fevereiro 04, 2009

UM CLÁSSICO DO CINEMA DE HORROR: A VOLTA DOS MORTOS VIVOS, DE DAN O'BANNON

O filme é de 1985. Recria, com sexo, drogas e rock’n’roll, um clássico de George Romero, Noite dos Mortos Vivos, de 1968. Um tema recorrente, portanto. E assustador: cadáveres que voltam à vida e se alimentam de cérebros humanos!

Brasil, 2009. Os mortos vivos fazem sua reentrée triunfal. E o pior: não é filme. Também não é o pesadelo que nos assusta em noites de tempestades e inundações. É realidade. Realidade vinda dos corredores e salões amplos do Congresso Nacional.

As duas cúpulas dos prédios projetados por Niemayer escondem perigos inimagináveis.

Mas, é melhor começarmos essa história pelo começo, para tentar encontrar algum sentido, se significado pode ter a ressurreição de tantos cadáveres (há um livro de Érico Veríssimo que trata também desse assunto, mas, por enquanto fiquemos com o filme, que está mais fresco na memória dos cinéfilos).

Não votei em Fernando Henrique Cardoso para presidente. No entanto, tinha-lhe certo apreço. E muito respeito. Afinal, era um homem de esquerda, ex-asilado político, professor emérito, intelectual reverenciado aqui e do outro lado do Atlântico. Tê-lo como presidente constituía, até certo ponto, motivo de orgulho, numa democracia incipiente como a nossa e depois dos desastres de governos anteriores (e não estou falando do regime de terror dos militares, não).
Enfim, democrata como sou, admirava FHC. Nos dois primeiros anos de governo. Aí, a coisa desandou: num golpe branco contra a democracia (porque não se pode chamar de outra coisa a não ser golpe o que aconteceu), o senhor Fernando Henrique Cardoso comprometeu seu passado e seu futuro político e o de seu partido – o PSDB – com a vergonhosa compra de um segundo mandato, via reeleição. Quebrou o Brasil duas vezes, para obter seu intento. E teve um dos mais pífios governos da história do Brasil, nos seis anos seguintes.

Reeleição. Um estatuto com o qual não concordo, nem em gênero, nem em número, nem em qualquer outra condição normal de temperatura e pressão. Inadmissível. E não concordo com reeleição nem para inspetor de quarteirão ou síndico de prédio. Ou seja: acho que se poderia ou deveria instituir um mandato de cinco ou seis anos, sem reeleição, para todos os cargos políticos, de vereador a presidente da República.

Por quê?

Para não termos de assistir à volta dos mortos vivos, que não voltam apenas uma ou duas vezes, mas sempre. Ficam lá, os mortos, pelos corredores do Congresso, esperando o momento certo de comer nossos cérebros e voltar ou voltar para comer nossos cérebros. Não descansam nunca, os mortos. Porque, a qualquer descuido, alimentados por paixões que não sabemos de onde vêm, alimentados pelas regras de um jogo sujo da política de reeleição a que nenhum político pode ou consegue escapar, de repente, eles abrem suas tumbas e ressurgem, impolutos, orgulhosos de seus trinta e tantos anos de vida parlamentar.

Isso acontece em Brasília e repercute em todas as mídias. Mas não é só lá, não, que os mortos vivos dão o ar fedorento de suas graças: em todas as câmaras municipais e estaduais, eles reaparecem com menor ou maior denodo, fazendo estragos, comendo cérebros.

E eles têm nomes, sim, os mortos vivos: chamam-se, no âmbito federal, José Sarney, Michel Temer, Collor de Mello, Heráclito Fortes, Renan Calheiros, Marconi Perillo, Mão Santa etc. etc. etc. Basta abrir os jornais, assistir aos noticiários da televisão, ouvir os comentaristas de rádios, que lá estão eles, firmes e fortes, sorridentes de seus podres poderes, famintos de nossos pobres cérebros, em seus ternos bem cortados e com suas gravatas de seda.

Culpados pela existência deles? Nós, pobres descerebrados, que os alimentamos com nossos votos, com nossa apatia, com nossa complacência.

Um horror, um verdadeiro filme de horror! Que não está em cartaz em nenhum cinema, mas em nossas consciências. E o pior: não tem sexo nem rock’n’roll. Só droga!

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