abril 22, 2009

A FELICIDADE

Sim, o título lembra bem a canção de Tom: “A felicidade é uma gota orvalho numa pétala de flor, brilha tranquila, depois de breve oscila e cai como uma lágrima de amor”.

Pois é, o poeta persegue a felicidade, mas tem consciência de sua brevidade. E nós, os que não somos poetas, também temos a mesma visão poética desse que é um dos objetivos mais comuns de nossa vida: a busca da felicidade?

Pra começo de conversa, não acredito na felicidade.

Não, não sou nenhum pessimista, nem uma pessoa depressiva a chorar pelos cantos, desanimado da vida, maldizendo a existência ou com tendências suicidas. Apenas não acredito no “ente” abstrato, metafísico, chamado de “felicidade”, algo como um estado permanente placidez. Eu ia dizer estado de “idiotia e estupidez”, mas contive-me a tempo, não o suficiente para, no entanto, deixar de reconhecer a tal “busca da felicidade” pelos humanos é uma das coisas mais idiotas que pode fazer qualquer pessoa.

Tentemos explicar melhor. A coisa começa, como quase tudo de nossa chamada civilização ocidental, lá na Grécia antiga. Ainda não se conhece o vírus que atacou uma grande quantidade de sábios gregos que os transformaram em filósofos. E o filósofo, como uma vez me explicou minha irmã, quando eu tinha os meus seis, sete anos, é uma pessoa que fica o dia inteiro pensando assim: “o meu boi morreu, eu vou morrer também...” Ou seja: pensando no tal sentido da vida. Como eram pessoas inteligentes, os tais filósofos gregos, de tanto pensar nisso e não chegar a conclusão nenhuma, inventaram a metafísica. Tudo que não se explica, no mundo físico, palpável, pertence ao inefável, ao transcendente, à metafísica.

Assim, criaram entes que seriam os modelos ideais de cada coisa concreta. Por exemplo, teria de haver, para explicar a existência das pedras, uma pedra primeira, transcendente, que guardaria em si todas as características das pedras reais. Talvez uma espécie de modelo, de pedra ideal.

Com isso, estavam criados os entes metafísicos, abstratos, transcendentais, absolutos, que conteriam todos os nossos sonhos e objetivos, ou explicariam o tal “sentido da vida”. E muitos chegaram à conclusão de que o homem está na terra para ser feliz, numa espécie de missão impossível.

Desde essa época, a humanidade, ou parte dela, segue nessa busca, como se a felicidade fosse um estado permanente de doçura, de esplendor, de placidez, onde nada mais importa, tudo se resolve e ali não há mais nada, nem mesmo vida, acrescento eu.

Ora, a vida, quem se importa com a vida? Se o mais importante é ser feliz?

Para mim, esse tipo de pensamento, entranhado no inconsciente de bilhões de pessoas, ao longo de dois, três mil anos, ou mais, tem entorpecido a nossa visão para as coisas simples da vida, como a “gota de orvalho numa pétala de flor”. Porque a vida é constituída de momentos, momentos bons e gostosos, momentos tristes e terríveis. Ia repetir Shakespeare, com o seu som e fúria, mas isso já está muito manjado. Todo mundo conhece. Conhece mas não entende. Imagina-se que é apenas retórica do bardo (que sabia de muitas coisas). Não, a tal felicidade não existe, como não existe a “pedra de todas as pedras”, a pedra ideal.

Não percamos tempo na sua busca, porque, enquanto a buscamos, deixamos, muitas vezes, de viver os momentos que a vida nos proporciona. Não estamos aqui para buscar o que não existe, mas estamos no mundo para a coisa mais prosaica que a natureza pôs ao nosso alcance: para viver, apenas, e nada mais.

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