junho 20, 2015

MASSACRE EM CHARLESTON






Uma moradora entrevistada fala que o "suspeito" deve ter "problemas psicológicos".

E a reportagem apresenta um jovem branco, que ganhou uma arma do pai aos 21 anos, que usa roupas com bandeiras africanas - do tempo do apartheid! - e que odeia negros. Por isso, entrou numa igreja tradicional da cidade Charleston, nos Estados Unidos, e matou nove pessoas, todas negras.

Não, não é "problema de psicologia", é "problema de ideologia"!

Alguém que tenha distúrbios mentais - mesmo o "serial killer" - quando lhe vem a compulsão por matar, só o faz para atender a essa compulsão, individualizando o assassínio e só voltando a matar depois de algum tempo, como se esse ato lhe desse a satisfação de um remédio que se toma e espera o seu efeito passar para tomar outra dose.

Já o indivíduo que tem a compulsão da ideologia - seja ela de origem religiosa, política, social ou étnica - é frio e calculista no planejamento e compulsivo na "coragem" da realização do ato de extermínio de vítimas, o maior número possível, como um ato "heroico" cujos resultados podem ser sua própria morte ou condenação. Mas é sempre a heroicidade do ato que o move, alimentada pela ideologia.

Fico pensando, então, em certas atitudes de pessoas aqui mesmo no Brasil, tentando impor ideologias e plantando na mente de pessoas frágeis em termos de formação e de humanidade conceitos como o ódio a tudo que é diferente daquilo que ele professa, seja um culto africano, um "desvio da norma sexual", uma posição política liberal etc.

Plantar ideologias de fácil assimilação, como aconteceu com o nazifascismo hitlerista, significa colher, depois, tempestades incontroláveis de ódio e de tentativa de destruição do outro, apenas por ser o outro diferente.Alimentado o ódio pela ideologia.

Quando Cortez aportou com suas caravelas nas costas do México, ele e seus homens estavam imbuídos até a raiz do cabelo de uma profunda fé cristã. O encontro com o diferente - os astecas - fundiu sua cabeça e terminou em massacre. Como sempre, do mais fraco pelo mais forte. E a história está cheia desses exemplos. O encontro com o diferente - que é sempre o monstro extraterrestre de Hollywood (à exceção do famoso "ET" do Spielberg) provoca sempre o medo da abdução, a princípio; logo depois, o horror; em seguida, o ódio e a a vontade do extermínio. E a ideologia, seja ela cristã ou laica, cumpre o seu triste papel.

O garoto loiro dos Estados Unidos participou de um encontro de leitura da bíblia com os negros frequentadores da igreja, foi "conhecer o inimigo", para ter certeza de seu medo de abdução, para ter certeza de seu horror ao inimigo, para ter certeza de seu ódio. E depois partiu para extermínio. É o que recomendava a sua ideologia.


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