março 01, 2022

NÃO CHOREMOS PELA UCRÂNIA, CHOREMOS PELOS UCRANIANOS





Se você está imbuído do fervor patriótico do povo ucraniano e pelas palavras de incentivo de quase todo o mundo a esse fervor patriótico, por favor, não leia este artigo. Você não vai encontrar, aqui, nenhum louvor a qualquer tipo de patriotismo, a primeira trincheira dos estúpidos e dos adoradores do genocídio.

Então, vamos lá.

Primeiro, quando Putin ameaçou a Ucrânia, nenhum país, nenhum governo, absolutamente ninguém ouviu suas razões. A reação foi sempre de contra ameaça. Se fizer isso, faremos aquilo. Se continuar assim, vai se arrepender. E por aí a fora. Talvez Putin tivesse razão. Talvez Putin não tivesse. Isso não importa. Importava ouvir, conversar, dialogar, buscar soluções, extrapolar a ideia de que se evita uma guerra fazendo guerra, que é a segunda trincheira dos estúpidos, principalmente dos adoradores do genocídio.

Ao contrário de qualquer lógica, os governos e a mídia jogavam, a cada palavra, a cada pronunciamento, mais lenha na fogueira, mais gasolina no incêndio. Talvez um único governo, o da França, tenha tentado ouvir, mas foi a voz solitária. Acho até que todos os demais governos, instigados pelos Estados Unidos, sob o manto da famigerada e belicosa OTAN / NATO, escarneceram de suas tentativas. Se Putin também escarneceu do presidente francês, foi porque percebeu que era realmente a voz que pregava no deserto, para usar a batida metáfora bíblica. Estavam todos imbuídos de seus pressupostos, agarrados à arrogância da ameaça, do falar e gritar mais alto, de que somos os mais fortes, e essa é a terceira trincheira dos estúpidos e dos adoradores do genocídio.

Iniciada a invasão, o que fazem a mídia, os governos europeus e estadunidense e o próprio governo da Ucrânia? Apoiam a resistência entusiasticamente. A mídia, com a repercussão e a cobertura espetaculosa da guerra, como vampiros sedentos de sangue. Os governos europeus e estadunidense com sanções e ameaças contra a Rússia. E mais: com o envio de armas de defesa para a Ucrânia. E mais, ainda: com o incentivo absolutamente insensato do governo ucraniano de que cidadãos comuns, sem preparo militar, resistissem com armas caseiras (e mesmo se fosse com armas sofisticadas, quem saberia usá-las corretamente?) e com coquetéis molotovs a um dos mais poderosos exércitos do mundo. E todos, absolutamente todos, de pessoas comuns a governantes poderosos, de estudantes a pensadores e historiadores famosos, todos a incensar, a encorajar, a enaltecer a resistência do povo ucraniano e a levá-lo ao paroxismo do amor à terra, à pátria. E aqui voltamos à primeira trincheira dos estúpidos adoradores do genocídio que é, como você deve se lembrar, meu caro leitor, o patriotismo.

Porque é de genocídio que estamos falando. Genocídio de um povo, o ucraniano, por um exército poderoso, cujas razões ou não razões para fazer o que está fazendo extrapolam todo e qualquer possibilidade de lógica, porque desencadeada a violência, não há como detê-la, não há como saber como vai terminar, ou melhor, sabemos sim: em hecatombe, em mais uma das inumeráveis carnificinas que os seres humanos cometem contra seres humanos ao longo dessa nossa triste história de guerras, de arrogância estúpida em acreditar que o militarismo possa ser solução de algum problema humano. E essa crença no militarismo, no poder das armas, na entrega de nossas vidas a seres treinados para matar, é talvez a última trincheira da estupidez humana.

Encerrarei minhas diatribes com a seguinte provocação (e que cada um a receba do jeito que quiser):

Se eu fosse o presidente da Ucrânia, não moveria um dedo sequer contra o exército russo, não deixaria que nem cidadãos nem os soldados disparassem um só tiro. Aguardaria os tanques em meu gabinete. E assim que meu país estivesse ocupado, procuraria o Putin e lhe diria: “Senhor Putin, agora que senhor já conseguiu o que queria, vamos conversar. O que o senhor quer para não matar nossos cidadãos e nos deixar em paz?”

Covarde! Poderiam gritar todos os estúpidos adoradores do genocídio. Mas, pelo menos eu teria poupado a vida de meu povo. Porque nenhuma vida vale mais do que qualquer bem material, vale mais do que um pedaço de chão, vale mais do que um país!

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