Li no Instagram: “Num país em que as baratas votam no chinelo, que se fodam as baratas”. Para quem não se lembra, “cucarachas” (baratas) é como os estadunidenses chamam os latinos que moram nos Estados Unidos. E esses latinos votaram no Trump!
Um dos pilares da campanha que elegeu o Tiririca deles como presidente foi o incentivo à xenofobia contra os imigrantes latinos. Suas ameaças: deportação em massa; fechamento das fronteiras; taxação dos produtos importados do México, se a presidente Claudia Sheinbaum não conseguir impedir a entrada dos “cucarachas” pelas suas fronteiras. Além disso, a fábrica de fake news saída da bocarra de Trump incluiu dizer que, numa determinada cidadezinha dos Estados Unidos, de forte presença porto-riquenha, eles, os imigrantes, estavam comendo cães e gatos, roubados das casas dos cidadãos “de bem”. Isso gerou uma onda de mentiras e de memes avassaladora, que nenhum desmentido conseguiu amenizar. E mais: colocou na mente desses cidadãos “do bem” que os imigrantes estão tomando seus empregos!
Ora, esses empregos, que a bocarra mentirosa do Trump diz que estão sendo ocupados pelos “cucarachas” são exatamente os empregos que os estadunidenses odeiam ocupar, já que estão imbuídos do famigerado “sonho americano”: bom emprego, bons salários, compra de casa própria e do carrão do ano. Esse “sonho” – que, na realidade, era apenas um sonho incutido pela propaganda – tornou-se mais complicado hoje, por causa de algo com que eles não estavam acostumados: a inflação, que bateu nos 9% ao ano. Ainda que a economia, apesar disso, tenha crescido, que os empregos aumentaram, o que pesou mesmo para acreditarem nas mentiras do candidato foi a alta de preços de bens de consumo.
Vejamos o que uma onda de deportações e de impedimentos de entrada de imigrantes nos Estados poderá provocar, se ele, o Tiririca financiado pelo Elon Musk, cumprir o que prometeu no primeiro ano.
E há, aqui, um problema para ele: se não cumprir, desmoraliza-se.
Bem, os imigrantes, os “cucarachas” ocupam os empregos existentes principalmente na construção civil, mas também nos serviços de limpeza geral e de empregados nos bares e restaurantes, ganhando salário mínimo, que varia de estado para estado, mas tem por média cerca de US\$ 1.160 por mês, que, em reais, corresponde a aproximadamente R$ 5.800 mensais, e nos países latinos deve ser ainda maior. Sobre esse salário – que, para os nativos estadunidenses, é salário de fome – eles pagam imposto! O que rende um bom dinheiro para os cofres do governo. E mais: são pessoas que estão acostumadas a viver com pouco e, por isso, mandam algum dinheiro (cerca de 100 ou 200 dólares mais ou menos), por mês para suas famílias. Esse dinheiro, nos seus países de origem, faz que as famílias mudem de patamar social e passem a consumir mais. E consumem mais o quê? Produtos das indústrias estadunidenses localizadas em seus países, para onde se instalaram em busca de mão de obra mais barata. Ou seja, alimentam os próprios Estados Unidos, através dessas indústrias que, se forem taxadas em 25%, como ameaça o Trump fazer com as importações do México, irão quebrar, trazendo prejuízo para quem? Para os Estados Unidos.
Além do mais, a crise de mão de obra, principalmente na construção civil, que já ameaça muitas empresas dessa área, irá afetar profundamente a vida dos cidadãos “ricos e prósperos”, que verão o sonho da casa própria mais distante, com a escassez do produto e consequente aumento dos preços. Ou seja, a imigração dos “cucarachas” – que votaram no mentiroso e que podem ser deportados – é um sistema complexo de retroalimentação que movimenta um boa parte da economia dos Estados Unidos!
Falemos, agora, do Bolsonaro.
E o que o Bolsonaro tem com isso? Bem, nosso inelegível ex-presidente, ao contrário do topetudo lá deles, dos Estados Unidos, que está condenado e tem dezenas de processos nas costas e mesmo assim pôde se candidatar e vencer as eleições, Bolsonaro não pode nem sair do país, porque seu passaporte está retido por ordem do STF. Ele deve pedir que o Supremo o libere para ir à posse de seu “ídolo” (que, me perdoem os leitores, “está cagando e andando para ele”, já que não tem empatia para com ninguém fora dos Estados Unidos; e isso serve também para o presidente Milei da Argentina). No entanto, informa-nos hoje, 7 de novembro, a CNN, “que STF deve negar pedido de Bolsonaro para ir à posse de Trump”. Portanto, o idiota deve fazer, mais uma vez, o papel de que ele tanto gosta: de idiota. Além de puxa-saco do Trump.
Mudando um pouco o rumo da prosa, para uma cutucada no presidente ucraniano. Segundo todos os analistas, a promessa (mais uma!) do recém-eleito presidente estadunidense é acabar imediatamente com as guerras. No caso da Ucrânia, através da cessação de envio de armas, para forçar o Zelensky a uma quase rendição, com entrega dos territórios reclamados pela Rússia. Putin agradecerá.
Quanto ao Netanyahu, há, por parte do novo presidente, juras de amor eterno, o que deve deixar o premiê de Israel mais confortável. Provavelmente, quem vai entrar pelo cano serão os palestinos, os grupos armados – Hezbollah e Hamas – que os apoiam e, possivelmente, o Líbano. O que vai desagradar – e muito – os aiatolás do Irã: uma boa crise à vista!
Europa. A maioria dos países europeus vai sofrer o impacto de sua política, também prometida, de diminuir a influência – diga-se, diminuir a grana! – na OTAN/NATO, o que levaria a Europa a buscar alternativas para sua defesa. E, claro, mais gastos para os países membros, que não andam lá muito bem das pernas. A conferir.
Na campanha, o ex e atual recém-eleito presidente dos Estados Unidos, repetiu um bordão que agradou, e muito, uma parcela de seu eleitorado: “fura, baby, fura”, um anacronismo para incentivar o aumento da produção de petróleo, de xisto e gás natural. Isso deixou os ambientalistas de cabelos em pé, além do fato de que Trump é negacionista quanto ao aquecimento global. A COP30, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a ser realizada em Belém (PA), em novembro de 2025, poderá estar seriamente ameaçada em seus resultados, com a ausência ou a negação dos Estados Unidos. Assim como está ameaçada sua contribuição para o Fundo Amazônia, que tem por finalidade captar doações para investimentos não reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoção da conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal. Também apoia o desenvolvimento de sistemas de monitoramento e controle do desmatamento no restante do Brasil e em outros países tropicais.
Vamos encerrando por aqui, esse comentário, já extenso, mas ao qual caberiam ainda muitas outras desgraças resultantes desse fato político, que é a eleição do Tiririca financiado por Elon Musk, porque já me falta estômago para pensar em tudo o que o Trump pode trazer de ruim para o planeta, se ele mantiver suas promessas. Talvez, para mim, as únicas coisas boas da nova administração estadunidense sejam: primeiro, não vão faltar assuntos e motivos para xingar o Trump nos próximos quatro anos; e, segundo, quem sabe ele não consegue ferrar de vez seu país e os Estados Unidos deixem de ser o xerife do mundo?
(Está rindo de quê, seu babaca?)
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