junho 09, 2009

QUE DROGA!





Jamais usei drogas. Acho babaca o cara que precisa de drogas para qualquer coisa. A vida já um barato, sem precisar de maconha, cocaína, ecstay ou qualquer outra porcaria, para viver um barato. Aliás, em matéria de drogas, já botamos para dentro de nosso organismo muitas outras drogas, as legalizadas, as que estão no ar que respiramos, na comida envenenada por agrotóxicos que comemos, nos comprimidos contra dor de cabeça que consumimos. E ainda vamos querer drogas que, além dos efeitos colaterais que todos conhecemos, também nos alteram o estado de consciência! Acho estupidez. Mas, enfim, cada um sabe de si.

Quando o assunto é droga (aqui consideradas apenas as de efeito alucinógeno, portanto, as proibidas), a falta de conhecimento do assunto, o preconceito e as posições radicais predominam.

Falta de conhecimento do assunto. Não preciso, por exemplo, saber a história da maconha e de seu uso através dos tempos, ou, ainda, que a maconha pode ter tais e tais usos terapêuticos ou não, para defender o famoso tapa na pantera. O que a ciência sabe hoje sobre a cannabis é suficiente (assim como conhece todo o malefício do cigarro, esse uma droga permitida!), para nos provar que, embora menos terrível que outras, a marijuana tem efeitos nocivos, sim, no organismo que a usa. Assim como conhecemos, cientificamente, o desastre físico e psíquico provocado por todas as demais drogas alucinógenas.

Preconceito. Trata-se de pura e simplesmente estupidez ter preconceito contra o assunto drogas. Mas, pior é o preconceito contra o usuário. Está certo: acho que quem usa droga é estúpido, mas estúpido para si mesmo, por se destruir. Não adianta a sociedade encarar com preconceito o desajuste do drogado. A sociedade cria indivíduos desajustados e precisa acostumar-se a conviver com eles, e não persegui-los. Os seres humanos não são anjos nem demônios e imaginá-los divididos entre o bem o mal seja por qual motivo for não ajuda em nada a nos tornar melhores e mais civilizados.

Posições radicais. Há os que defendem com unhas e dentes a liberdade de se drogarem, como se a sociedade não tivesse nada com isso. E há os que desejam ver para sempre erradicados da sociedade tanto as drogas quanto os drogados. Tanto o individualismo exacerbado de um lado, quanto o fascismo disfarçado do outro poluem e impedem qualquer discussão mais séria sobre as drogas. E ficamos nos digladiando, sem achar algum tipo de solução do problema ou de convivência com ele.

No entanto, uma discussão séria, com conhecimento do assunto, sem preconceitos e sem posições radicais urge que ocorra em todo o mundo, para que possamos equacionar o problema do uso e abuso de drogas alucinógenas em nossa sociedade. Tanto a permissividade total quanto a proibição absoluta têm-se mostrado catastróficas. A busca de um meio termo, de um princípio mais humano e uma visão menos tacanha, que possa encontrar na prática uma forma de racionalismo tem sido dificultada por esses três elementos que citamos.

A sociedade tem de decidir: aceitação e formas de aceitação ou proibição total e formas de erradicação.

Se optarmos pela proibição total, como mais ou menos tem sido o modelo atual, temos de buscar formas científicas de erradicação total das plantações e das sementes de todas as drogas que se cultivam; temos de encontrar sistemas de controle das substâncias que permitem sintetização dessas mesmas drogas e a criação de outras ainda mais potentes; temos de desenvolver formas mais humanas de tratamento dos usuários; e, acima de tudo, realizar uma ampla e profunda conscientização das pessoas, através de campanhas publicitárias, de educação permanente de jovens e adultos, de forma a que todos tenham absoluto conhecimento e desprezo pelas drogas. E, acima de tudo, coibir o tráfico e manter um sistema de vigilância contínua e total em todos os pontos de cultivo, processamento e venda de drogas, sem um minuto sequer de distração, sem um átimo sequer de tolerância. Custo desse programa? Incalculável. Mas é um custo que todos, absolutamente, todos terão de pagar.

Se optarmos pela aceitação do consumo de drogas, em nome da liberdade individual, temos de solucionar o problema da produção e comercialização dos produtos; temos de estabelecer critérios de qualidade para essa produção e comercialização, bem como a adequação de lugares para consumo, sem que prejudiquem os que não usam; temos de estabelecer regulamentos claros para esse consumo; temos de discutir se o usuário terá ou não direito aos caríssimos sistemas de saúde, quando estiver debilitado pelas drogas, e quem pagará por isso; temos de discutir os limites entre o dever e o direito dos usuários, de tal modo que não interfiram nos direitos e deveres dos não usuários; e, principalmente, discutir se vale a pena a sociedade curvar-se definitivamente às demandas individuais e se vale a pena pagar esse preço, já que abrirá as portas para muitas outras exigências do indivíduo em relação ao grupo, de tal forma que assumamos claramente a ditadura do ego sobre o coletivo. Custo desse programa? Incalculável, em suas consequências muito menos econômicas do que de mudança total de paradigmas. Mas será um custo que todos, absolutamente todos, terão de pagar.

Enfim, abrir a discussão e buscar soluções para os inúmeros problemas que, apenas de relance e de forma rasa, abrimos nos parágrafos precedentes, numa visão maniqueísta, que é totalmente condenável, quando se trata de drogas e seu uso. O que não podemos tolerar é a absoluta indiferença e hipocrisia da sociedade, e seu envolvimento com aspectos preconceituosos, ligados a religiões e outras superstições, quando vem à tona o assunto drogas. Também não podemos tolerar a cara de pau dos que dizem ser inocente o uso de um cigarrinho de maconha, como se não houvesse por trás dessa fumacinha um tremendo esquema de tráfico que assalta, que assassina, que mantém a todos reféns de uma violência contra a qual os mesmos fumantes inocentes se revoltam, porque são também eles atingidos através de seus filhos, irmãos, pais e amigos por balas perdidas e outras atrocidades, por bandidos financiados por eles mesmos.

Essa hipocrisia, sim, tem de acabar. E já. Para que possamos discutir com paixão, talvez, mas não sem conhecimento, mas não com preconceitos, mas não com radicalismo, o problema das drogas.

E também sem poesia e sem ingenuidade, por favor. Porque não é pelo fato de eu nunca ter usado drogas e abominar o seu uso, que não poderei entender o buraco em que estamos metidos por causa delas.

(Escrito em 29.3.2007)


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