junho 13, 2022

CRIMES INSOLÚVEIS?

 

(James Ensor - The Assassination)


Não há crime perfeito, há crimes mal investigados.

A má investigação de um crime pode ocorrer por diversos motivos, sendo os principais:

1. incompetência dos investigadores na preservação e na análise minuciosa e precisa do local do crime, no interrogatório das testemunhas, no trato das provas etc. etc. etc.

2. falta de metodologia na investigação, como a existência de protocolos rígidos e devidamente comprovados, para levantamento de provas e outras providências;

3. falta de recursos e de tecnologia apropriada, como exames laboratoriais sofisticados, equipamentos de vídeo e de detecção de sinais imperceptíveis de presença etc. etc. etc.

4. falta de interesse dos investigadores, como forma de proteção de suspeitos, ou por motivos corporativistas ou por ordem de autoridades, o que implica, às vezes, até mesmo a ocultação e destruição de provas.

Se tomarmos como exemplo, a série de crimes cometidos por Jack, o estripador, em Londres, em 1888, podemos observar que vários dos motivos acima podem ser arrolados, como incompetência dos investigadores, principalmente por não haver ainda uma metodologia comprovada de boa investigação criminal: o local de cada crime nem sempre foi preservado e analisado, a convocação e interrogatório de testemunhas foram falhos; os corpos das vítimas não tiveram uma necropsia bem feita (dizem que o “corpo fala”); faltavam recursos tecnológicos, bastante precários na época; enfim, toda a investigação foi cercada de muito amadorismo pela polícia londrina, não acostumada com a ideia de um assassino em série.

Hoje, no entanto, são poucos, pouquíssimos, os casos de crime de morte que não sejam desvendados, mesmo passados alguns anos: temos metodologia de investigação e muita tecnologia à disposição dos investigadores, desde substâncias que detectam sangue oculto em veículos, em vestes, em locais suspeitos, até sofisticados exames de laboratório, incluindo o exame de DNA, que tem condenado muitos assassinos e libertado muitos inocentes. Basta que haja interesse e, às vezes, investimento financeiro e humano para que o criminoso seja descoberto. Há alguma complicação quando o crime é encomendado, isto é, descobrem-se os executores, mas é preciso identificar o mandante. Mesmo que os executores tenham sido mortos, em troca de tiros com a polícia ou por queima de arquivo, ou presos, se recusam a confessar a autoria intelectual do crime, os investigadores têm recursos para seguir a trilha pregressa dos executores e chegar ao mandante. Quando isso não acontece, é porque caímos na quarta causa da má investigação criminal: a descoberta do mandante contraria interesses poderosos.

É o que acontece, na minha opinião, com um crime hediondo e de grande repercussão nacional e internacional, ocorrido há mais de quatro anos, no Rio de Janeiro: o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.

Os executores do crime estão presos, mas há uma pergunta sem resposta até hoje: Quem mandou matar Marielle?

Eu acredito que um núcleo “duro” de investigadores sabe exatamente quem foram os mandantes. No entanto, não o podem revelar, porque, possivelmente essa revelação abalaria alguns pilares da república (o que já é um bom motivo para o silêncio) ou esses investigadores poderiam sofrer represálias terríveis, com ameaça de morte, não apenas dos implicados, mas principalmente de seus familiares (e esse é um argumento terrível, para qualquer ser humano: colocar em risco elementos de sua família, pais, irmãos, irmãs etc., por motivo profissional).

Por isso, meus caros (e parcos) leitores, é possível que nós, da nossa geração, jamais tenhamos a solução completa desse crime.

Talvez daqui a cem anos?

Agora, mais um crime terrível está no ar: o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, nas matas da Amazônia, cujos corpos acabam de ser encontrados. Que tenha havido um crime não se duvida. Que se prendam os executores, também é muito provável e quase certo.


Mas... será que, mais uma vez, morrerá na nossa garganta o mesmo grito de sempre: QUEM MANDOU MATAR?


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