outubro 22, 2009

RIO EM GUERRA: DE QUEM É A CULPA?








É claro que há questões complexas na guerra civil que parece tomar conta da futura sede das Olimpíadas. E há, também, exploração nacional e internacional dos fatos, principalmente diante da violência dos contendores.

Há uma longa série de equívocos históricos cometidos pelos governantes do Rio de Janeiro, dos quais não escapam de culpa prefeitos e governadores que estiveram à frente da política nesses últimos vinte ou trinta anos. Há também o problema do comércio ilegal de armas, cuja responsabilidade inclui autoridades do Brasil e dos países da América Latina que se prestam a entreposto desse tipo de comércio.

E há a questão das drogas.

São elas, as drogas, talvez o ponto nevrálgico de todo esse imbróglio que não será resolvido tão facilmente, ou seja, não bastam ações policiais e a matança desenfreada e também não bastam ações sociais nos morros e favelas. Porque, na minha opinião, a solução do problema, além de todas as ações que já se realizaram nos morros, tanto em termos sociais quanto repressivos, passa por uma população que não mora nos morros nem nas favelas.

Estou-me referindo, claro, à imensa população consumidora daquilo que o morro lhe traz: drogas.

Ou alguém acha que os traficantes que arrostam batalhões policiais com caríssimas armas importadas trabalham para obter a droga e vender aos favelados ou à classe média média que habita os morros?

O consumo da droga, comprada a preço de ouro pelos “bonitinhos” dos bairros elegantes de toda a cidade, é que, ao fim e ao cabo, financia toda essa baderna que parece não ter fim. E não terá. Enquanto houver consumidores, haverá traficantes. E enquanto houver traficantes, haverá repressão e luta armada entre os próprios traficantes ou entre eles e a polícia, quase sempre em desvantagem diante do poder de fogo dos bandidos.

Porque rola muita, muita grana.

Quem fuma seu cigarrinho de maconha ou ingere seja lá que droga for, nas festinhas de embalo, nos apartamentos bem mobiliados da classe média e alta, está, sim, consumindo o sangue dos que lutam nos morros, sejam eles traficantes, policiais que os combatem ou inocentes surpreendidos por balas perdidas.

Podemos desde já prever que, daqui a pouco, manifestações “pela paz”, em forma de discursos bem articulados ou de passeatas na Zona Sul, se erguerão contra os acontecimentos lamentáveis. Esquecem-se, no entanto, esses mesmos que protestam, que são cúmplices da guerra sanguinária, ou por consumir sua maconha “inocente” ou por tolerar e até mesmo proteger e financiar amigos, filhos e parentes que não deixam de usar as drogas que o morro vende.

Portanto, assisto com indignação, mas também com certo desdém desanimado, a tudo o que acontece na Cidade Maravilhosa, porque sei que há, por parte da maioria dos entes envolvidos (comunidades, sociedade, governos, polícias, mídia), uma grande, uma enorme hipocrisia na discussão e encaminhamento de soluções para um problema que não tem solução de curto prazo, ou talvez não tenha solução nunca.

Porque, quando a culpa é todos, ninguém se sente culpado.


Um comentário:

aDesenhar disse...

E não só no Rio!
Leia este artigo sobre a morte do professor Chrystian Paiva, historiador, poeta, músico, activista social e sindical anarquista.

http://sinistraministra.blogspot.com/2009/10/policia-do-estado-de-roraima-brasil-e.html