janeiro 02, 2016

NÃO HÁ RACISMO NO BRASIL





Não, não há racismo no Brasil.

Enquanto os negros estão na senzala, escravizados e massacrados pelo açoite, não há racismo no Brasil.

Enquanto os negros, mesmo libertos, constituem a população invisível dos guetos, das favelas, dos quilombos, das comunidades perdidas e anônimas do interior, não há racismo no Brasil.

Enquanto os negros, ainda que à custa de muita luta e muito trabalho, ocupam os cargos invisíveis da sociedade branca, como porteiros, seguranças, garis, domésticos etc., não há racismo no Brasil.

Enquanto os negros, depois de anos e anos de semiescravidão à elite branca, começam a obter, por meritocracia, alguns cargos de destaque na sociedade, como negros de alma branca, não há racismo no Brasil.

Mas...

Agora os negros não querem apenas as migalhas que caem das mesas da elite. Reivindicam cotas, para seus filhos e netos. Querem participação. Querem igualdade. E mais, o absurdo dos absurdos, querem ser reconhecidos como construtores da sociedade para a qual vieram sem ser convidados, mas à qual querem ser integrados não como população invisível, ou como negros de alma branca, mas como seres humanos que têm uma história, uma cultura, um conhecimento que desejam compartilhar.

Não mais os restos, não mais a obscuridade, não mais a subserviência: igualdade. E mais do que igualdade: respeito.

E então eles, os negros, aparecem nas escolas, nas faculdades, nos restaurantes, nas praças. Competem em igualdade de condições nos melhores empregos. Não porque foram beneficiados por cotas, mas porque tiveram a oportunidade que, desde 1888, não se lhes deram: a oportunidade de mostrar que são gente, que podem e devem ser cidadãos como todos os outros, e não cidadãos de segunda ou terceira classe.

As cotas apenas abrem portas, não fazem milagres. O milagre é a ascensão econômica de uma imensa quantidade de cidadãos desprezados porque a cor de sua pele é diferente, como se cor de pele fosse o estigma da pobreza e do desprezo.

E então, como os negros se tornam, pouco a pouco visíveis, o racismo de dezenas e dezenas de anos aflora à mente dos escravocratas de plantão, dos imbecis que acham que a cor da sua pele os torna superiores, dos fascistas que desejam um mundo de castas que se mantenham escravizadas para seu benefício, dos falsos democratas e defensores de doutrinas absurdas, baseadas apenas no seu próprio interesse. No seu interesse econômico, disfarçado de posição ideológica, ou a ideologia racista justificando seus mais baixos instintos.


Não, não há racismo no Brasil... 



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