fevereiro 02, 2010

A ARCA DE NOÉ



Serra-Kassab não têm, claro, culpa do dilúvio que o ano de 2010 trouxe para São Paulo. Hoje, dois de fevereiro, já se contam quase 40 dias que chove todos os dias. E chuvas fortes, ainda que, às vezes, localizadas em pontos específicos da capital.

Mas Serra-Kassab estão enclausurados em paradigmas antigos de governança. Não compreendem que a cidade – e o Estado, o País – precisam de novas formas de governo, de um novo tipo de mentalidade. Que não se resume apenas a obras, mas à visão do ser humano como um todo, em harmonia com a natureza.

Até agora, todos os governantes dessa cidade só a pensaram em termos de obras. Obras que enriquecem empreiteiras e o bolso de políticos envolvidos em sua consecução, através de superfaturamentos e outras maracutaias.

Eu falo da dupla Serra-Kassab porque o primeiro foi o prefeito que abandonou a cidade para se tornar governador e inventou o segundo para nos governar. E o povo – iludido mais uma vez por promessas absurdas – consagrou o etéreo Gilberto por fazer de um projeto de custo quase zero para a Prefeitura – o Cidade Limpa – a vitrina de sua administração. Eliminaram-se todos os outdoors da cidade, diminuiu-se a níveis civilizados o número de propagandas nas ruas... mas, e o resto da cidade? E a limpeza urbana? E a saúde pública? E o planejamento?

E a dupla Serra-Kassab vai mais longe: o primeiro, como governador, lança-se numa obra de mais de um bilhão para ampliar as pistas da Marginal do Rio Tietê, uma obra que lança mais asfalto na já impermeabilizada margem do rio que gastou, há pouco, mais de outro bilhão para ter sua calha aumentada (obra de outro tucano ilustre – o picolé de chuchu, Alkimin) e, no entanto, continua a transbordar. E o segundo, como Prefeito, só pensa em fazer piscinões, mas não os mantém limpos e eles até passam a contribuir para mais enchentes.

Enfim, os paulistanos vão-se acostumando com o caos nosso de todos os dias, de todas as tardes, enquanto a dupla Serra-Kassab articula a candidatura do primeiro à presidência, já que ele só pensa nisso, sonhando em berço esplêndido, lá no alto do Morumbi, na arca de Noé em que se transformou o Palácio dos Bandeirantes que eu, em outra crônica, ao constatar que nenhum de seus ocupantes já chegou à presidência, denominei de túmulo de presidenciáveis.
(Ilustração: Palácio dos Bandeirantes, foto da internet, sem crédito)

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