novembro 13, 2016

DYLAN, PRÊMIO NOBEL







O prêmio Nobel outorgado ao cantor pop Bo Dylan despertou a discussão “sexo dos anjos” se letra de música é literatura. Tentemos algumas explicações básicas.

Literatura, latu sensu, é tudo o que se escreve, desde o bilhete se deixa na porta da geladeira até a Odisseia, de Homero.

Literatura, strictu sensu, traz algumas complexidades em sua conceituação e algumas discussões quanto aos seus limites e abrangências.

Considera-se, no entanto, Literatura tudo aquilo que se escreve com valor artístico e no terreno da ficção. Vê-se que, nesse conceito, ficariam de fora, por exemplo, peças memorialísticas, muitas delas de grande valor literário; discursos e missivas, também muitos de indiscutível valor literário, aos quais – tanto a memórias quanto a discursos e missivas – a maioria dos críticos lhes dão o devido incenso e inclusão como obra literária.

Assim, conceituar Literatura, a grande arte do gênio humano, não se constitui uma tarefa muito fácil. E muitos ideólogos e estudiosos têm-se debruçado nessa difícil tarefa. É consenso, no entanto, que se incluem entre os gêneros literários as cantigas medievais, divididas em subgêneros como, cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer. Todas eram letras de canções que os trovadores medievais divulgavam pelas feiras e castelos e festas da época, acompanhadas de instrumentos típicos.

Portanto, letra de música pertence, sim, à Literatura. É Literatura. Se são boas ou ruins, se contêm ou não poesia, é outra discussão, que adentra o terreno movediço da estética. Não são exatamente “poemas”, são cantigas, que só existem e só ganham dimensão, quando cantadas. Das cantigas medievais, infelizmente, não nos chegaram as partituras, as músicas que as complementariam e as lançariam na dimensão estética apropriada ao seu gênero ou subgênero.

Ao outorgar o prêmio ao cantor estadunidense, os velhinhos da Academia do Nobel arrostaram apenas o perigo, relativo, de se verem achincalhados pela escolha, não pelo fato de não ser ele um literato, um escritor e, portanto, elegível ao prêmio.

E quanto a isso, afirmo que, numa lista de cem escritores internacionais, acessíveis ou elegíveis ao Nobel, com certeza Bob Dylan não estaria entre eles.


Os velhinhos da Academia Sueca gostam de surpreender ou já estão mesmo um tanto provectos, para não dizer gagás.

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