abril 14, 2023

SÃO PAULO: UMA SOLUÇÃO PARA OS MILHARES DE MORADORES DE RUA?



O governador de São Paulo e o prefeito da capital estão elaborando um projeto que pretende levar para o campo milhares de moradores de rua, para se empregarem em propriedades de agricultura familiar. Dizem que são 187 mil fazendeiros com possibilidade de dar emprego a essas pessoas, com o compromisso, por parte do Estado, de adquirir parte da produção agrícola, coisa que é mais ou menos de lei, mas que não se cumpre.

O plano, em teoria, é bom. Mas, como disse Millôr Fernandes, “a nobreza de uma ideia não tem nada a ver com o canalha que a exprime”, minhas desconfianças começam com as verdadeiras intenções dos autores: o Zé Carioca e o Barbicha, respectivamente governador e prefeito.

Nenhum dos dois é confiável, em termos de ideologia, já que podem estar se escondendo num modelo higienista, simplesmente. Por isso, para que esse plano que, repito, pode ser interessante, não se tranforme em apenas jogar no mato uma população desesperada por emprego, por moradia, por uma vida digna, é necessário que fiquemos de olho em alguns pontos, dada a sua complexidade de aplicação:

1. que somente participe da remoção (que é, ao cabo, o que se pretende fazer) somente as pessoas que realmente queiram ir embora de São Paulo (a confiar nas pesquisas, dizem que até 30% das pessoas que aqui moram têm vontade de sair, de ir para outros lugares ou voltar para suas regiões de origem, e acredito que entre a população de rua esse número pode até ser bem maior);

2. que as pessoas que anuírem ao plano tenham, de início, algum tipo de preparação para o tipo de trabalho que vão realizar, seja em termos de treinamento para o trabalho no campo, seja em termos de comportamento e adaptação ao novo ambiente;

3. que tenham, pelo menos por um bom tempo (um ou dois anos) acompanhamento de sua situação no novo ambiente, para que não se transformem em mão de obra explorada ou até mesmo escravizada (com as novas tecnologias de comunicação, isso não é muito difícil de ser feito);
4. que famílias não sejam separadas e que haja condições para que todos tenham vida digna, com casa, condução (quando for o caso) e escola para as crianças (quando houver) e ocupação também para o cônjuge.

Essas são apenas algumas das preocupações que esse plano de remoção e transferência do povo de rua de São Paulo para o trabalho em estabelecimentos agrícolas no interior. Muitos outros detalhes devem ser devidamente levantados, estudados e discutidos por especialistas. Não se pode confiar totalmente nas intenções desses nossos governantes, porque seu histórico ideológico não nos permite bater palmas para planos mirabolantes - que podem dar certo - mas que precisam de uma execução humanitária e não simplesmente higienista.


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