março 03, 2009

ESSES QUE NOS GOVERNARAM, NOS ÚLIMOS ANOS

Podia começar falando dos governos militares. Cresci com eles. Com medo deles. Mas, estão mortos e enterrados. Foram o fruto podre que nossa pobre República colheu, entre tantos outros. Não vou falar deles.

Democratização. Meio estranha, é verdade. Com conchavos e conversas, muita conversa de bastidores. E lá veio Tancredo. O homem certo, no momento certo, no lugar certo... Não deu certo. Morreu na antecâmara do poder e deixou Sarney em seu lugar. Tonta a Nação. Tonto um presidente a governar com um plano que não era o seu, com uma gente que não era a sua. Aliás, inventou um plano. O cruzado. Bem no queixo da inflação. Orgulho de ter, afinal, um presidente que ia trabalhar dirigindo o próprio carro. Um presidente que ousava desafiar as leis do mercado, em nome do povo. Pobre povo: o queixo não era o da inflação, era o dele. E o knock-out foi devastador.

Aí, inventaram um cara que só sabia fazer uma coisa: caçar marajá lá nas Alagoas. Marajá, nome forte, para gente que mamava nas tetas do pobre Estado. Virou hit nacional, na televisão do senhor Roberto Marinho, que o elegeu com o voto dos idiotas. E foi a idiotice que se viu: não um golpe de boxe, mas de jiu-jítsu, um ippon, que botou no tatame de novo o povo. Que, mais esperto, reagiu e foi o que se viu: renunciou o caçador (que, na verdade era um tremendo mão-leve) e deixou o poder para um come-quieto lá de Minas. Que não era assim tão quieto, não. Aprontou das suas, com modelos sem calcinha em célebre carnaval no Rio. Não podia dar certo o senhor Itamar, mas até que deixou um rastro de esperança: um sociólogo badalado, intelectual, metido a besta (já até fora humilhado pelo Jânio, numa eleição para a prefeitura de São Paulo), mas todo falastrão.

Até tive certo orgulho de seu preparo, de seu rompante (embora nunca tenha gastado meu voto em tal indivíduo): aparentemente, pôs ordem na economia e o País parecia nos trilhos. Um plano ousado, ainda dos tempos do mineirinho come-quieto, começava a dar os seus frutos. E, afinal, um presidente feito sob medida: culto, viajado, falava inglês até com os alemães! Bem, lábia tinha o Fernandinho Segundo (que o primeiro foi o caçador de marajás, lembra?): vendeu meio País e comprou um Congresso inteirinho, com todos (ou quase todos) os senhores deputados e senadores, para obter, na marra, um segundo mandato. E deixou a maior desgraceira que podia deixar: o País quebrado, sem autoestima e sem destino. Ladeira abaixo as esperanças de desenvolvimento, de primeiro mundo.

Quanto tempo perdido! Quanto idiota a dar palpites infelizes. Restava o quê? O sapo barbudo.

E lá veio ele, com sua barba, sua voz roufenha, seu jeito desengonçado. Votei nele, sim. Que jeito? Era votar e torcer, torcer muito para que o deixassem lá, por um mandato pelo menos. Porque, embora tivesse esperança no barbudo, não confiava que terminasse dois anos de governo. Eram muitas as torcidas organizadas – contra! Piores que as de campo de futebol. Mais violentas e mais sanguinárias. Pularam com tudo a que tinham direito na jugular de Lula, o sapo que as ditas elites não conseguiam engolir. Deram paulada, deram soco e pontapé, só não deram tiro, porque aí já seria demais! E nada...

Tiveram que engolir o sapo barbudo. E deglutir. Porque, finalmente, um homem que se preocupa com o povo, porque veio do povo, estava no poder. E aos trancos e barrancos, levando trombadas e pulando obstáculos, aí está o Brasil de 2009 a enfrentar os desacertos de um mundo em ebulição econômica, numa das maiores encrencas que o capitalismo podre podia engendrar, com suas políticas selvagens. O Brasil liderado por um metalúrgico que não tem curso superior, nunca caçou marajás, não tem o pó das minas nem o visgo do café, não tem marimbondos de Academia, nem pretende ser mais do que é: aquele que conseguiu tirar o atraso e os desencontros de uma democracia recém-fundada.

Chiem e chorem, portanto, os viúvos de Sarneys, de Itamares e Fernandos, que é para frente que se anda: bons frutos só podem vir da boa árvore que os produziu. Qualquer outra solução é andar de novo para o atraso, para as políticas higienistas e antissociais de governos entreguistas que nunca se preocuparam com o povo.

Entenderam, então? Dois mil dez já começou. Esqueçam as pauladas, esqueçam as diatribes, esqueçam a mídia vendida e comprada. Não subam a serra, nem de Minas nem de São Paulo! Que o Brasil ainda tem jeito, se o povo não for enganado de novo!

Nenhum comentário: