janeiro 04, 2019

UM CAPITÃO DE BREVE CURSO







Vasco Moscoso de Aragão, personagem de Os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado é um capitão de longo curso de araque, com diploma de comandante arranjado por seus amigos, diante de seu sonho – nunca realizado – de singrar os sete mares e mais, diante das histórias mirabolantes que ele sempre contou aos amigos, sobre suas aventuras pelos oceanos do mundo. Um dia, em Salvador, o comandante de um grande navio de cabotagem morre de repente e Vasco é convocado para substituí-lo, num comando de fachada, apenas para cumprir a lei. Era a realização do sonho do capitão. A viagem transcorre tranquila até Belém, onde o navio deverá atracar. O imediato, para cumprir uma tradição e também por troça, pergunta ao capitão com quantas amarras deverá o navio ser atracado ao porto. Com todas, responde o orgulhoso e totalmente ignorante capitão de longo curso. E assim foi feito, para gáudio e chacotas de toda a zona portuária. Desgostoso e humilhado, refugia-se em algum obscuro hotel. Mas o destino lhe prega uma peça: uma tempestade devasta o porto e somente o navio atracado com todas as amarras pelo capitão se salva sem avarias. Torna-se herói. 

Lembrei-me dessa história, para fazer um breve paralelo com o capitão que ascendeu à presidência da república do Brasil, graças à mentira de uma facada e às mentiras de notícias espalhadas pelas redes sociais, as famigeradas fake news. Assim como o de Vasco Moscoso de Aragão, seu diploma de capitão de longo curso é falso como devem ser falsos os seios de sua mulher. Sua viagem como comandante seguirá até um determinado porto, onde, em algum momento, a fragilidade de seu comando será exposta, diante dos graves problemas do país e não apenas, como no caso do personagem de Jorge Amado, uma questão de amarras de atracação. Quando isso acontecer, o navio Brasil poderá estar adernando e a tripulação, perdida pela estupidez das ordens de seu comandante, estará correndo sério risco de ir a pique, no meio de uma tempestade sem precedentes. É claro que países não são navios e, portanto, geralmente não naufragam como um Titanic, mas o desastre é absolutamente semelhante, quando o comandante de longo curso, com suas mentiras e galhofas, mostrar-se como realmente é: um capitão de breve, brevíssimo curso, sem nada para oferecer senão suas mentiras e suas ameaças, devidamente cumpridas ao longo da viagem que, diante da iminência de desastre, esperamos seja breve. 

E o nosso real capitão de breve curso não terá, como Vasco Moscoso de Aragão, o beneplácito e a simpatia do romancista, para preparar-lhe um final apoteótico, em que sua mentira afinal serviu para alguma coisa. O navio Brasil não estará atracado com todas as suas amarras, já que a incompetência de nosso capitão não permitirá que a realidade imite a ficção.

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