janeiro 01, 2013

POR QUE A IMPRENSA BRASILEIRA É GOLPISTA?








Li, há dias, um artigo de famoso intelectual ligado à musica (não vou citar o nome) criticando os que chamam nossa imprensa de golpista, com o argumento mais do que manjado da liberdade e da lisura de nossos grandes jornais.

Mas, não é bem assim. Não há liberdade na imprensa, nem nossos jornalistas são isentos ou têm algum apego à ética. 

O que prevalece é a opinião dos patrões. E a grande imprensa nacional está nas mãos de não mais de seis grandes famílias, cujos interesses predominam, porque são famílias ligadas à velha política das elites que sempre estiveram à frente do atraso nacional, em termos sociais. São a gente que deseja manter o poder a qualquer custo.

Por isso, mentem. Por isso, tentam de todas as formas induzir o povo a seguir sua cartilha retrógrada, representada no passado por partidos como a UDN e, hoje, pelo PSDB e DEM. 

Uma imprensa isenta não devia opinar, a não ser, talvez, em editoriais internos (e, assim mesmo, isso é extremamente discutível); uma imprensa isenta não devia adotar partidos políticos; uma imprensa isenta não devia tentar interferir na vontade do povo... Paremos por aí, é inútil. Porque tudo o que devia ser uma imprensa isenta é o contrário do que se pratica aqui (e provavelmente na maioria dos países do mundo). Ou seja, não existe imprensa isenta. Mas, golpista... isso nós somos os campeões.

Vejam o exemplo do golpismo crônico na manchete de O GLOBO de 1964, após o golpe que depôs o Presidente João Goulart: a democracia está sendo restabelecida.

Como assim, cara pálida?

João Goulart era o presidente constitucional do Brasil. Porque ocupou a vaga deixada com a renúncia do Sr. Jânio Quadros, este sim, um golpista profissional, apoiado pela grande imprensa e que tentou, com a renúncia, "voltar nos braços do povo" para fechar o Congresso, que era hostil ao seu desgoverno, mas não deu certo. João 

Goulart foi eleito vice-presidente. Isso mesmo, eleito! Porque, naquela época, o povo votava para vice-presidente!

João Goulart tentava negociar com as forças mais esclarecidas e com o povo um projeto de País, com as chamadas reformas de base, o que irritava profundamente as chamadas elites, principalmente as elites retrógradas, comandadas pela UDN, pela grande imprensa e pela Igreja Católica Apostólica Romana. 

Não havia nenhuma possibilidade de o Presidente atentar contra a democracia, já que não contava com o apoio das Forças Armadas. Aliás, as Forças Armadas é que se agitavam nos quartéis contra ele, insufladas pelos editoriais da grande imprensa.

Havia liberdade total. Tanto é que se realizavam em todo o País manifestações livres tanto a favor quanto contra o governo. Era uma época de grandes debates, de discussões calorosas, porque o País trilhava um novo ciclo de desenvolvimento iniciado sob o mais democrático de todos os presidentes, Juscelino Kubistchek. 

Se havia algum risco à democracia, este vinha justamente dos gorilas que se agitavam nos quartéis sob qualquer pretexto ou sob pretexto nenhum, apoiados claramente pela grande imprensa, subsidiados pelo capital proveniente dos grandes latifúndios e das grandes indústrias que nasceram, por ironia, justamente por causa de um governo democrático como o de Juscelino, e apoiados  pelo anticomunismo clerical e por governos estrangeiros - leia-se: pelos Estados Unidos - envolvidos numa guerra fria estúpida de ojeriza a tudo o que fosse democrático ou que tivesse indício de socialismo ou comunismo. 

Não havia democracia a ser restabelecida!

No entanto, o golpe - este sim, um dos maiores atentados à democracia que já se realizou em nosso País - teve o apoio irrestrito da grande imprensa. E mais: foi anunciado e vendido como "restabelecimento da democracia", o que a História logo depois comprovou que era justamente o contrário! 

E eles, os magnatas da nossa grande imprensa, sabiam o que estavam apoiando, pois ajudaram na conspiração para derrubar o Presidente Constitucional e colocar no lugar um gorila da mais pura tradição golpista da América do Sul, continente mais do reconhecido pela truculência e pela visão retrógrada de seus militares.

O que veio em seguida todo mundo sabe: fechamento do Congresso, leis impostas por militares para calar a voz de quem se lhes opusesse, perseguição, prisão, tortura e morte de opositores, e todas as mazelas da falta de democracia, sempre tudo isso apoiado pela nossa grande imprensa.

E foi assim sempre: a nossa grande imprensa, comandada com mão de ferro, por meia dúzia de famílias, esteve sempre do lado dos mais poderosos, como poderosos são os seus interesses a defender, contra o povo, contra a melhoria de condições de vida de nossa sociedade, mentindo sempre, para manter o status quo, tentando sempre influenciar a vontade do povo (nem vou me referir à sua criação mais odiosa, o senhor Fernando Collor de Mello). 

Por isso, mesmo nas manchetes mais inocentes de nossos jornalões, há sempre o bafo podre das bocas cheias de dentes dos poderosos que comandam com mão de ferro a consciência de seus empregados, que são sim, livres, para escreverem e publicarem tudo o que quiserem, desde que não contrariem a opinião dos seus patrões, com suas bocarras abertas sempre prontas para morder quem se coloca em seu caminho e para abocanhar, através de seus partidos agregados, uma fatia cada vez maior de poder. 

Onde está a isenção de nossa imprensa, de nossa mídia? Onde está a liberdade de imprensa, tão decantada e defendida, quando se trata de seus interesses, mas que deixa de ser liberdade quando se propõem leis que realmente democratizem os sistemas de informação de nosso povo, com o acesso de outras correntes, de outras facções da sociedade que não apenas a elite a esses meios?

Por isso, são sim, uma imprensa antidemocrática, antipovo, antidesenvolvmento com distribuição de renda e oportunidade para todos.

Por isso, são sim, uma imprensa golpista e merecem que os chamemos de PIG - Partido da Imprensa Golpista.

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