Uma moradora entrevistada fala
que o "suspeito" deve ter "problemas psicológicos".
E a reportagem apresenta um jovem
branco, que ganhou uma arma do pai aos 21 anos, que usa roupas com bandeiras
africanas - do tempo do apartheid! - e que odeia negros. Por isso, entrou numa
igreja tradicional da cidade Charleston, nos Estados Unidos, e matou nove
pessoas, todas negras.
Não, não é "problema de
psicologia", é "problema de ideologia"!
Alguém que tenha distúrbios
mentais - mesmo o "serial killer" - quando lhe vem a compulsão por
matar, só o faz para atender a essa compulsão, individualizando o assassínio e
só voltando a matar depois de algum tempo, como se esse ato lhe desse a
satisfação de um remédio que se toma e espera o seu efeito passar para tomar
outra dose.
Já o indivíduo que tem a
compulsão da ideologia - seja ela de origem religiosa, política, social ou
étnica - é frio e calculista no planejamento e compulsivo na
"coragem" da realização do ato de extermínio de vítimas, o maior
número possível, como um ato "heroico" cujos resultados podem ser sua
própria morte ou condenação. Mas é sempre a heroicidade do ato que o move,
alimentada pela ideologia.
Fico pensando, então, em certas
atitudes de pessoas aqui mesmo no Brasil, tentando impor ideologias e plantando
na mente de pessoas frágeis em termos de formação e de humanidade conceitos
como o ódio a tudo que é diferente daquilo que ele professa, seja um culto
africano, um "desvio da norma sexual", uma posição política liberal
etc.
Plantar ideologias de fácil
assimilação, como aconteceu com o nazifascismo hitlerista, significa colher,
depois, tempestades incontroláveis de ódio e de tentativa de destruição do
outro, apenas por ser o outro diferente.Alimentado o ódio pela ideologia.
Quando Cortez aportou com suas
caravelas nas costas do México, ele e seus homens estavam imbuídos até a raiz
do cabelo de uma profunda fé cristã. O encontro com o diferente - os astecas -
fundiu sua cabeça e terminou em massacre. Como sempre, do mais fraco pelo mais
forte. E a história está cheia desses exemplos. O encontro com o diferente -
que é sempre o monstro extraterrestre de Hollywood (à exceção do famoso
"ET" do Spielberg) provoca sempre o medo da abdução, a princípio;
logo depois, o horror; em seguida, o ódio e a a vontade do extermínio. E a
ideologia, seja ela cristã ou laica, cumpre o seu triste papel.
O garoto loiro dos Estados Unidos
participou de um encontro de leitura da bíblia com os negros frequentadores da
igreja, foi "conhecer o inimigo", para ter certeza de seu medo de
abdução, para ter certeza de seu horror ao inimigo, para ter certeza de seu
ódio. E depois partiu para extermínio. É o que recomendava a sua ideologia.
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