dezembro 19, 2016

SÃO PAULO: NOVO PREFEITO, IDEIAS VELHAS CAIADAS DE NOVO





Muitos hão de se lembrar do Sujismundo, que deu vida à campanha do governo federal (ainda na época da ditadura) – “povo civilizado é povo limpo”, nos anos 70. Muitos interpretaram essa campanha invertendo a frase – “povo limpo é povo civilizado”, para dar a conotação mais precisa do que estava nas intenções dos ditadores, ou seja, só é civilizado quem é limpo. Ou algo assim.

Pois bem, ressuscitamos o Sujismundo para falar do prefeito eleito de São Paulo. Sua primeira grande ação – sem dúvida, de marketing – será “limpar” a cidade, que ele já declarou que está “imunda”. Começando pela Avenida Nove de Julho, com limpeza de calçadas, muros, canteiros centrais etc. E que essa operação deverá ser estendida a toda a cidade, através das subprefeituras.

Tirando o marketing, sem dúvida ninguém pode ser contra a que a cidade se torne um pouco mais “civilizada”, que é o que está por debaixo da ideia do prefeito eleito. Civilização significando limpeza. Ou, se formos um pouco mais ao fundo, higienização.

O termo é forte? Não, não é. Para a cabeça de pessoas como o prefeito eleito, “povo limpo é povo civilizado”. Ou seja: não importa que a cidade tenha carências profundas de habitação, saneamento básico, transporte, mobilidade urbana, tratamento do lixo, desfavelização e, principalmente, educação. Tudo isso pode ficar em segundo plano, se tivermos melhores calçadas, jardins e praças e parques bem cuidados, guias pintadas, muros sem pichações etc.

Eu disse, no título desse artigo, ideias velhas caiadas de novo. Sabe por quê? Porque tudo isso me lembra um outro prefeito, que fazia muito bem esse marketing: Jânio Quadros. E o que deixou o ilustre ex-presidente para a cidade? Que eu me lembre, a descoberta dos arcos do Bixiga, ali na Avenida 23 de Maio. Além, é claro, das encrencas que ele arrumava, multando pessoalmente pessoas e empresas que ele achasse que deviam ser multadas, enquanto se dirigia de sua casa para a prefeitura, fato que alimentava uma certa imprensa. E alimentava o folclore de que ele se nutria para manter a ideia de homem enérgico e realizador.

Será que o prefeito eleito de São Paulo, ao assumir a 1º de janeiro, começará também a percorrer a cidade para implicar com comerciantes, bater boca com feirantes e ambulantes, para mandar retirar os “noias” das sarjetas e expulsar os fiscais corruptos, que levam propina para aprovar qualquer coisa? Poderá, assim, ressuscitar não só Sujismundo, mas também a vassoura do Jânio.


Como dizia o Bruxo de Cosme Velho, “ao cabo, só existem ideias velhas caiadas de novo”.

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