Ao que parece, grandes órgãos da
mídia - Globo e Veja - e empresas - Bradesco -, além de associações
empresariais - FIERJ e FIESP - desistiram de patrocinar o pedido de impeachment
da presidenta Dilma. Ou seja, estão a defender moderação e negociação,
condenando o golpismo de setores do Congresso e da mídia.
Por que será que eles mudaram de
opinião?
Bem, não é exatamente uma mudança
de opinião. Creio que, se você leu o texto anterior, sobre Jânio e Collor,
ficará mais fácil de entender esse imbroglio todo. Pelo menos, para mim, tudo
fica muito claro com a perspectiva nada promissora para as forças da direita
(estou me referindo à direita empresarial, endinheirada, que sabe o que quer)
de que novas eleições (se o impeachment fosse aprovado ainda na primeira metade
do mandato) poderiam levar o povo a escolher entre Aécio e Cunha.
A minha tese é de que a direita,
nesses últimos setenta anos, só conseguiu eleger dois presidentes: Jânio e
Collor. Os militares não foram eleitos e fizeram o jogo que eles queriam. Na
fase pós-golpe, os presidentes não foram uma escolha da direita, exceto a
aposta furada em Collor, que deu no que deu, embora tenham governado defendendo
os seus interesses. Mesmo os governos petistas, com sua pauta mais avançada em
termos sociais e de redistribuição de renda, não ofereceram perigo iminente aos
empresários e a seus negócios, porque ficaram presos a uma agenda de
conciliação e de resgate da miséria de uma boa parcela da sociedade, sabendo
que só poderiam fazer isso, se não cometessem delírios econômicos. Portanto,
apoiar gente como Aécio e Cunha pode ser um novo tiro no pé. Vejamos.
Aécio Neves. Não herdou do avô,
Tancredo Neves, a capacidade política de articular, de se entender com os
contrários e driblar as dificuldades. Tem-se mostrado intolerante, sem jogo de
cintura, e até mesmo "um menino chorão" diante da derrota. Esconde um
gênio irascível ou temerário, capaz de fazer um governo tipo Jânio ou Collor,
de trágicas consequências para a direita, que deseja um presidente que
estabilize o País, acomode as forças políticas e conduza uma política econômica
ortodoxa, sem grandes surpresas. Se tivesse mantido a serenidade depois da
derrota, buscando conduzir seu partido para águas menos revoltas do que o rancor
pessoal, mais estilo Alckmin que, se não é um líder carismático, mas pelo menos
tem demonstrado sensatez política e por isso tem sido o queridinho da elite
paulista, poderia até obter um certo voto de confiança dos empresários. Mas,
suas declarações e atitudes revelam um homem não confiável, e principalmente
não muito inteligente quanto à condução da política, num momento de transição e
de necessidade de serenidade e conciliação. Perdeu, pois, totalmente a
confiança dos setores produtivos. E perdeu porque, se poderia até ser um mal
menor, diante do outro possível candidato, tem demonstrado não ter fôlego para
vencer uma disputa eleitoral com uma raposa como Eduardo Cunha.
Eduardo Cunha. Se Aécio não
inspira confiança, Cunha inspira terror. É uma reencarnação de Jânio Quadros,
com fortes tintas "colloridas", se me permitem o trocadilho. Como
candidato, no atual momento, apoiado por forças retrógradas do fundamentalismo
evangélico, poderia incendiar o eleitorado. E pleitear um lugar no panteão dos
piores estilos messiânicos de salvador da pátria. Empoderado pelo fanatismo, se
eleito poderá ser um vendaval, uma força incontrolável, capaz dos maiores
desatinos, sejam políticos ou econômicos. Tem todas as características que o
levariam a assumir um nacionalismo de direita que, absolutamente, não se
coaduna com os interesses econômicos e liberais da classe empresarial, que não
espera e não deseja nenhum tipo de governo destrambelhado e passível de aventuras
que levem a um desastre semelhante aos governos de Jãnio ou Collor.
Esse o futuro possivelmente
vislumbrado pelas classes empresariais, diante de um possível e agora
improvável impeachment da presidenta. Se está ruim com a Dilma, devem pensar
eles, pior será sem ela. Pelo menos, eles sabem e conhecem o tipo de política
econômica que está sendo implementado, e até concordam com os princípios dessa
economia. É preferível, portanto, esquecer as desavenças políticas e apoiar um
plano sério e confiável que possa tirar o País do atoleiro que eles mesmos o
colocaram. E se foram eles os maiores culpados pela atual situação, não vão
querer agravar o quadro com aventuras políticas que não possam controlar depois
e passar pelos mesmos vexames por que já passaram anteriormente. Assim,
salvam-se as cabeças e as fortunas, salva-se a presidenta Dilma e aguarda-se
que as eleições de 2018 possam lhes trazer ventos mais favoráveis. E se não
trouxerem, afinal Lula já provou não ser nenhum louco, muito ao contrário: é
mais confiável do que certos líderes da própria direita.
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