dezembro 12, 2009

LULA E A MERDA













O povo que votou – duas vezes – em Lula para Presidente, o povo que lhe dá, hoje, mais de 80% de aprovação, esse povo conhece bem o jeito dele, a franqueza dele. Porque é assim que esse povo fala. Palavrão, para esse povo, é fome, é miséria, é doença, é falta de esgoto, é morar onde não mora ninguém, como dizia um velho samba. Para esse povo, que vivia – e muitos ainda vivem – na merda, essa palavra não é palavrão, é convivência diária, pelo pouco que têm, pela comida ruim, pela rua esburacada, pelo córrego que transborda e leva tudo, quando tudo é quase nada, pela falta de condução.

Para esse povo, merda é dia a dia. E não choca a esse povo que seu Presidente diga o que eles estão cansados de viver – na merda.

Já para os ouvidos sensíveis de certos colunistas de jornal, de certa mídia que frequenta restaurantes franceses onde só o vinho custa dois anos de salário do pobre, para essa gente, que come caviar – que vai também virar a mesma merda que o arroz com feijão do pobre – para essa gente, o Presidente é grosso, é inconveniente, por trazer à baila um assunto que sempre esteve debaixo do tapete dos políticos corruptos que eles apoiam: saneamento básico.

O Brasil tem quase seis mil municípios, quase seis mil prefeitos e um número incalculável de vereadores espalhados por suas quase seis mil casas legislativas. A maioria absoluta desses municípios são pequenos, pequenos mas orgulhosos. Não exatamente dos prefeitos que escolhe o seu povo, ou que é obrigado a escolher, pelo sistema partidário atual. Ser prefeito de cidade pequena é, em geral, o melhor emprego do mundo: ganha-se bem, não se faz nada e tem-se prestígio local. E aquele pequeno poder que enche a cabeça dos que não nada têm na cabeça, a não ser a vontade de enriquecer.

Vá a qualquer cidade pequena e, por mais miserável que seja, procure a casa do prefeito: é, quase sempre, a mais bonita da cidade. E, quase sempre, o prefeito é fazendeiro ou pertence à chamada elite local. Pergunte por saneamento básico, isto é, serviço de água e esgoto. Quase sempre, a resposta será a mesma: esgoto? Pode até ter. Mas... é tratado? Em 99% por cento dos casos, pode ter certeza: tratamento de esgoto é coisa que ninguém nem sabe o que é.

Vou dar um exemplo extremo, em todos os sentidos: na Grande São Paulo, há uma cidade chamada Guarulhos. É um dos mais populosos municípios de São Paulo, com mais de um milhão e duzentos mil habitantes. Vá ao site da Prefeitura de Guarulhos – há todo tipo de informação. Procure saneamento, ou saneamento básico. Nada. Por quê? Porque, simplesmente, a grande cidade de Guarulhos não trata um só litro de seu esgoto, que é todo lançado no rio Tietê!

Prefeito que é prefeito não se preocupa com isso. Fazer esgoto e tratar esgoto é enterrar votos, como sempre se diz.

Saneamento básico, tratamento de esgoto, isso é condição fundamental de qualidade de vida, de saúde. Mas, não: eles, os prefeitos, preferem asfaltar ruas, construir pontes e viadutos, fazer obras que dêem dinheiro às empreiteiras e comissão para eles, para seus secretários, para seus seguidores políticos. E comprar ambulância, que é a única preocupação que eles têm com a saúde de seus munícipes, porque basta colocar o doente na ambulância e levá-lo para a capital.

Contratar empréstimos com o BNDES – o Banco Nacional de Desenvolvimento Social – para saneamento básico, quase sempre a fundo quase perdido, para o que basta vontade política e um pouco de preocupação social e um pouco, muito pouco, de visão de futuro, isso não lhes passa nunca pela cabeça. O povo? Ah, o povo que viva na merda, como sempre viveu.

Agora que o Lula escancarou essa realidade, com uma simples palavra – merda – que os idiotinhas das redações de uma certa imprensa que só pensa em um novo governo liberal que escancare as burras dos governos para seus donos, as elites que comandam os impérios midiáticos do Brasil, pois esses idiotinhas dizem que Presidente falar palavrão é feio, é inconveniente, é sinal de que não tem preparo para governar o País, esquecidos todos eles, claro, da merda que seus preferidos políticos sempre fizeram no Brasil, em termos de administração pública e de safadeza com o povo.

Cagam – literalmente – esses idiotinhas as regras para um tipo de governo que não interessa ao povo, porque essa gente que aqui esteve antes do Lula, com seu linguajar empoado, com seu jeito empavonado, com seus diplomas emoldurados, nada fez para tirar o povo da merda, como Lula está fazendo.

Então, é preferível, sim, um Presidente que fale merda do que presidentes que sempre fizeram merda!

Nenhum comentário: