julho 08, 2024

BRASIL X ARGENTINA: AMIGOS QUE SE ODEIAM OU INIMIGOS QUE SE AMAM?

 




O reducionismo é uma praga de que se lança mão quando a preguiça ou a indigência mental nos assalta. Por exemplo: dizemos que os argentinos são arrogantes; que os argentinos se acham europeus e não sul-americanos... Ora, definir assim, em poucas palavras, um povo é justamente o tipo de reducionismo estúpido, como dizer que os brasileiros são um povo alegre e gentil. Bobagens que se repetem. Então, deixemos de lado os reducionismos, pelo menos os tradicionais, para tentar conversar um pouco, sem preconceitos, e com um pouco ou muito de ironia, sobre a relação entre os sambistas brasileiros e os milongueiros argentinos.

A maioria dos torcedores brasileiros não gosta do futebol argentino e acredito que os torcedores argentinos, em sua maioria, não gostam do futebol brasileiro, mas isso também é reducionismo, já que não sei se há pesquisas que confirmem ou desmintam tal afirmação. O que eu sei é o que observo: há uma rixa do tamanho de um bonde (como se dizia antigamente) entre os torcedores das duas seleções. Mas, as desavenças entre os dois povos terminam aí, ou devem terminar aí: entre as quatro linhas de campo de futebol. Por mais que não queiramos, se somos inimigos que nos amamos ou amigos que nos odiamos, a verdade é que somos latino-americanos e nos espelhamos em muitas situações. Aquela velha propaganda que se popularizou no dito “nós somos vocês amanhã” tem ida e volta, vale de cá para lá e de lá para cá, em muitas situações.

Na política, tiveram eles um Domingo Perón (e parece que ainda têm); tivemos nós um Getúlio Vargas (e às vezes acho que ainda temos). Tiveram eles uma ditadura militar, talvez um pouco mais raivosa do que a nossa, mas foram ambas um desastre para os dois países. Não tivemos uma guerra das Malvinas, mas não precisamos de algo assim, para... deixa pra lá. Sigamos com mais um reducionismo (porque é mais ou menos disso que se trata): inflação. Lá como cá, o monstro tem causado estragos há décadas. A diferença é que tivemos um plano real e conseguimos fechar o monstro num quarto escuro (ele ainda nos espia pelo buraco da fechadura, mas não conseguiu até agora arrombar a porta), enquanto por lá a coisa ainda anda feia.

Bem, para não me estender demasiado em assuntos genéricos e cair no exagero do reducionismo que condenamos (e aqui praticamos um pouco ou sei lá quanto), vamos ao que me interessa no momento, em relação às semelhanças, mais do que as diferenças, entre Brasil e Argentina ou entre Argentina e Brasil (para dar um tom de neutralidade, que realmente é difícil tanto para um brasileiro quanto para um argentino, quando se trata do que estamos tratando): Bolsonaro e Milei.

Agora, sim: o espelhamento entre nós, brasileiros e argentinos, é quase perfeito. Inventamos um Bolsonaro, um cara estúpido, neonazifascista pentecostal ou falsamente pentecostal, racista, misógino, machista, inescrupuloso, isolacionista e ignorante, e o entronizamos na presidência do país, para quase nos levar a um desastre político econômico e social sem precedentes. Só não se cumpriu totalmente tal desígnio, porque não obteve o surpreendente indivíduo um segundo mandato. Acho – e muita gente pensa como eu – que não haveria outro pior no mundo. Mas... e aí vieram os argentinos para nos surpreender, ou seja, para nos dizerem que eles podem fazer sempre melhor do que nós (o tal complexo de superioridade deles), e inventaram o tal do Milei. Tudo quanto disse do Bolsonaro pode ser dito do Milei, com mais um detalhe que o distingue e até ultrapassa a estupidez do nosso ex-presidente: ela fala com seu cachorro e lhe pede conselhos! Detalhe: o cachorro já morreu há muitos anos!

Realmente, entre nós e eles, no quesito “vamos para o fim do mundo abraçados”, os argentinos estão, ao que parece, ganhando de goleada, já que conseguimos, por enquanto, nos desvencilhar desse abraço suicida. Por enquanto...

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