novembro 14, 2014

CHEGA DE PATRULHAS!







Viver numa ditadura é fácil: as regras são claras e desrespeitá-las implica punição, cadeia ou morte. Melhor seria dizer: morrer numa ditadura é fácil.

Já numa democracia, a vida é mais complicada. Porque significa pluralidade. E não só pluralidade, mas o direito de ser diferente e de expressar essa diferença. E "pior": aceitar que as pessoas pensem de modo diverso e sejam diferentes, que as pessoas possam dizer o que pensam, sem medo de serem presas, de serem torturadas, de morrerem. Ou seja: liberdade de opinião.

Liberdade total de opinião?

Talvez alguns pensem que sim. Mas não é exatamente isso. Há regras. E uma delas se chama RESPEITO. Pode-se opinar, sem dúvida. Mas não se pode deixar de respeitar o outro. Porque, numa democracia, a liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro.

Complicado isso. Muito complicado. Onde está o limite, a linha divisória, a cal que delimita o meu campo do campo do adversário, onde um atacante pode ser considerado "impedido"?

Pois, é: o limite, a linha divisória, a cal - essa coisa tão clara na ditatadura e  que na democracia é invisível. Invisível,  mas elementar e fundamental e não é uma linha, não: é algo chamado bom senso.

E bom senso não tem na farmácia, nem no supermercado, nem na feira. Não se compra, não se vende. Só se usa. E, se usado mal, vira outra coisa, vira desrespeito.

E aí, já não há democracia que aguente. Que se sustente.

Posso criticar o meu semelhante, o meu vizinho, o gato do meu vizinho, como posso criticar o governador e a presidenta da República. Sim, tenho esse direito. Temos todos esse direito, o de criticar, o de opor a uma opinião a nossa opinião. De dizer sim, ou de dizer não. De lutar por aquilo em que acredito.

Mas...

Ah! Essa adversativa, essa maldita adversativa, que os totalitários odeiam. Ou só a usam a seu favor, porque não conseguem entender os sutis mecanismos da democracia e a cospem de suas falas, de seus textos.

Para eles, não há possibilidade de oposição. Porque são os recalcados do pensamento único. E se alguém é diferente, se alguém pensa diferente, é "pau na moleira dele", que está marchando com pé trocado. Todos têm que marchar exatamente no mesmo passo. Aliás, eles adoram uma "marcha", um "ombro-armas"!

São os patrulheiros do pensamento alheio. Não largam nunca seus fuzis, suas metralhadoras giratórias, suas granadas: o "inimigo" somos todos nós, que temos opinião e são todos os que dizem ou fazem alguma coisa com a qual não concordam.

E, o pior: muitas vezes, não concordam e se lançam ao ataque, sem nem mesmo entenderem o que o outro falou, ou escreveu. Tudo é motivo de "patrulhamento": a piada mal contada, a ironia não entendida, a crítica não assimilada, o posicionamento filosófico, a opção sexual, o voto declarado, o apoio ou não a alguém...

Mas, não pensem que atacam com argumentos, com ideias, com oposição. Não. As patrulhas atacam com o mais rasteiro dos argumentos: o xingamento, a ofensa, a ameaça. O argumento dos que não têm argumentos. E quando podem, com "carteiradas" - "sabem com quem está falando?" "Não sou deus, mas sou juiz" (ou delegado, ou deputado, ou... qualquer outra "otoridade")!

É quase impossível acabar com as patrulhas. Mas, está na hora de se começar a dizer: chega!

Se quer discutir, discuta. Se quer criticar, critique. Se quer opinar, opine. Sem patrulha, no entanto. Com civilidade. Dentro das regras da democracia.


Chega! Chega de patrulhamento!



Nenhum comentário: