(Artemísia Gentileschi)
Existem limites razoáveis para tudo.
Até para a fé e a religiosidade.
Não posso levar a sério nenhuma
religião. São todas, absolutamente todas, sanguinárias, excludentes e
perversas.
Nem precisamos citar os crimes em
nome da fé registrados no passado do cristianismo. As guerras santas. As
cruzadas que tinham por objetivo matar e saquear populações árabes e
muçulmanas, apenas porque eram árabes e muçulmanas.
Nem precisamos citar os horrores da fatwa
islâmica, que condena à morte qualquer pessoa que contrarie seus princípios,
emitindo opiniões que possam ofender um homem que viveu e morreu há centenas de
anos e que, até hoje, comanda as mentes criminosas de seus seguidores.
Não, não precisamos citar todas as
carnificinas promovidas pelos seguidores de deuses ou apenas de um dos deuses
que o homem criou à sua imagem e, por isso, pregam a destruição do outro ou sua
maldição para o quinto dos infernos de todos aqueles que não professam a mesma
fé, através de seus chamados profetas ou padres ou aiatolás ou que nome se dê
àqueles que são donos das mentes apodrecidas dos fanáticos de todas as crenças.
Deus é carnificina. Deus é morte.
Deus é anti-humano, anti-humanidade.
Mas, também é perdão. Deus a tudo
perdoa. Desde que o indivíduo se arrependa de seus crimes, por mais hediondos
que sejam. Com certeza, deve estar perdoando, nesse momento mesmo, a Hitler e a
todos os carniceiros da história da humanidade, a exemplo do perdão dado a um
indivíduo chamado Florisvaldo de Oliveira.
Você talvez não o conheça por esse
nome, mas se eu disser Cabo Bruno muita gente há de se lembrar.
E quem é o Cabo Bruno?
Cabo Bruno foi preso em 1983,
acusado de ser um dos maiores matadores de jovens da periferia da zona sul de
São Paulo. Em entrevista a jornais da época, dizia, orgulhoso, ter matado mais
de 50 pessoas.
Não é portanto, um criminoso comum.
Quem se orgulha de matar friamente mais de 50 pessoas, em qualquer lugar do
mundo, seria considerado um indivíduo a ser afastado do convívio social para
sempre. Não no Brasil: com suas leis criminais absurdas, um supercriminoso como
esse pode ser posto em liberdade depois de menos de 30 anos de prisão.
Absurda é a lei, mas é a lei.
Chega, no entanto, às raias da
insanidade, o que acontece em seguida com esse famigerado assassino, pois não
existe ex-assassino, a não ser que revoguemos qualquer possibilidade de lógica.
"Convertido" à fé, ou
seja, "arrependido" de seus crimes, o tal Florisvaldo ou Cabo Bruno, ao ser posto em liberdade, não apenas é acolhido pela
comunidade de crentes da Igreja Refúgio em Cristo, de Taubaté, interior de São
Paulo, como empossado como pastor dessa mesma igreja, em cerimônia pública e de
"grande emoção" para todos os seus seguidores que, a partir de agora,
passarão a ser ungidos pela mesma mão que ceifou a vida de mais de cinquenta
jovens da periferia de São Paulo, numa das mais impressionantes sequências de
barbárie já vistas até hoje nessa cidade.
O Cabo Bruno, o criminoso que
julgava e matava suas vítimas, sem processo, sem possibilidade de defesa,
fossem ou não culpadas, hoje é um homem "santo", porque o deus
sanguinário dos cristãos de todos os tempos sempre perdoa àqueles que se
arrependem, não importa o grau dos seus crimes, porque, está escrito que mais
vale o filho que retorna ao seio do pai do que todos os outros que nunca
pecaram. Ou mais ou menos isso.
E é longa a tradição cristã do
perdão dos assassinos, dos criminosos, numa longa lista de "santos" e
"santas". Não vale a pena citá-los. O que importa é que, por mais que
berrem os seguidores desse deus "bondoso" e benevolente, isso é
absolutamente contra todos os princípios humanos de justiça.
Mas, quem disse que os crentes - e uso a palavra para designar todos os deístas do mundo - estão preocupados com
o humano? Quem disse que eles estão preocupados com a justiça dos homens? A
eles só importa a justiça divina, aquela que nivela a todos os que se arrependem; somente importa o que vai acontecer com eles depois da morte, ou seja,
serão todos acolhidos no céu ou paraíso ou seja o lugar para onde vão depois do
tal julgamento final, para conviverem todos em harmonia eterna com esse deus
tantas vezes vingador e tantas vezes misericordioso.
Ah, sim: a misericórdia desse deus
só vale para os que aceitam sua vontade, claro! Para os demais, a porta do
inferno é a serventia da fé.
(Nota: dois dias depois de publicado esse artigo, dia 26.9.2012, o Cabo Bruno foi sumariamente executado em frente à sua casa, em Pindamonhangaba, ao retornar à noite, de um culto na cidade de Aparecida do Norte).
(Nota: dois dias depois de publicado esse artigo, dia 26.9.2012, o Cabo Bruno foi sumariamente executado em frente à sua casa, em Pindamonhangaba, ao retornar à noite, de um culto na cidade de Aparecida do Norte).
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