminemos, por exemplo, alguns “s”; que alguns de nós não critiquemos construções até mais “erradas” do que isso, em nossos amigos e companheiros.

Porque, em termos linguísticos, é assim que acontece: há a norma culta, falada em ambientes formais e usada na escrita; e há a fala, o discurso que usamos informalmente, que está perfeitamente adquado ao sistema da língua, mas não às normas rígidas da gramática.

Em termos linguísticos, não existe o conceito de “erro”. Existe apenas a tentativa de comunicação, que falantes diversos – individuais ou de uma determinada coletividade - exercem de maneiras diferentes, dentro de um sistema maior, que é o idioma. Isso é o que importa.

Portanto, não há nenhum motivo de grita, de protesto, quanto à advertência dos autores ou autoras do livro em questão. Que não se deve, por exemplo, escrever: “os livro”. Que esse registro também não é adequado a todos os ambientes, em termos de fala.

Vou ser redundante: alertam, apenas e tão somente, que existe, sim, um outro registro que, não contrariando o sistema do idioma, é considerado inadequado em certos ambientes mais formais e “cultos” e que pode provocar – e realmente provoca – preconceito contra quem assim fala.

Tudo o mais é bobagem. Tudo o mais é falatório inútil. Tudo o mais é gasto desnecessário de tempo e tinta de jornais e revistas, por quem não sabe o que diz, porque não tem conhecimento linguístico, ou por quem quer apenas jogar pedra na Geni.

E a Geni da vez foi o livro do MEC. Ou terá sido o Ministro?


(Ilustração: Olavo Bilac, na pena de Toni D'Agostinho)

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