O planeta Terra já passou por muitos perrengues, em sua longa trajetória de destruição, extermínio e renascimento, até chegar aos dias de hoje. Todos esses perrengues – aquecimento global, era do gelo, queda de um grande cometa, acomodações dos continentes, grandes cataclismos etc. – tiveram causas naturais. Todos foram superados. E o planeta azul continuou sua trajetória em torno do Sol, o único capaz de “matar” a Terra, quando – segundo os astrônomos – explodir daqui a alguns bilhões de anos.
Portanto, a Terra, esse nosso planeta, o lugar onde vivemos, e do qual não temos condições de escapar nem daqui a alguns milhares de anos, não está em perigo. As mudanças climáticas e os grandes cataclismos que, hoje, são causados por nós, seres humanos, não terão capacidade de destruir a Terra. Mas... terão capacidade, sim, de destruir seus causadores, ou seja, a humanidade.
Se somos os responsáveis por esses fenômenos capazes de nos destruir, somos também responsáveis por, pelo menos, tentar evitá-los e, assim, conseguirmos preservar nossa espécie que, se for extinta, não causará nenhum dano ao planeta. A Terra continuará girando em torno do Sol e, daqui a alguns milhares ou milhões de anos, será um “bebê” recém-nascido a gestar e formatar, quem sabe, outros seres que não a destruam.
Portanto, na qualidade de que mais nos orgulhamos, como seres vivos, está a capacidade de nos salvar: a racionalidade. Ou seja, se somos mesmo “animais racionais”, é o momento de provar para nós mesmos essa tão decantada diferença entre nós, os humanos, e os demais seres que aqui vivem. Será que passaremos por essa prova?
Bem, para que isso aconteça, precisamos, dentre os muitos problemas que temos de resolver, atacar os irmãos xifópagos exterminadores do nosso futuro: o capitalismo e o consumismo.
Como são xifópagos, estão tão irmãmente ligados, que é quase impossível falar deles isoladamente. Só o faremos, aqui, por uma questão de conveniência.
Primeiro, o capitalismo. Não sei e não quero saber sua origem. Apenas sei que, a partir da chamada revolução industrial, o mundo se tornou progressivamente mais capitalista. Os meios de produção foram sendo paulatinamente concentrados nas garras de uns poucos, para desespero de todos, sob os olhares complacentes dos governos de todos os países e dos povos que os elegeram. Criaram um monstro que, hoje, tem seus tentáculos, através das grandes corporações, estendidos a praticamente todos os cantos do planeta. Quase todos os setores produtivos estão sob a responsabilidade dessas corporações multinacionais que, tendo suas garras fincadas em muitos países, conseguem burlar todas as leis e conseguem crescer cada vez mais, sem nenhum controle. São elas as responsáveis pelo empobrecimento e pela fome em muitos países, à custa dos quais sobrevivem, concentrando a riqueza nas mãos de uns poucos, ou de umas poucas nações, signatárias e cúmplices dessa situação.
A ONU, Organização das Nações Unidas, que era uma esperança de governabilidade global quando criada, nos anos 40 do século passado, tornou-se um organismo tão inútil quanto um grêmio de bairro de uma grande cidade, dominada pelos países que se dizem os xerifes do mundo, os países capitalistas que defendem os interesses capitalistas, ou seja, das grandes corporações.
Se a ONU tivesse algum poder, através dela poder-se-ia estabelecer um primeiro grande pacto entre as nações, para o controle dos lucros absurdos das grandes corporações, como uma forma de se começar a diminuir seu poder destrutivo. Esse seria o primeiro passo para reestabelecermos condições econômicas e financeiras para despoluir a atmosfera, os rios e os mares; para deter o desmatamento e reflorestar as áreas devastadas; para impedir a deterioração do meio ambiente; para acabar com a fome no mundo; para começarmos a construir um futuro sem desigualdades sociais e, principalmente, sem o outro grande irmão xifópago do capitalismo, o consumismo.
O segundo grande pacto entre as nações seria para refrear o consumismo. A começar pelas nações mais ricas, que deveriam conscientizar suas populações, principalmente suas “classes médias”, de que se pode viver, primeiramente, sem desperdício e, em seguida, com menos consumo de bens inúteis ou extremamente poluidores, como o petróleo e seus derivados, principalmente o plástico. Há muito badulaque inútil ou desnecessário em nossas casas: que cada um olhe ao redor e comprove. O luxo é um acinte, quando milhões passam fome. Para que, por exemplo, um indivíduo precisa ter dois telefones celulares? E assim com centenas e centenas de “objetos de desejo” que compramos e, às vezes, nem utilizamos, mas o fazemos apenas por um consumismo embalado pela propaganda, pela mídia, por inveja do vizinho, por ostentação, para gáudio e sobrevivência do capitalismo predatório. O consumismo irá nos consumir, ou seja, será um dos fatores que levará ao esgotamento dos recursos finitos do planeta e, consequentemente, é a causa de tudo isso que vivemos hoje, nesse apenas começo de aquecimento global, com todas as suas catástrofes, provocado por nós, seres humanos ditos racionais.
Enfim, as sugestões apresentadas, eu sei, são radicais. Mas, se não tomarmos essas medidas ou outras tão radicais quanto – gestadas por pessoas mais capacitadas que eu e adotadas por todos os países – e com urgência, podemos ter certeza de que a humanidade corre sério risco de, com toda a sua racionalidade, passar à condição de dinossauros em futuro relativamente próximo.
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Como
bônus a esse artigo, um poema que escrevi em 2017:
obsolescência
gosto
de coisas duráveis
a
obsolescência dá sobrevivência
a esse
capitalismo que nos sufoca
gosto
das coisas utilizáveis
à
margem do tempo e do gasto
a
obsolescência é a ferrugem do capitalismo
ferrugem
que nos corrói por dentro
enquanto
faz girar a roda dentada
que
nos esmaga e transforma em rio vermelho
nossas
possíveis esperanças de dias melhores
gosto
das coisas duráveis
dos
objetos que mantêm o brilho e a funcionalidade
além
muito além das necessidades dos engravatados
odeio
a ferrugem fabricada e inserida
em
tudo quanto compramos e utilizamos
para a
feliz opressão dos senhores das máquinas
gosto
sim das coisas duráveis
das
coisas feitas como os ossos que nos sustentam
brancos
e puros após anos e anos na terra escura
coisas
duráveis como as palavras dos poetas
válidas
palavras que nos consolam pela vida
não o
lixo fabricado por robôs
com
data marcada para voltar ao lixo
gosto
das coisas que duram como a vida
gosto
das coisas que duram como os versos
gosto
das coisas que duram como as palavras
Este poema pode ser ouvido, na voz do autor, neste endereço de podcast:
https://open.spotify.com/episode/6daxftyaGg9N1m5HESue5L?si=oFuxUjdRQGmo6iTs1VuHrA
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