maio 08, 2018

ESTOU, SIM, COM MUITA RAIVA...




  




O cara nasceu nos cafundós de Pernambuco, no meio da seca do Nordeste, numa família típica do interior, destroçada pela fome, pela falta de perspectiva de sobrevivência, por um pai sem nenhuma noção de valores humanos, que abandona essa família de vários irmãos; depois, a mãe e os filhos pequenos pegam um pau de arara e vêm para São Paulo, tentando fugir da fome, da miséria absoluta, da morte; vivem na periferia, sabe-se lá como, sobrevivendo como todo miserável neste País de miseráveis; o cara consegue estudar um tiquinho, começa a trabalhar numa fábrica ainda muito jovem, perde um dedo numa prensa, consegue se formar torneiro mecânico numa das escolas do SESI, única porta de entrada para um emprego mais decente, consegue emprego numa fábrica de automóveis, a primeira mulher morre no parto, por falta de assistência, por causa da pobreza, esse cara torna-se metalúrgico, começa aos poucos a participar da vida sindical, levado pelo irmão mais velho, torna-se conhecido e líder desses metalúrgicos, obtendo a presidência do sindicato; durante a fase mais dura da ditadura daqueles malditos militares, quando tudo parecia caminhar para o pior, o cara devolve aos operários a dignidade, liderando movimentos e greves que tiram um pouco do peso opressor do regime das costas dos trabalhadores, passando claramente a mensagem de que é possível lutar ainda, vai preso pelos militares e, depois de solto, funda um partido político, participa dos movimentos pelas eleições diretas, candidata-se várias vezes, primeiro ao governo de São Paulo, depois à presidência da república, contra todos os preconceitos relacionados à sua origem, à sua pretensa falta de preparo, à sua condição de operário; percorre várias vezes todo o Brasil, numa campanha árdua de esclarecimento, de longos discursos e mais longas ainda reuniões com membros do seu partido, com organizações sociais, com representantes de todas as classes, com membros dos diversos sindicatos e, finalmente, consegue eleger-se presidente da república, mesmo com a desconfiança de amplos setores conservadores; promete, como prioridade, dar ao brasileiro três refeições por dia, isto é, lutar para tirar da miséria uma grande parcela da população que passa fome, como ele passou na infância e na adolescência; vence as dificuldades todas colocadas pelos seus opositores em seus primeiros quatro anos de governo, reelege-se, torna-se líder de reconhecimento mundial, admirado nos quatro cantos do planeta, por sua luta contra a fome, coloca o País entre as oito maiores potências econômicas do planeta, adquire um poder moral e político raramente alcançado na História, obtendo, ao final do mandato, uma popularidade recorde, como um homem poderoso, líder de uma nação, respeitado e admirado até por adversários; e esse cara, que conviveu com os poderosos do País e do Mundo, se quisesse ser corrupto, se tornaria o cara mais rico do Brasil, bajulado por milhares de empresários poderosos, bajulado por banqueiros e fazendeiros, esse homem vive como sempre viveu, num apartamento de classe média em sua cidade de origem, São Bernardo do Campo, esse cara não tem aviões ou carrões ou joias, não tem apartamento em Paris, não tem obras de arte nas paredes de alguma mansão, já que nem mansão ele tem, não faz ostentação em hotéis de luxo pelo mundo, não tem dinheiro em bancos suíços ou em qualquer outro lugar do planeta, ou seja, pelos padrões de alguém que teve todo o poder possível do País, é um cara que se pode considerar classe média média, quase pobre, um homem que tem como riqueza apenas a sua história, uma trajetória de vida pessoal, uma trajetória de vida política e uma trajetória de realizações que poucos, muito poucos homens lograram obter, e esse homem que podia estar riquíssimo, se fosse corrupto, se fosse ladrão como tantos e tantos que se locupletaram das benesses do poder, esse homem está preso, condenado por quatro juizinhos de merda, porque esses idiotas acham que ele recebeu propina para reformar um apartamento de classe média no Guarujá e por uma porcaria de obras num sítio de Atibaia, no interior de São Paulo, que, juntas, essas reformas não chegariam nem a 2 milhões de reais, estando mais do que provado que nem o apartamento nem o sítio estão em nome dele e também não estão em nome de laranjas, como é comum entre os que se dizem impolutos por aí a fora, ou seja, um dos homens mais poderosos do País, que poderia ter lucrado milhões de dólares de propina, recebe como recompensa um apartamentozinho meia boa e um sítio de poucos hectares, enquanto malas e malas de dinheiro passeiam de mão em mão, enquanto um apartamento com 51 milhões de reais é descoberto na Bahia, enquanto maracutaias de bilhões de dólares são descobertas, com dinheiro público passeando pelos paraísos fiscais do mundo, esse homem é condenado por quatro juízes idiotas, cretinos, mal intencionados, sem nenhuma prova concreta, apenas para cumprir a missão que lhes foi delegada pela direita que não admite que o cara seja de novo candidato, que o cara volte à presidência... então, eu fico realmente com muita, muita raiva, e mesmo sendo contra a pena de morte, eu daria, sim, quatro tiros na cabeça desses juízes... 













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