setembro 03, 2017

POR QUE UM PIB RIDÍCULO É TÃO COMEMORADO?












Há algo de podre, de muito podre, na falsa euforia dos meios de comunicação ao anunciar o aumento de 0,2% do PIB, depois de meses e meses de recessão. 



Excluindo os fatos óbvios de que esse aumento não indica retomada do crescimento, mas apenas um respiro causado por fatores como diminuição das taxas de juros, injeção de bilhões do FGTS na economia (um golpe de mestre, que trouxe a milhares e milhares de pessoas a possibilidade de pagar pequenas dívidas e atender a uma demanda extremamente reprimida de consumo), além do próprio movimento natural do processo econômico, cuja corda, esticada quase ao limite, tende à exaustão e a uma reação normal ao mercado.



Considere-se ainda que esse PIB miserável de 0,2% não contempla os setores mais importantes e sustentáveis do atual modelo econômico, como indústria e serviços, mas foi alavancado pelo aumento do consumo das famílias (como o dinheiro das contas do FGTS, repetimos) e do crescimento do agronegócio, cuja importância para a economia geral do país é menor, em virtude de suas características de sazonalidade e de ser um setor voltado fortemente para o mercado externo, além de que os empregos gerados no campo e os lucros lá obtidos pouco atingem as cidades, onde se concentra a maioria absoluta da população brasileira.



Mas, voltemos à ideia de que há algo de podre nessa euforia, como se um evento milagroso estivesse prestes a acontecer e que, a partir de agora, todos começarão a encontrar empregos e serão felizes para sempre.



Para entendermos o que se passa realmente, é preciso voltar-se para a figura central da atual crise brasileira: Michel Temer. Sua preocupação não é com o Brasil nem com os brasileiros, mas com a sobrevivência de seu pífio governo, ou ainda, com a sua própria sobrevivência (e, por extensão, com a sobrevivência da quadrilha que ele comanda).



Acossado por denúncias gravíssimas, que podem levá-lo a passar seus últimos dias de vida na prisão, quando puder ser alcançado pela justiça, Temer só tem uma saída: continuar presidente. E mais: tentar reverter a extrema rejeição de sua figura e de seu governo incompetente junto à população, para, quem sabe, tentar uma reeleição e obter mais quatro anos de impunidade.



Para que isso tenha um mínimo de possibilidade de êxito, lança-se numa ofensiva que pode levar o País a uma situação pior do que aquela que produziu Fernando Henrique Cardoso, quando da compra dos congressistas para aprovarem a emenda da reeleição.



Naquela época, FHC ainda tinha algum prestígio e seu nome ainda despertava um mínimo de esperança, pelo seu passado e seu histórico de homem da “esquerda” (que, na verdade, ele nunca foi) e professor emérito, respeitado nos meios acadêmicos e até no exterior, principalmente depois da capitalização do êxito do Plano Real, devidamente apropriado por ele.



Desprovido de qualquer qualidade pessoal ou política, de qualquer histórico de respeitabilidade, por ter sido sempre um político medíocre, apesar de haver exercido vários postos na administração pública e de haver chegado à presidência do seu partido, Temer vai ter que jogar muito mais pesado do que FHC. E já provou que não tem (como nunca teve) escrúpulos nem medidas para se salvar (a si e à quadrilha que o acompanha): o episódio grotesco e humilhante para a democracia brasileira da compra de deputados, através da liberação das execráveis “emendas parlamentares”, para livrá-lo do primeiro pedido de licença para ser processado pelo STF dá bem a noção do que ele é e será capaz de fazer.



O seu plano de sobrevivência começa com a tentativa de impingir-nos a mentira da recuperação econômica. Como perdera prestígio junto aos órgãos de comunicação, diante das denúncias e da queda de popularidade (tem apenas 5% do apoio da população), só podemos desconfiar de que há algo de muito podre nessa euforia da mídia e de sua tentativa de levar o povo brasileiro a pensar que realmente o pior já passou e que estamos diante de um processo de retomada do desenvolvimento, com o ministro da fazenda a todo momento tendo espaço na televisão, a dar entrevistas que beiram o ridículo, de tal modo o discurso se mostra artificialmente otimista, prevendo um 2018 senão estupendo, mas de plena recuperação.



O segundo passo do plano articulado pelos estrategistas e marqueteiros do Temer consiste em tentar consolidar no exterior uma falsa imagem de estadista. A viagem à China, com resultados práticos risíveis (embora comemorados), diante do poderio econômico daquele país, é o exemplo acabado dessa tentativa de projetar no exterior sua imagem, para que essa imagem pouco a pouco se instale na mente dos brasileiros, recuperando parte do prestígio desgastado, e comece a ganhar corpo a ideia da reeleição. 



Sabe-se que, durante uma campanha eleitoral, muita coisa pode acontecer, como a manipulação da imagem de um político desconhecido ou desgastado se transformar naquilo que a imaginação de marqueteiros pagos a preço de ouro possa criar, para iludir o povo. Principalmente quando o partido do dito candidato tem um bom número de minutos na propaganda oficial pela televisão. Basta lembrar a campanha de João Dória à prefeitura de São Paulo (um exemplo entre muitos outros): um empresário pouco conhecido foi transformado no “João trabalhador”, como se ele fosse um novo Lula da Silva, a surgir das lutas periféricas da cidade, para o sucesso alcançado com o suor de seu trabalho. Aos marqueteiros de Dória só faltou dizer que ele saiu da periferia num pau-de-arara.



Tudo isso, é claro, tem um custo. FHC quebrou o país para se reeleger e deixou-o quebrado para seu sucessor, com altas taxas de desemprego e miserabilidade, que custaram a sobrevivência de milhares de pessoas.



Quanto vai custar, mais uma vez, ao povo os delírios de sobrevivência do Temer? Por enquanto, é impossível calcular, assim como é inútil tudo isso que dissemos ou viermos a dizer: diante da poderosa avalanche de mentiras que começarão a ser veiculadas a partir de agora, diante da poderosa máquina de compra de consciências já posta em movimento, só podemos afirmar que o preço dessa podridão toda será alto, muito mais alto do que pagamos pelos delírios de poder de FHC.



Só nos resta torcer para que tudo isso não dê certo, que o dito de Lincoln, de que não se pode enganar todo o povo todo o tempo, se cumpra, e deixar no ar a pergunta: quem vai nos livrar de Temer?






Nenhum comentário: