dezembro 16, 2010

NÃO, NÃO ME BELISQUEM: QUERO CONTINUAR SONHANDO!






Há oito anos, quando Lula foi eleito presidente, numa campanha histórica – ainda hoje me emociono – fui para a Avenida Paulista para participar da festa. Um misto de alegria imensa e temor, muito temor, batia forte em minha mente.

E se Lula não der certo?

É claro que o prazer de ver e ouvir, naquele palanque improvisado, o operário Lula discursar e levar ao delírio milhares de brasileiros, fazia com que a esperança realmente derrotasse todos os meus temores.

Fora uma campanha difícil, com toda a mídia – como sempre – ao lado dos opositores. E agora, como um cachorro que late para os automóveis e, quando eles param, não sabe o que fazer, eu me sentia desnorteado com a vitória.

E os tempos não foram fáceis. Porque, primeiro, o PT não é um partido fácil, dividido em várias correntes, com muita gente despreparada para o exercício do poder. E realmente, muitos “companheiros” deram trabalho, por estupidez, por radicalismo ou mesmo por improbidade. Segundo, não tinha o presidente maioria no Congresso. E as alianças com quem estava disponível nem sempre funcionaram ou o fizeram precariamente. Havia (como ainda há) muito fisiologismo e pouco espírito público. Terceiro, a imprensa nunca deu folga. Numa união ainda hoje espúria com a oposição, fez campanha sistemática contra o governo Lula, de forma declarada, muitas vezes, e outras tantas de forma sutil e subliminar, o que é a maneira mais cruel e deselegante de se fazer oposição.

E havia ainda o fator maior: a famosa “herança maldita” do governo anterior, que deixara um País em situação de quase inadimplência frente aos organismos internacionais, principalmente o FMI que, aqui, mandava e desmandava; uma política de total dependência dos Estados Unidos; um povo sem ânimo, um verdadeiro “complexo de vira-latas” a corroer as entranhas da Nação; um mercado interno em frangalhos, embora a inflação estivesse controlada; índices avassaladores de desemprego e de miséria. Enfim, um País sem rumo.

E Lula não apenas resistiu a todas as intempéries, mas ainda realizou sua obra com denodo. Inexperiente em termos administrativos, teve que lutar contra uma máquina pública emperrada e preguiçosa, para tocar seus projetos. Cometeu erros, sem dúvida, mas consegui superá-los.

E houve o episódio que ficou conhecido como “mensalão”. Naquele momento, todos os meus temores retornaram. Meses e meses de uma campanha sistemática e desalentadora da mídia. Sem tréguas. O lema era: atirar primeiro, perguntar depois. Ou seja, qualquer boato, qualquer detalhe escabroso, qualquer denúncia sem comprovação viravam manchetes e tornavam-se fatos verdadeiros e comprovados. Ministros caíram, o governo realmente balançou e eu pensei: o golpe está em curso, nada conseguirá impedir que, mais cedo ou mais tarde, consigam defenestrar do Governo o operário que eles – a mídia, as elites, as oposições e todos os que estão tendo interesses contrariados – não suportam ver no comando da Nação.

Mas Lula resistiu. E não só resistiu: venceu e convenceu.

Ganhou um segundo mandato, em mais uma campanha dura, contra a mídia, que preferia ver na Presidência um político sem carisma, sem realizações, como Geraldo Alckmin, cujo apelido (maldoso, claro) já indica sua condição de ser o queridinho apenas de uma pequena, mas forte em termos midiáticos, elite paulistana, mas o “picolé de chuchu” não resistiu ao segundo turno.

Com o homem forte do governo, José Dirceu, fora de combate, abatido na “guerra do mensalão”, a oposição e a grande mídia arrefeceram um pouco – só um pouco – o seu ímpeto golpista. Afinal, o próximo presidente já estava eleito: José Serra. Não conseguiria Lula transferir facilmente sua popularidade crescente, em virtude de um governo que teimava em acertar e colocar o Brasil rumo ao primeiro mundo, para algum outro político com condições de competir.

Mas Lula revelou sua outra face: a de estrategista político. Sacou do Ministério de Minas e Energia uma técnica competente e colocou-a na linha de frente do governo, na Casa Civil, dando-lhe pouco a pouco a visibilidade necessária a seus planos. E assim surgiu Dilma Rousseff.

A oposição subiu no salto alto, com José Serra. Por isso, a campanha da eleição de Dilma foi dura, com muitos golpes baixos, com toda – absolutamente toda – a grande mídia fazendo campanha para a oposição. Ao cúmulo de um grande e tradicional jornal – O Estado de São Paulo – publicar editorial inédito declarando apoio a Serra, terminando por dizer que Dilma era “o mal a ser evitado”!

Lula termina seus oito anos de governo com aprovação de 80% da população. Seu índice de popularidade bate nos 87%, um recorde histórico e difícil de ser alcançado. O sonho que, oito anos atrás, balançava entre esperança e temores, inacreditavelmente chega a 2010 mais renovado do que nunca. Lula fez a travessia de seu governo como o maior de todos os presidentes que já houve.

Sua presença, seu nome, seu carisma e sua competência deixaram para trás o jeito bonachão e, às vezes, meio grosso de elaborar metáforas futebolísticas para melhor expressar seu pensamento. O operário tornou-se figura internacional, respeitado em todo o mundo, por todos os demais governantes.

Lula, orgulho do Brasil. Hoje, oito anos depois.

Não. Não me belisquem: quero continuar sonhando. Com um País melhor, com um País mais justo e menos “vira-lata”, que a administração do presidente-operário soube, de forma exemplar, começar a construir.

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