abril 07, 2009

CRIME PERFEITO

Há todo um folclore em torno do crime perfeito. Aquele que é cometido por alguém que tem motivos para cometê-lo, vai-se beneficiar do crime, mas nunca será preso, por não haver provas contra ele.

Pensamos, sempre, quando se fala de crime perfeito, em produções de Hollywood ou em romances noirs, aquelas tramas complexas que só os grandes escritores e roteiristas conseguem inventar, sem se perder em suas armadilhas. Ou nos grandes vilões de histórias em quadrinhos, cujos objetivos são o de eliminar o herói e conquistar o mundo, com elucubrações tenebrosas e máquinas destruidoras.

Todos eles, entretanto, acabam atrás das grades, desmoralizados pela astúcia e pela coragem de detetives malucos e introspectivos ou pela força bruta dos super-heróis.

Então, nossa imaginação ferve, em busca de tramas mirabolantes que possam levar ao crime perfeito. Como driblar a insistência lógica de Columbo ou a astúcia de Sherlock Holmes?

Envolvidos por essa idéia de que não existe o crime perfeito, esquecemo-nos de que tudo isso é ficção. E, muitas vezes, da melhor qualidade. A desafiar nossa inteligência, a alimentar nosso cérebro de enigmas e soluções complicadas. Esquecemo-nos de que há uma realidade à nossa volta, muito mais desafiadora e muito mais tenebrosa.

O crime perfeito existe, sim. E bem sob os nossos olhos, sob os nossos narizes. E ocorre quase todos os dias. E não estou falando das chacinas, não. E não estou falando dos milhares de assassínios que as nossas polícias não conseguem resolver, porque não têm investigadores suficientes, não têm bons e suficientes laboratórios de criminalística, não têm viaturas, não têm salários...

Não são crimes perfeitos. São crimes não investigados, não resolvidos.

Estou falando de outra espécie de crime. Esse também tão grave quanto assassínios e chacinas. Estou falando de falcatruas que corroem diariamente as finanças públicas, o nosso rico dinheirinho de impostos, que suamos para pagar. Estou falando da roubalheira feita por dezenas, centenas, talvez de milhares de indivíduos inescrupulosos que assaltam todos os dias os cofres da Nação.

São crimes perfeitos, sim, porque roubam e todos sabem que eles roubam e se beneficiam do produto de sua rapinagem, com suas mansões e jatinhos executivos, com suas gastanças em paraísos turísticos, com sua vida nababesca.

E mais perfeitos ainda se tornam esses crimes porque os ladrões, conhecidos, reconhecidos, não vão para a cadeia.

E não vão porque obtêm habeas corpus do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, ou de qualquer outro togado de nossa Corte Suprema.

É ou não é um crime perfeito?

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