maio 13, 2009

SÃO PAULO NÃO PRECISA DE ENGENHEIROS... NEM DE MILITARES!

O caos urbano de São Paulo é resultado de décadas de administrações equivocadas ou, simplesmente, incompetentes ou corruptas.

Dentre os equívocos, está a eleição ou escolha biônica (nos tempos da ditadura) de muitos engenheiros que governaram essa cidade. Nada tenho contra engenheiros. Precisamos deles. E são competentes naquilo a que se prestam: fazer os cálculos necessários para que as obras que se constroem saiam dentro de parâmetros corretos. E não caiam. Alguns até são bons administradores. Mas isso é exceção. Engenheiro não deve administrar cidades. Porque a cabeça deles é voltada para a construção, para obras. Não para uma visão integrada de homem, meio ambiente e obras.

Prestes Maia, engenheiro, é cantado em prosa e verso em São Paulo, por haver realizado muitas obras que modernizaram a cidade. Deixou um plano de grandes intervenções que foi seguido por muitos outros prefeitos, principalmente por Faria Lima, um brigadeiro com vocação de construtor. Faria Lima, praticamente, reinventou a cidade, mas cometeu um equívoco fundamental, cujo preço pagamos e pagaremos por muito tempo: não respeitou a geografia da cidade, não respeitou seus rios.

Suas intervenções podem ser hoje amadas e odiadas, porque, por um lado desafogaram a cidade, por outro contribuíram para a mentalidade de que os rios, os riachos, os córregos que existiam (e existem ainda) na cidade são um mal que precisa ser erradicado. Então, canalização se tornou obrigação: se um riacho provoca enchente, canalize-o, e transforme seu leito numa rua, numa avenida. E tome asfalto!

A cidade perdeu em beleza. A cidade perdeu em qualidade de vida. A cidade perdeu as várzeas que absorviam as águas no tempo das chuvas. E tornou-se o inferno de hoje: as ruas e avenidas não comportam o volume de tráfego e as águas que trariam vida e qualidade de vida se transformaram em motivos de grandes enchentes, por qualquer chuva mais forte, não respeitando os limites impostos pela canalização absurda.

Além disso, os poucos veios d’água que correm à superfície, até mesmo os grandes rios, como o Tietê e o Pinheiros, estão de tal forma poluídos que parecem esgoto a céu aberto, porque a população não aprendeu a respeitá-los e joga em suas águas toda a porcaria que produz, incentivada pela indiferença dos administradores que permitiram e ainda permitem que empresas e fábricas também joguem seus dejetos nas mesmas águas, em ligações clandestinas de esgoto e rejeitos industriais.

São Paulo é terra de ninguém, não há dúvida. A maioria da população não tem conceito de cidadania, porque não aprendeu a respeitar a cidade em que vive. E não estou falando apenas das populações mais pobres que vivem dependuradas nas margens dos rios. Estou falando principalmente dos grandes empreendedores que não souberam respeitar as várzeas e as margens de rios e represas, grileiros que, sob o olhar complacente e corrupto de muitos administradores, enganaram a população ao levá-la a ocupar desordenadamente imensas glebas de terras públicas ou, de forma ainda mais criminosa, a povoar áreas de proteção ambiental, comprometendo o próprio futuro da cidade.

Então, São Paulo precisa de cidadania. E de administradores que tenham sensibilidade para dar um basta no crescimento da metrópole, de dar um basta na construção desordenada de obras e mais obras que só enriquecem as construtoras. Não quero mais engenheiros, como o senhor Gilberto Kassab, que só pensam em mais obras e mais obras, como se o cimento fosse a única saída para o caos urbano que já se instalou.

E, principalmente, não quero dezenas de militares a dar ordens em todas as esferas do poder público, como parece ser a preferência do atual engenheiro cabeça gorda que nos governa. Militares parecem bons no início, quando suas ordens e sua postura de linha dura parecem levar a todos a um primeiro susto e a obedecer-lhes. Mas, logo se tornam arrogantes e, principalmente, não têm competência para entender e resolver os problemas humanos, esses sim, os que importam, numa metrópole problemática como São Paulo.

Haja vista o que se transformou os governos militares que mandaram e desmandaram nesse País por tantos anos. Quando os que os apoiaram perceberam, já era tarde: estava todo mundo levando porrada a torto e a direito. Com milico é assim: não há meio termo. E esses mais de quarenta (até hoje, quando escrevo essas linhas) militares que foram chamados pelo Kassab para impor respeito à administração pública desprestigiada e corrompida logo estarão fazendo os cidadãos dessa cidade a andar marchando e a cumprir algumas horas de ordem unida. Ou seja, não pode isso dar certo.

Assim, quero uma cidade mais humana, com os seus rios de volta. Uma cidade habitável, menos poluída, com menos gente (um plano de médio e longo prazo para esvaziar a cidade é necessário e factível: São Paulo precisa parar de crescer e, depois, começar a diminuir!). E isso não será conseguido com administradores com cabeça de engenheiro que tenta militarizar uma cidade que precisa de educação, de escolas, de cidadania, de melhores condições de vida, e não apenas de mais e mais obras.

E chega de obras contra enchentes. Que isso, para mim, é puro contrassenso!

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