outubro 10, 2018

O ESTILO É O HOMEM









Do conforto de sua casa, curtindo o dolce far niente da recuperação de uma facada – que ainda não sei se incompetente ou inconsequente – que levou durante a campanha, o candidato fascista começou a disparar mensagens pelas redes sociais, como forma de motivar seu bando de eleitores idiotizados por um discurso “patriótico” e “contra tudo”, além de preconceituoso, homofóbico, racista, a favor da violência, um discurso em geral raso como um pires. 


Vou-me deter no estilo dessas mensagens, com a ressalva de que a crítica que, por acaso, apareça quanto a seus erros de português, nada tem de preconceituosa, pois, na minha opinião, não é isso o que importa, já que ele está concorrendo à presidência da república e não a uma vaga à Academia Brasileira de Letras. 


Fechado esse parêntese, devo chamar a atenção para o título desta pequena crônica – o estilo é o homem. Nesses tempos de interpretações grotescas, em que as pessoas mal leem o que se escreve e já saem dando caneladas a torto e a direita, devo explicar, ou pelo menos tentar, que falamos e escrevemos não só de acordo com nossa personalidade, nossa formação, nossos valores, como também refletimos – quando falamos e escrevemos – o meio em que vivemos. 


Por exemplo: não se vai querer de um jogador de futebol, durante um treino ou uma partida, que fale como um príncipe ou, pelo menos, como um cidadão comum. Seu linguajar estará eivado de palavrões, de expressões chulas, de xingamentos que podem, à primeira vista, ofender a sensibilidades mais aguçadas. Até mesmo contra seus próprios companheiros, ele usará de expressões muitas vezes grosseiras, para reclamar de um passe mal feito ou de uma jogada infeliz. Não há nesse linguajar exatamente nada de ofensivo. É o que manda a cartilha de comunicação do ambiente onde vive. Raramente, os ofendidos permanecerão ofendidos por mais do que alguns segundos ou minutos, já que usarão também do direito de resposta, imediata e muitas vezes no mesmo diapasão. 


Assim, vamos aos primeiros bilhetes do candidato fascista, que me chamaram a atenção: cheio de erros de português, numa linguagem mais grosseira, próxima à caserna de onde veio o tal candidato, essas mensagens estavam muito mais próximas daquilo que é a sua cartilha ideológica, ou seja, refletiam com bastante nitidez o seu pensamento político, o que ele realmente pensa. Se o deixassem livre para continuar a escrever, é lógico que “pegariam no seu pé” pelos erros de gramática – erroneamente, já que isso não é absolutamente importante –, mas teríamos um repositório de seu real pensamento político, o que seria muito mais útil a seus pretensos eleitores e, principalmente, para a desconstrução pelos seus opositores desse mesmo pensamento, que beira o tosco e a ideias genéricas e mal alinhavadas sobre os problemas do país. 


No entanto, logo veio a interferência dos seus marqueteiros e as mensagens começaram a se sofisticar em termos de linguagem, o que acaba por mascarar completamente toda a sua falta de preparo para a discussão séria de qualquer tema. Os termos mais rebuscados e a estrutura mais condizente com uma linguagem culta escondem as armadilhas de um discurso mais próximo do palatável do que a liberdade de expressão que antes o candidato tinha de dizer de forma mais clara o que pensa. 


Assim, quando lamenta os incidentes provocados por seus seguidores – com agressões e até mesmo uma morte por facadas de um capoeirista baiano – por causa de divergências políticas, nem mesmo os seus marqueteiros conseguem esconder seu desprezo pela vida humana, quando ele diz que não pode “controlar as ações das pessoas”, esquecido de que essas ações tiveram origem na sua pregação homofóbica, preconceituosa, machista e, sobretudo, de defesa da violência contra marginais, bandidos etc. É claro que, quando se defende a tortura e a morte de pessoas que atacam a sociedade, qualquer um pode interpretar que está livre para torturar e matar quem não esteja do mesmo lado político ou ideológico que o seu, já que o seu lado é o correto, é o da sociedade, e quem está contra o seu lado está contra a sociedade, merecendo portanto a tortura e morte.



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