dezembro 22, 2008

AFINAL, QUE MUNDO É ESTE?

Vou falar principalmente da geração que viveu os anos 60 e 70. Intensamente. Uma geração pós-guerra que mudou, para sempre, as relações entre os homens e entre os sexos. Uma geração que encontrou um mundo cheio de preconceitos e ainda bastante arcaico e, a duras penas, conseguiu deixar um legado. Talvez discutível. E nem sempre foi o melhor dos mundos o que essa geração construiu, mas foi o mundo possível, dentro das circunstâncias.

A Grande Guerra mudou a relação de trabalho, nos países envolvidos. O esforço de guerra tirou as mulheres dos lares para as fábricas e fixou a idéia de que as diferenças entre os sexos eram fruto de mais de dois milênios de crenças e crendices. E os homens e mulheres que nasceram logo após souberam tirar proveito disso, encontrando nesse cadinho confuso de idéias o mote para a chamada revolução sexual.

O mundo bárbaro das guerras, dos conflitos, dos jogos de interesse, no entanto, ainda está aí, a nos atormentar, nas lideranças de homens que jogam o tempo todo com noções de poder e com a manipulação de conceitos arcaicos. No entanto, um novo conflito mundial ou o surgimento de doutrinas nazi-fascistas e assemelhadas, hoje, encontram e encontrarão dificuldade de prosperar, diante do poder de comunicação alcançado pelo homem, capaz de interferir diretamente, com suas opiniões e seus protestos, em quase todos os pontos do globo.

Globalizamos o mundo, que já era globalizado desde as grandes navegações, de um modo diferente. Não resolve todos os problemas, mas leva a que as nações e os seus líderes manipulem com menos facilidade as mentes e as opiniões.

A Europa uniu-se, meio a trancos e barrancos. Um avanço importante, tão importante quanto alguns recuos, como a volta de certa xenofobia. O Oriente nos ameaçou e nos ameaça com o terrorismo de alguns poucos em nome da grande maioria. Cristo e Maomé, mais do que nunca, parecem inimigos. Mas, temos, hoje, mais instrumentos para lidar com essas diferenças do que tínhamos na época das cruzadas. Só os idiotas, como Bush e Bin Laden, não sabem disso.

A África aguarda o seu resgate. Uma dívida que todos os homens temos para com o continente de onde, provavelmente, todos viemos. A China já é a potência que há quarenta anos vislumbrávamos com temor ou orgulho. Enquanto países como Rússia, Brasil e Índia tentam elevar-se à categoria de potências. De emergentes, viraram interferentes na imensa onda global. Não há mais papéis secundários no jogo da política internacional: são todos protagonistas.

As diferenças sociais e econômicas ainda são imensas. Mas, também nesse campo, temos condições de melhorar e crescer e fazer com que o mundo não chore mais por surtos de fome, de doenças, de grandes catástrofes, como até agora tem chorado. Falta vontade, apenas, vontade política. Aliás, retiro o apenas, porque a vontade política do homem para a melhoria do mundo em que vive passa, obrigatoriamente, por um longo período de esforço de convencimento de líderes ainda empedernidos. Chegaremos a convencê-los? Só a democracia e o esforço de todos poderão fazê-lo. Não importa quanto tempo demore.

A questão climática, a meu ver, pode ser a oportunidade única para que o homem consiga salvar-se de si mesmo. Sua discussão mal começou, mas, quando todos se conscientizarem de que é preciso recuperar o planeta, senão o homem desaparecerá de sua face, talvez esteja aí a grande motivação para que se superem as divergências e se busquem novos caminhos de paz e de respeito entre os povos e entre as pessoas.

No varejo, muita coisa mudou. Será inútil listar os detalhes. Preconceitos caíram. Muitos outros ficaram. A democracia avançou. E democracia, no seu sentido mais amplo, de oportunidade para todos. De superação das diferenças. Tanto no campo social quanto sexual. Ou, pelo menos, construímos teorias e avançamos cientificamente no sentido de superar conceitos e crendices que nos impediam de propor novos desafios no campo do conhecimento.

Ainda em termos de avanço social e político, demos passos importantes, como a recente eleição de Obama nos Estados Unidos e, antes, a de um presidente operário no Brasil. Coisas impensáveis naquele mundinho herdado por essa geração, com a sociedade devidamente dividida em compartimentos estanques e reacionários. São fatos de que devemos nos orgulhar, e não execrar, como muitos ainda o fazem, imbuídos, talvez, das velhas idéias que demoram a morrer. E não há, aí, qualquer viés político-partidário. Não se precisa gostar de algo, para reconhecer-lhe a importância.

Enfim, um mundo complexo foi o que essa geração pós-guerra está deixando para os jovens de mais de trinta anos que começam a tomar a direção das coisas. Um mundo de certezas e de dúvidas, mas um mundo um pouco melhor do que aquele que emergiu dos grandes conflitos do século vinte. Há ainda muita barbárie no homem, mas já demos um passo, um passo pequeno como o do primeiro passo do homem na Lua, mas um grande salto, se olharmos com olhos críticos a história do homem.

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