O prêmio Nobel outorgado ao
cantor pop Bo Dylan despertou a discussão “sexo dos anjos” se letra de música é
literatura. Tentemos algumas explicações básicas.
Literatura, latu sensu, é tudo o
que se escreve, desde o bilhete se deixa na porta da geladeira até a Odisseia,
de Homero.
Literatura, strictu sensu, traz algumas
complexidades em sua conceituação e algumas discussões quanto aos seus limites
e abrangências.
Considera-se, no entanto, Literatura
tudo aquilo que se escreve com valor artístico e no terreno da ficção. Vê-se
que, nesse conceito, ficariam de fora, por exemplo, peças memorialísticas,
muitas delas de grande valor literário; discursos e missivas, também muitos de
indiscutível valor literário, aos quais – tanto a memórias quanto a discursos e
missivas – a maioria dos críticos lhes dão o devido incenso e inclusão como
obra literária.
Assim, conceituar Literatura, a
grande arte do gênio humano, não se constitui uma tarefa muito fácil. E muitos
ideólogos e estudiosos têm-se debruçado nessa difícil tarefa. É consenso, no
entanto, que se incluem entre os gêneros literários as cantigas medievais,
divididas em subgêneros como, cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de
maldizer. Todas eram letras de canções que os trovadores medievais divulgavam
pelas feiras e castelos e festas da época, acompanhadas de instrumentos
típicos.
Portanto, letra de música
pertence, sim, à Literatura. É Literatura. Se são boas ou ruins, se contêm ou
não poesia, é outra discussão, que adentra o terreno movediço da estética. Não
são exatamente “poemas”, são cantigas, que só existem e só ganham dimensão,
quando cantadas. Das cantigas medievais, infelizmente, não nos chegaram as
partituras, as músicas que as complementariam e as lançariam na dimensão
estética apropriada ao seu gênero ou subgênero.
Ao outorgar o prêmio ao cantor
estadunidense, os velhinhos da Academia do Nobel arrostaram apenas o perigo,
relativo, de se verem achincalhados pela escolha, não pelo fato de não ser ele
um literato, um escritor e, portanto, elegível ao prêmio.
E quanto a isso, afirmo que, numa
lista de cem escritores internacionais, acessíveis ou elegíveis ao Nobel, com
certeza Bob Dylan não estaria entre eles.
Os velhinhos da Academia Sueca
gostam de surpreender ou já estão mesmo um tanto provectos, para não dizer
gagás.
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