outubro 30, 2012

AINDA AS ELEIÇÕES (ou, PESCADOR, SÓ SEI PESCAR)







Há poucas semanas, numa troca óbvia de favores, "aquela revista semanal" publicou matéria de capa perguntando se não estaríamos sendo injustos com o Kassab, o ainda prefeito de São Paulo.

Pois bem, vamos tentar fazer-lhe justiça.

Gilberto Kassab ganhou a prefeitura de São Paulo como vice de José Serra e herdou, claro, o prestígio do padrinho, nos dois anos que se seguiram, com os mesmos secretários de governo tocando a cidade. Isso garantiu-lhe um segundo mandato. Claro, parecia que ia tudo bem.

Mas, a verdade, é que, como administrador, Kassab é um desastre. Sua popularidade começou a despencar já no início de seu voo solo, quando tentou e não conseguiu dar uma rumo próprio à administração da cidade. Não vou comentar seus insucessos, porque isso é público, notório e muito claro na cabeça dos paulistanos, que o elegeram como um dos piores prefeitos, só perdendo para o Pitta, também ele uma criatura saída da esperteza de outro político. Parece que brincar de Frankenstein não dá muito certo em política: os mostrengos quase sempre fracassam.

Como político, no entanto, não podemos deixar de admirar sua esperteza e tirocínio.

Ligado visceralmente ao Serra, não teve dúvidas em apoiá-lo, quando este saiu candidato a prefeito. Até mesmo arquitetou com o padrinho uma jogada de mestre para ajudá-lo: deixar os cofres cheios e os projetos (todos envolvendo grandes empreiteiras e obras enormes) já adiantados, para que o padrinho pudesse, em dois anos, firmar-se como grande realizador e fazer caixa para... a campanha presidencial, claro. Não deu certo. Serra perdeu as eleições.

Não pense, no entanto, que esse tenha sido um fracasso de Kassab. De jeito nenhum. Retrocedamos um pouco. Oriundo do DEM, o melífluo prefeito de São Paulo logo detectou o grau de deterioração desse partido e, com seu faro apurado, tratou logo de cair fora, não para outra sigla, mas fundando o seu próprio partido, com os descontentes não apenas do DEM, mas de todos os demais partidos. Está insatisfeito? Sem espaço? Não tem problema, as portas do PSD estão abertas para todos, numa alegre festa colorida, um verdadeiro arco-íris, já que o próprio Kassab definiu seu partido como não sendo nem direita, nem de esquerda, nem de centro!

Assim, antes da candidatura Serra, Kassab já flertava abertamente com o PT e buscou sempre aproximação com a presidenta Dilma. Só recuou quando Serra entrou na disputa. Mas já havia, espertamente, acendido sua outra vela. E, passadas as eleições - em que seu partido fez quase quinhentos prefeitos, pouco menos de 10% das cidades do País - Kassab tem cacife político para negociar com o governo de Haddad, dando-lhe apoio na Câmara (essencial, para os planos do novo prefeito) e fincar pé na política nacional. Ou seja, lançar-se nos braços do Governo e, quem sabe, cavar um ministério.

Se isso se concretizar, eu ousaria sugerir à Presidenta que lhe desse o Ministério da Pesca. Se, como administrador, Kassab foi deixa muito a desejar (e isso é o mínimo que se pode dizer dele), como político, façamos-lhe justiça: tem inegáveis qualidades de pescador, já que soube lançar as redes de seu partido e apanhar bagres, lambaris, tubarões e não sei quantas outras espécies de peixes de todos os demais partidos. 

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