dezembro 08, 2008

SABER PENSAR, SABER ESCREVER

Até parece enchente. Todo ano é a mesma coisa: a imprensa publica, o Jô Soares tripudia, educadores comentam, todo mundo dá palpite. São as famosas respostas de alunos do curso médio em provas internas ou em avaliações oficiais. São as famosas bobagens que eles escrevem.

Já toquei nesse assunto algures, alhures ou nenhures, quem sabe? Mas, não custa acrescentar um veneninho na discussão, de novo, se for o caso.

O que geralmente mais chama a atenção nas provas de língua e linguagem são os erros de grafia. Abundam. Incomodam. Provocam deboche. De vez em quando, alguém chama a atenção também para a falta de lógica dos textos de nossos pobres aluninhos espezinhados em praça pública.

Esse ano, acrescentaram mais um deboche (e esse, até que merecido): professores que comentam, por escrito, as tais provas, cometendo os seus errinhos de português.

Então, vamos ao que interessa.

Primeiro, ortografia é o de menos. Basta atenção. Basta um dicionário. Basta um corretor de texto do computador. Quando se erra, é fácil corrigir. Exercícios, leitura, cópias, o professor tem um arsenal a seu dispor para levar o aluno a escrever corretamente as palavras da nossa língua, cuja ortografia não é das mais fáceis, mas também não é das mais difíceis. E, afinal, ortografia é convenção. Agora, mesmo, vai entrar em vigor, por lei, decreto, sei lá, novas regras de acentuação e grafia. Nada muito profundo, nada muito emocionante.

Segundo, o que realmente importa são as frases desconexas, o pensamento confuso, sem lógica, indicando, aí, não apenas um problema lingüístico (esse trema vai desaparecer, e já vai tarde!), mas um problema mais profundo, de falta de compreensão da realidade, através da linguagem. E isso não é problema só do professor de português, não.

É problema de todos. Da escola que tem professores mal pagos e, conseqüentemente, mal preparados, formando um círculo vicioso que precisa urgentemente ser quebrado.

É problema de sistemas ditos avançados de ensino, que promovem alunos sem qualificação, para esconder suas deficiências.

É problema dos currículos, que não incluem matérias , como filosofia (ou até mesmo latim, que havia antigamente), que ensinem a pensar.

É problema dos métodos de ensino ensacados em apostilas previamente preparadas em pílulas, como se o conhecimento pudesse ser transmitido através de conceitos rasos e simplificados. Metodologias sem criatividade (aliás, os professores deviam ter aulas de criatividade, para motivar os alunos e sair da mesmice de aulas expositivas).
É problema do sistema de avaliação, que não exige que o aluno pense, analise, faça correlações, crie.

É problema da sociedade de consumo, onde tudo se massifica, onde os meios de comunicação não atingem os jovens, não os atraem para o que realmente importa, aí incluída, principalmente, a televisão, com seus milhares de horas de programação infantil que mais imbeciliza do que educa.

É problema dos pais, que não conseguem impor aos filhos valores de respeito à cultura, à escola, aos mestres.

É problema das secretarias de educação de estados e municípios, mas principalmente de municípios, cuja responsabilidade deveria ser prover as escolas de bibliotecas, de bons professores, de boa merenda (que estômago vazio perturba o cérebro), de ambiente agradável para a prática do saber e do desenvolvimento integral do ser humano, com atividades culturais e esportivas, e não construir verdadeiros depósitos de crianças.

Enfim, há todo um trabalho imenso a ser feito, para que todo ano, como enchente de dezembro, não tenhamos de ouvir sempre as mesmas críticas às nossas pequenas vítimas dessa série imensa de incompetências.

Quando o círculo vicioso será quebrado? Quando?

Ah, e mais uma coisinha só, fundamental: aluno erra e é corrigido ou deveria ser corrigido, afinal está aprendendo... mas professor! ? Esse não tem direito de errar, não. E principalmente, não tem direito de tirar sarro, quando devia era sentar e chorar. Por eles mesmos, muito mais pobres e sacrificados, que seus pobres e sacrificados alunos.

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