junho 24, 2009

INDIGNAÇÃO? PARA QUÊ?

Cidadãos indignados: um porre! Já se disseram cansados, já inventaram “impostômetros”, já tentaram panelaços, agora tentam o luto, uma tarja preta na janela. Tudo bobagem. Nada arranha a competência de nossos políticos em continuarem a cometer as falcatruas que sempre cometeram, porque os esquemas já estão armados desde há muito e não quem os desarme.

Por quê?

Porque constituem uma casta encastelada nos poderes da República, em todas as suas instâncias, pelo maldito instituto da reeleição. Perpetuam-se e a seus protegidos, nas Câmeras de vereadores de quase seis mil municípios, nas Câmaras estaduais e na federal, no Senado. São donos de currais eleitorais constituídos à custa de anos e anos de troca de favores, de embustes, de falsas promessas.

O que acontece com o Senado, hoje, essa vergonhosa lista de atos secretos a distribuir benesses com o dinheiro público, o nosso dinheiro, apenas comprova o que temos há muito denunciado como um dos males de nossa democracia, a possibilidade de reeleição sem limites.

É claro que a extinção do estatuto da reeleição não vai impedir a roubalheira ou sua continuação. No entanto, se se renovassem as lideranças políticas, muitos esquemas poderiam ser abortados, e a vigilância dos cidadãos e dos órgãos controladores e repressores ficaria facilitada, já que a renovação exigiria dos recém-eleitos maior malabarismo para burlar a lei.

Vejam os mortos-vivos que frequentam as listas de implicados no escândalo do Senado e poderão verificar que é gente que está lá há tanto tempo, que já nem prestávamos atenção às suas maracutaias, já que arrotam a todo instante falsas juras de probidade. Há, é claro, gente honesta, inteligente, preocupada com o povo, entre a camarilha e, é claro, também, que, com a proibição de serem reeleitos, nós os perderíamos. Mas acredito que o prejuízo é bem menor do que continuarmos a eleger sempre os mesmos, sempre os mesmos, por anos e anos, e até por décadas e décadas.

Assim, não adiantam a indignação e o protesto irado, se não tivermos o sangue frio de adotar uma campanha sistemática contra a reeleição, a ser vencida pelo convencimento de parcelas significativas da população, até que se tenha um número suficiente de pessoas para uma ação mais efetiva, como, por exemplo, uma emenda constitucional nascida da vontade do povo que acabe de uma vez por todas, senão com a reeleição, pelo menos com a reeleição reiterada. Quem sabe, apenas duas vezes, como já acontece com os membros do executivo, embora, sendo radical, eu pessoalmente preferiria que se acabasse com a reeleição para o mesmo cargo em todos os níveis.

Em vez de ficarmos chorando as pitangas ou o leite derramado, acredito que só um debate que envolva todos os cidadãos, através dos órgãos de comunicação social, poderia levar a uma democracia mais saudável, acabando com esse maldito sistema que institui uma classe política encastelada para sempre nos desvãos do poder, a se reeleger seguidamente, para armar as maracutaias que lhes permitem meter a mão no dinheiro público, no nosso rico dinheirinho.

Mas, isso, a nossa mídia, representada por empresas que também mamam nas tetas dos mesmos esquemas, através do subsídio indireto da propaganda comprada pelos governos, ou através da manutenção no poder de políticos que defendem os seus interesses, isso nossa mídia e nossos impolutos articulistas, repórteres, comentaristas e quejandos não se dispõem a fazer, atados que estão todos na mesma total e geral geléia de jogos de poder e corrupção.

Portanto, em vez de protestos e indignações inúteis, que tal começarmos a pensar seriamente numa reforma política à revelia dos políticos?

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