Indigna-se a oposição, principalmente senadores do DEM e do PSDB, contra o presidente do Senado, como se não tivessem o rabo preso há muitos anos com os mesmos vícios que eles condenam.
Indignam-se comentaristas da mídia e põem mais lenha na fogueira, ao buscar no passado do senador Sarney uma trajetória de escândalos e apropriação do dinheiro público.
Indigna-se a população, principalmente, do Sul maravilha, contra os desmandos da casa legislativa que deveria ser o exemplo de correção e comedimento.
Têm todos razão. E ninguém tem razão.
A sujeira é mesmo grande, mas motivo não há, agora, para toda essa gritaria, esse espanto. Basta olhar um pouco para a história política desse País, para compreender que é tudo muito normal, tudo muito natural.
Nossas instituições políticas sempre foram contaminadas pela inexistência de linhas claras entre público e privado. Nossa república já nasceu assim, herdados que foram todos os vícios da monarquia, regime que sabe muito bem misturar o que é da Nação com o que pertence à “família real”, numa mixórdia que não se distingue bem onde começa realmente o bem público e onde termina o poder financeiro do monarca de plantão.
Assim foram todas as repúblicas já constituídas nesse nosso País de coronéis de meia tigela, com títulos comprados à antiga Força Pública, para melhor assenhorear-se dos bens do Estado ou dos estados, fazendo-se, a si mesmos, não apenas gestores mas pequenos vice-reis em suas capitanias hereditárias, constituídas à custa do chicote e da escravização das populações. Esse modelo, que é escancarado no Nordeste, até hoje, repete-se com formatos mais ou menos sutis em todos os demais estados da Federação.
Famílias ou grupos de famílias e agregados ou clãs que se perpetuam no poder existem em todos os lugares. E não há, entre essa gente, nenhum escrúpulo de divisão de bens entre o que é do povo e o que é deles, ou melhor, o que é do povo é sempre deles, muito deles.
O clã de Sir Ney, que virou Sarney, é apenas uma ponta desse imenso iceberg de práticas condominiais que usam todos os demais clãs, para se apoderarem, sem nenhum escrúpulo, do que julgam lhes pertencer por direito quase monárquico. E compram consciências e votos como compramos nós bananas na feira.
Não há, portanto, por que se espantar. Sir Ney foi eleito e reeleito inúmeras vezes, assim como a maioria dos senhores deputados e senadores, com o voto de cabresto de sempre. Que só pode acabar, se conseguirmos, um dia, detonar para sempre esse maldito instituto da reeleição!
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