Não, não há racismo no Brasil.
Enquanto os negros estão na
senzala, escravizados e massacrados pelo açoite, não há racismo no Brasil.
Enquanto os negros, mesmo
libertos, constituem a população invisível dos guetos, das favelas, dos
quilombos, das comunidades perdidas e anônimas do interior, não há racismo no
Brasil.
Enquanto os negros, ainda que à custa
de muita luta e muito trabalho, ocupam os cargos invisíveis da sociedade
branca, como porteiros, seguranças, garis, domésticos etc., não há racismo no
Brasil.
Enquanto os negros, depois de
anos e anos de semiescravidão à elite branca, começam a obter, por
meritocracia, alguns cargos de destaque na sociedade, como negros de alma
branca, não há racismo no Brasil.
Mas...
Agora os negros não querem apenas
as migalhas que caem das mesas da elite. Reivindicam cotas, para seus filhos e
netos. Querem participação. Querem igualdade. E mais, o absurdo dos absurdos,
querem ser reconhecidos como construtores da sociedade para a qual vieram sem
ser convidados, mas à qual querem ser integrados não como população invisível,
ou como negros de alma branca, mas como seres humanos que têm uma história, uma
cultura, um conhecimento que desejam compartilhar.
Não mais os restos, não mais a
obscuridade, não mais a subserviência: igualdade. E mais do que igualdade:
respeito.
E então eles, os negros, aparecem
nas escolas, nas faculdades, nos restaurantes, nas praças. Competem em
igualdade de condições nos melhores empregos. Não porque foram beneficiados por
cotas, mas porque tiveram a oportunidade que, desde 1888, não se lhes deram: a oportunidade
de mostrar que são gente, que podem e devem ser cidadãos como todos os outros,
e não cidadãos de segunda ou terceira classe.
As cotas apenas abrem portas, não
fazem milagres. O milagre é a ascensão econômica de uma imensa quantidade de
cidadãos desprezados porque a cor de sua pele é diferente, como se cor de pele
fosse o estigma da pobreza e do desprezo.
E então, como os negros se
tornam, pouco a pouco visíveis, o racismo de dezenas e dezenas de anos aflora à
mente dos escravocratas de plantão, dos imbecis que acham que a cor da sua pele
os torna superiores, dos fascistas que desejam um mundo de castas que se
mantenham escravizadas para seu benefício, dos falsos democratas e defensores
de doutrinas absurdas, baseadas apenas no seu próprio interesse. No seu
interesse econômico, disfarçado de posição ideológica, ou a ideologia racista
justificando seus mais baixos instintos.
Não, não há racismo no Brasil...
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